Igreja Paroquial de Santa Maria de Celorico da Beira / Igreja de Santa Maria

IPA.00006545
Portugal, Guarda, Celorico da Beira, União das freguesias de Celorico (São Pedro e Santa Maria) e Vila Boa do Mondego
 
Igreja paroquial de estrutura medieval, com sucessivas reconstruções, mantendo alguns elementos da primitiva edificação românica, nomeadamente na estrutura e cachorrada simples que ostenta no lado direito. A estrutura exterior não coincide com a interior, a primeira com volumes indistintos, sendo apenas visível no interior, as reais dimensões da capela-mor e a existência de sacristia. é de planta retangular composta por nave e capela-mor. Fachada principal barroca, harmónica, em empena recortada com cornija borromínica, e vãos rasgados em eixo composto por portal e janela, ambos em arco abatido. A construção é essencialmente maneirista, visível nos vãos, decoração da porta lateral esquerda, com colunas jónicas e remate em frontão triangular e no tipo de cobertura e gárgulas de canhão existentes nas torres sineiras, com remate em coruchéu piramidal. Fachadas laterais rasgadas por portas travessas e janelas em capialço, de perfil maneirista. Interior com cobertura em falsas abóbadas de berço de madeira com caixotões pintados do estilo barroco nacional, este também visível na talha que reveste o arco triunfal, com coro-alto maneirista e retábulos de talha dourada, os colaterais e mor tardo-barrocos e os laterais de pefil neoclássico. Púlpito no lado da Epístola, de madeira torneada com aplicações de bronze. Nave e capela-mor revestidas a azulejo padrão seiscentista azul e branco, de padrão camélia, P-603, com a barra B-45. Caixotões da nave e capela-mor parecem ser pretencentes de escolas diferentes, sendo os da nave mais bem conseguidos do ponto de vista plástico.
Número IPA Antigo: PT020903160009
 
Registo visualizado 1818 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular simples com nave, capela-mor, sacristia e anexo adossado ao lado direito e duas torres sineiras quadrangulares, de volumes simples com disposição horizontal e coberturas diferenciadas a duas águas. Fachadas em cantaria aparente com aparelho isódomo, percorridas por embasamento, circunscritas por cunhais apilastrados, firmados por pináculos e remates em cornija. Fachada principal voltada a O., harmónica, com portal em arco abatido com moldura recortada e estrias escalonadas, formando falso frontão rematado por cornija curva; neste, uma cartela com a data "1796". O portal é encimado por janela em arco abatido com moldura recortada. formando falso frontão decorado com concheados, encimado por cornija curva. Remate em empena recortada com fragmentos de frontão em disposição invertida, coroado por cornija borromínica e cruz latina com hastes floreadas sobre plinto volutado e hastes floreadas. Em plano ligeiramente recuado, as torres sineiras com dois registos, divididos por cornija, o inferior cego e o superior com quatro sineiras de volta perfeita, uma em cada face, rematadas por friso e cornija e cobertura em coruchéu piramidal com pináculos de bola e gárgulas de canhão nos ângulos. Fachada lateral esquerda virada a N., tendo, no volume da nave, portal de verga recta e moldura de meia-cana, ladeado por duas colunas jónicas com bastonetes no terço inferior, encimado por frontão triangular. Superiormente, duas frestas em capialço e remate em cachorrada. No volume da capela-mor. duas frestas em capialço. A fachada lateral, virada a S., é marcada por portal de verga recta e quatro frestas em capialço, uma delas desalinhada. No volume da capela-mor, lápide com inscrição. Fachada posterior com embasamento formando três degraus, remate em empena e janela moldurada a iluminar a sacristia. INTERIOR composto por nave, capela-mor mais estreita e baixa com sacristia no lado direito, com as paredes revestidas a azulejo padrão azul e branco, coberturas em falsa abóbada de berço abatido de madeira, com caixotões entalhados e pintados, assentes em cornija com mísulas equidistantes, a da nave com tirantes de metal; pavimento de madeira com corredor central em lajeado de granito na nave e com lajes na capela-mor. Coro-alto de cantaria, sobre arco abatido, com guarda balaustrada; no sub-coro, coberto por abóbada de berço, junto à porta principal, laje com as armas dos Pereira e Cunha e, lateralmente, duas capelas com acesso por arco de volta perfeita e cobertas com abóbada de berço de cantaria; na frontaria do coro existem duas portas em arco pleno encimadas por nichos. Quatro capelas retabulares confrontantes inserem-se nas paredes laterais, envoltas por arco em cantaria de volta perfeita com moldura em meia-cana, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora da Conceição (Evangelho), Santo Condestável e Nossa Senhora de Fátima (Epístola). No lado do Evangelho, púlpito quadrangular com base de cantaria, guarda de madeira torneada e acesso por estreita porta de verga recta moldurada. Forma presbitério alteado e protegido por teia, onde se inscrevem dois retábulos de talha dourada, insertos em arcos de volta perfeita, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus e à Virgem, que ladeiam o arco triunfal de volta perfeita, encimado por estrutura de talha dourada, composta por duas arquivoltas unidas no sentido do raio. Capela-mor com retábulo de corpo recto e com cinco eixos, divididos por colunas de fuste liso, com o terço inferior marcado e capitéis de inspiração coríntia. No eixo central, enorme tribuna com a imagem do orago, surgindo, nos laterais, mísulas com imaginária. Remate em duplo frontão interrompido, com espaldar ladeado por pilastras e remate em cornija encurvada; no sotobanco, duas portas de acesso à tribuna e altar paralelepipédico, sobre o qual assente o sacrário em forma de templete, com cobertura em cúpula. No lado da Epístola, porta de acesso à sacristia.

