Palácio e Quinta de Valflores

IPA.00006316
Portugal, Lisboa, Loures, União das freguesias de Santa Iria de Azoia, São João da Talha e Bobadela
 
Arquitectura residencial, medieval e renascentista. Palácio erguido numa propriedade rural, de planta quadrangular com dois pisos e um sobrado nos torreões, e capela adossada. Coberturas e volumes escalonados, empenas laterais e torreões rematados por merlões piramidais. Fenestração irregular de vãos rectangulares de verga recta e emolduração simples. "Loggia" a todo o comprimento do alçado principal. Acesso à casa localizado na fachada posterior, antecedida por pátio. Compartimentação interior realizada a partir de dois muros longitudinais e dois transversais, criando uma divisão regular feita de um grande rectângulo e dois quadrados. Este palácio foi construído na tradição do paço régio medieval, de que o Paço de Leiria é modelo, embora transporte elementos renascentistas, especialmente visíveis na decoração da capela e na maior importância conferida à "loggia" (tanto na área que lhe é consagrada, como na decoração). Constitui um dos melhores exemplares da arquitectura residencial do séc. 16 no distrito de Lisboa, acrescido do facto de conservar a sua estrutura original.
Número IPA Antigo: PT031107130016
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta  Casa nobre  Tipo torre

Descrição

Edíficio de planta quadrangular regular de dois 2 pisos, contando ainda com um terceiro restringido à área dos torreões.Tem adossados uma capela, a N., e um anexo de construção posterior, a E. e no prolongamento da fachada N.. As coberturas são diferenciadas e escalonadas, com telhados a duas, três e quatro águas, elementos que acentuam a volumetria do edifício, escalonada ao ritmo da topografia e da organização dos espaços interiores fundamentais. O edifício volta-se a S., com uma fachada dominada pela extenso pano do piso térreo, com fenestração reduzida a duas aberturas, e marcada superiormente pela ampla "loggia" do piso nobre que percorre todo o alçado: é composta por arcos abatidos sobre colunelos toscanos, apoiados num peitoril e interrompidos nos 2 arcos centrais por balaustrada de ferro. O acesso à casa faz-se a N., onde o terreno tem uma cota mais elevada e por isso a fachada posterior se define em alçado pelo piso único do andar nobre com um corpo central delimitado por dois torreões quadrangulares, desenhados sobre a divisão posterior da casa e aqui se criando mais um sobrado; esta fachada abria para um pátio, do qual hoje apenas restam algumas estruturas murárias, em particular a E., onde subsistem um troço de muro e o portal *2 e cujo traçado deixa no exterior o volume da capela. Os alçados laterais apresentam prospecto idêntico, exceptuando os volumes das construções adossadas que lhes conferem a diferenciação: a E., o anexo de planta rectangular com dois pisos, que oculta parte do pano do torreão; a N. e no prolongamento da fachada O., a capela, de planta próxima de um quadrado e levantada ao nível do piso nobre. Nestas fachadas, de perfil escadeado e coroado por merlões piramidais, definem-se claramente os 3 pisos, bem como as características de construção e composição comuns a todo o edifício: alçados de pano único rebocado, com cunhais de aparelho rusticado, fenestração feita por vãos rectangulares de verga recta e emolduração simples. Interior - Mostra uma organização espacial concebida a partir de uma divisão essencial: piso térreo reservado a lojas e pavimentos superiores para habitação. A compartimentação respeita igualmente o modus de habitar da época, traçada simetrica e regularmente num quadrado de 17 m x 20 m: ao centro, a sala rectangular, o espaço mais generoso da casa em área (11.85 m x 6.10 m) e pé direito (sobe acima das câmaras laterais), de disposição longitudinal ligando a entrada à varanda; da cada um dos lados duas câmaras quadrangulares (cerca de 6m x 5.30 m para cada uma), os aposentos reservados, comunicantes internamente, com os do lado S. abertos também para a varanda e os do lado N. um com saída para o pátio *3 e outro com ligação à capela. Os torreões, circunscritos às câmaras a N., aproveitaram-se para um sobrado suplementar. A capela, de pequenas dimensões e carácter privado, tem cobertura em abóbada e lambril de azulejos enxaquetados. No piso térreo repete-se de alguma forma esta compartimentação.

Acessos

Rua de Valflor, junto às escadinhas da fonte, em Via Rara. WGS84 (graus decimais) lat.: 38.848931, long.: -9.084864

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 28/82, DR, 1.ª série, n.º 47 de 26 fevereiro 1982 / ZEP, Portaria, DR, 2.ª série, n.º 213 de 14 setembro 1982, Portaria n.º 129/99, DR, 2.ª série, n.º 35 de 11 fevereiro 1999 (altera os limites da anterior) / Portaria n.º 621/2020, DR, 2.ª série, n.º 203 de 19 outubro 2020

Enquadramento

Urbano. Propriedade implantada a meio da encosta, sobre o vale, dominando a vila e virando-se para o Tejo. A Sul corre o IC10, com um troço paralelo à EN 115, acompanhando para poente o limite da quinta; na zona Este-Nordeste - onde se localiza o acesso à quinta - ergue-se uma urbanização, sendo as demais propriedades envolventes de características rústicas. O palácio encontra-se isolado, sensivelmente a meio da propriedade e em terreno desnivelado. A O. situa-se um aqueduto de arcos quebrados e respectiva conduta subterrânea até à nascente de água.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Época Construção

Séc. 16

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

1537 - Jorge de Barros, feitor de D. João III na Flandres, regressa a Portugal; c. 1550 - este mercador, dos últimos feitores no importante centro cultural que então constituía a Flandres, decide construir um paço rural, na tradição das moradias régias e nobres medievais mas com influência renascentista, consentâneo com o prestígio da anterior nomeação, com a fortuna possuída - "uma das maiores que neste reino se ajuntou que passava de trezentos mil cruzados" (FREIRE: 1927, p. 64) e com o morgadio por ele instituído com cabeça em Valflores; 1558 - na igreja matriz da vila funda o casal Jorge de Barros e D. Filipa de Melo a capela da Soledade ou dos Barros; séc. 16 - a propriedade é herdada por sua filha D. Luísa de Barros, casada com um nobre desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir, vindo posteriormente a passar para um ramo colateral da família, em cuja descendência se conservou por 9 gerações; séc. 19, 2ª metade - segundo Braancamp Freire, D. Pedro Climaco de Alcântara de Barros e Vasconcelos perde a quinta à mão de credores, ficando esta na posse de um brasileiro; c. 1870 - a quinta, e outras propriedades na freguesia, são adquiridas pela família inglesa Reynolds, que passa a arrendá-la; 1899 - Anselmo Braancamp Freire descreve o palácio como estando em regular estado de conservação exterior; séc. 20 - durante esta centúria a propriedade conhece exploração agrícola; 1978, Junho - sob proposta da Comissão Organizadora do Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural e com Despacho do Secretário de Estado da Cultura a quinta de Valflores é classificada como Imóvel de Interesse Público, sendo logo determinado que se procedam a estudos no sentido de definir uma ampla zona especial de protecção; 1979, Outubro - os estudos para a definição da área envolvente a proteger são realizados com a DGEMN, à data apontando-se a necessidade de, além de cuidar da preservação da envolvência, ser absolutamente urgente obviar ao péssimo estado do imóvel, sob pena de, inclusive, vir a desaparecer totalmente o que resta da cobertura mudéjar da sala principal; 1979, Dezembro - a SEC (DG do Património Cultural), através da Câmara Municipal de Loures, notifica o proprietário do imóvel; 1980, Fevereiro - o edifício conhece uma vistoria dos técnicos da DGEMN e da CMLoures, da qual surge um plano de intervenção: consolidação estrutural, reconstrução de coberturas e restauro dos tectos primitivos (ocultos por outros mais recentes); do tecto mudéjar já nada restava; 1982 - é publicada a Zona Especial de Protecção; 1997 - um Despacho do Ministro da Cultura de 16 Setembro fixa nova ZEP, vendo-se a zona subtraída da área non-aedificandi e o seu perímetro parcialmente reduzido; 1998 - a S. é rasgado o IC10, cujo traçado obriga a amputar parte da quinta que se estendia até à EN115; 2000 - a propriedade deixou de ser objecto de exploração económica e o estado de ruína do seu edifício, por abandono progressivo, continua a acentuar-se; 2001 - pedido de Reclassificação da Quinta de Valflores como Monumento Nacional pela CMLoures; janeiro - abatimento de colunelo, sendo este recolhido e transportado pela Associação de Defesa do Património Ambiental e Cultural de Santa Iria de Azóia; elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN; 24 setembro - derrocada parcial da vasta arcada do 2º piso da fachada principal, e que se encontra recolhida e à guarda do proprietário; 2002, 19 fevereiro - alteração da designação e especificação da localização do edifício, pelo Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª série-B, n.º 42; 2005 - está em curso processo de aquisição do imóvel pela CMLoures; 2006 - é propriedade municipal; 2009, 23 maio - realização do colóquio "Quinta de Vale de Flores, conhcer para salvaguardar, no auditório do Museu de Cerâmica de Sacavém, pela ADPAC (Associação de Defesa do Património Ambiental e Cultural de Santa Iria de Azóia); 2016 - o palácio Valflores encontra-se em risco de iminente derrocada, sendo mesmo considerado um dos catorze monumentos mais ameaçados da Europa; 2016, 16 março - o Palácio Valflores é um dos candidatos à lista dos sete monumentos mais ameaçados da Europa, da Europa Nostra, principal organização europeia do património; Câmara Municipal apresenta candidatura "Reabilitação e Qualificação do Património Cultural Quinta e Palácio de Valflores" ao Programa Operaciona Regional de Lisboa; 2018- início das obras; 2020 -conclusão da 1ª fase