Acessos

Largo 05 de Outubro

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto, nº 43 073, DG, 1ª série, n.º 162 de 14 julho 1960

Enquadramento

Urbano, isolado, ladeado por duas vias estreitas e com fachada principal virada para um largo. Situado em terreno desnivelado, sobranceiro ao Castelo (v. PT020903160001), Torre do Relógio (v. PT020903160080) e fronteiro à Antiga Casa da Câmara e actual Solar do Queijo da Serra (v. PT020903160051).

Descrição Complementar

Na fachada lateral direita a seguinte inscrição: "A CAPELA MOR DEST / A IGREJA E SACHR / ISTIA SE FEZ SEN / DO PRIO ALVAR / RO MENDEZ DE FI / GUERO / 1614". No arco do coro, a imagem de Nossa Senhora da Guia. Na nave, 68 caixotões, representando vários santos, Apóstolos, Arcanjos e nas fiadas da base o Calvário, desde o "Açoitamento de Cristo" à "Deposição no túmulo". Na capela-mor, surgem 42 caixotões com santos mártires, Cristo Salvador do Mundo e Nossa Senhora da Assunção, havendo, na primeira fiada junto ao arco triunfal santos fundadores de ordens religiosas. Os retábulos laterais da nave são todos iguais, de corpo recto e um só eixo, composto por mísula central e duas colunas coríntias, marcada sensivelmente a meio, assentes em plintos decorados com motivos fitomórficos, e rematadas por urnas. Remate em frontão semicircular com decoração raiada e sobreposto por friso de elementos fitomórficos. Altar em forma de urna decorado com festões. Em cada um deles, surge a imagem novecentista do respectivo orago. Retábulos colaterais são idênticos, de planta recta e um só eixo, composto por mísula, circunscrita por colunas de fuste liso com o terço marcado por festões e capitéis de inspiração coríntia e formando entasis. Remate em espaldar curvo com cornija e decoração fitomórfica, tendo, sobre as colunas, enrolamentos e acantos. Frontal em forma de urna com elementos fitomórficos. Duas lápides na nave, uma com a data "1629".

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese da Guarda)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 13 / 14 (conjetural) / 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Isidoro de Faria (atr.).