Dados Técnicos

Paredes autoportantes, em alvenaria de pedra e cal, aparelho rusticado nos cunhais e cobertura de telha cerâmica sobre estrutura de madeira.

Materiais

Alvenaria rebocada e cantaria. Calcário, argamassa, madeira e azulejos.

Bibliografia

FREIRE, Anselmo Braancamp - Brasões da Sala de Sintra. Coimbra, 1927, vol. II; MOUTA, Oliveira, BARROS, Vasconcelos dos - Os Solares de Santa Iria e das Barras. Porto, 1955; AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa, 1963; AZEVEDO, Carlos de - Solares Portugueses. Lisboa, 1969; STOOP, Anne de - Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa. Barcelos, 1986; SILVA, José Custódio Vieira da - Paços Medievais Portugueses, Lisboa, 1995; CALDAS, João Vieira - A Casa Rural Nos Arredores de Lisboa no Séc.18 (tese). Lisboa, 1987; "Ministério da Cultura e Câmara de Loures querem recuperar Palácio Valflores", Público, 10 fevereiro de 2016.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco

Intervenção Realizada

Construtora Vila Franca: 2003, Março - escoramento do que resta da loggia; Piso Intermédio - escoramento da 1.ª sala e Piso Térreo - escoramento de toda a zona por baixo da Loggia; Capela - tapado o buraco que aí se encontrava; Limpeza interior

Observações

*1 - DOF: Quinta de Valflores, na Rua de Valflor, junto às escadinhas da fonte, em Via Rara, freguesia de Santa Iria de Azoia, município de Loures, distrito de Lisboa. *2 - o portão de acesso ao terreiro tinha pedra de armas dos Barros de Melos na padieira, mas já desapareceu. *3 - muito provavelmente umas escavações arqueológicas realizadas nos terrenos a N. e no espaço imediatamente fronteiro à fachada posterior poriam a descoberto outras estruturas necessariamente aqui existentes ao tempo da construção do palácio: na verdade, além do muro delimitador do pátio, qualquer outra estrutura deveria aqui existir, dado ser notório o edifício se encontrar incompleto, nomeadamente pela ausência de um espaço vestibular. Qualquer intervenção que venha a ser feita neste imóvel, deverá incluir, pelo menos, uma prospecção arqueológica, face ao interesse que este palácio comporta para o estudo da arquitectural residencial nobre no séc. 16.

Autor e Data

Paula Noé 1991 / Filomena Bandeira 2000

Actualização

Helena Rodrigues 2001
 
 
 
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