Cronologia

Época árabe - provável fundação de uma mesquita (M.R.Oliveira); Época medieval - dedicação do templo a Santa Maria, com a vinda da imagem da ermida de Nossa Senhora do Castelo, que ainda se venerava no séc. 18); séc. 13 - doação da igreja ao Bispo da Guarda por D. Afonso III; 1260, 16 julho - no documento que divide as paróquias entre o bispado da Guarda e o Cabido da Egitânea, a igreja surge como pertencendo ao Bispado; 1320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a igreja taxada em 30 libras, a parte do vigário e em 50 a dos raçoeiros; integra o termo de Celorico da Beira e o bispado da Guarda; 1321 - é colegiada do padroado real, com 300$000 de rendimento, recebendo os seis beneficiados 200$000 e o arcedíago 500$000; 1323 - era arcedíago Domingos João, seguindo-se Fernão Miguel; séc. 16 - Diogo Gonçalves Cabral foi sepultado na capela-mor; séc. 16 / 17 - colegiada do Padroado Real, tendo um Prior e seis Beneficiados (quatro da apresentação alternada do Papa e do Ordinário da paróquia de Santa Maria e dois da apresentação do Padroado Real, da paróquia de Santo André, extinta no reinado de João III); 1577 - primeiro registo de óbito; 1590 - foi sepultado na capela-mor Nuno Pereira Cabral, da Casa de Belmonte; 1593 - primeiro registo de baptismo; 1594 - primeiro registo de casamento; 1614 - construção da actual capela-mor, sacristia, pórtico lateral N.(?) e tectos de caixotões, pintados provavelmente por Isidoro de Faria, por iniciativa do Padre Álvaro Mendez de Figueiredo, obras que implicaram o desaparecimento e deslocação de algumas sepulturas para a sacristia e para as escadas de acesso ao coro; 1629 - data de uma lápide na nave; séc. 18 - tinha uma Capela de Nossa Senhora da Anunciação, administrada por D. Joana Bernarda; tinha, ainda, as capelas de Nossa Senhora da Encarnação, Nossa Senhora da Consolação, Nossa Senhora-a-Nova, São Domingos, Santo João, Santo António e Santa Luzia; 1700 - execução dos azulejos que revestem totalmente o interior do imóvel; 1712 - o Padre Carvalho da Costa refere que constituía uma colegiada com o rendimento de 200$000 e a paróquia tinha 177 vizinhos; 1730 - num rol, são referidas as seguintes alfaias e jóias: cálice de prata, lampião de prata, duas coroas de prata lavrada, uma jóia de filigranas de ouro e esmaltes, uma jóia de filigranas de ouro e cinco esmeraldas, dois cordões de ouro e uma cruz grande de prata lavrada; 1738 - testamento de Ana Caetana, legando bens à Irmandade de Nossa Senhora do Castelo; do padroado real e com colegiada com seis beneficiados com 200$000 réis cada, 500$000 para o arcedíago e 300$000 para o prior; 1765, 25 Julho - indulgência por Pio VI; 1781 - faziam parte do colégio: Padre João Mendes de Almeida da Lageosa, Padre Manuel dos Santos Coelho, da Sé da Guarda, Padre José Teixeira, de Braga, Padre Luís António da Silva, de Macieira, Padre Domingos Nunes e Padre José da Fonseca e Castro; 1796 - ampliação e construção do coro-alto, reedificação da fachada principal e torres, encontrando-se a data de 1796 sobre a porta principal; de notar que o aparelho da torre S. é mais irregular que o da torre N.; execução das estruturas retabulares; tinha sete altares, dedicados à padroeira, Coração de Jesus, Senhora de Fátima, São Sebastião, Beato Nuno Álvares, São José e Coração de Maria; 1813 a 1821 - funcionou como Hospital de Sangue das tropas anglo-lusas, passando os actos paroquiais a ser realizados na Capela de S. João e na Capela dos Metelos; saque do espólio móvel; 1939 - M. R. Oliveira referia que se encontrava na sacristia uma tábua pintada representando a "Circuncisão", atribuída a Gaspar Dias, proveniente do antigo altar dedicado ao Menino Jesus existia, mas cujo paradeiro é actualmente desconhecido; em 1980, A. V. Rodrigues menciona já o seu desaparecimento; 1957 - processo de classificação do imóvel; 1991 - a DGEMN efectua uma estimativa de custos para reparação de coberturas, consolidação das torres e azulejos; 1992, 6 Julho - solicitação para a reconstrução da cobertura da capela-mor.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes; estrutura mista; abóbada de berço, tecto de caixotões, tecto plano.

Materiais

Granito na estrutura, cunhais, cornijas, modinaturas, pináculos, cruzes, gárgulas, cachorrada, pavimentos e coro-alto; madeira nas portas, coberturas, pavimento da nave, retábulos, púlpito, imaginária; azulejo; telha de aba e canudo.

Bibliografia

SILVA, Luiz Duarte Villela e, Compêndio Histórico da Vila de Celorico da Beira, Lisboa, 1808; COSTA, P. António Carvalho da, Corografia Portugueza..., 2.ª ed., tomo II, Braga, 1868 [1.ª ed. de 1712]; OLIVEIRA, Manuel Ramos de, Celorico da Beira e o seu Concelho, Celorico da Beira, 1939; OLIVEIRA, Manuel Ramos de, A Igreja de Santa Maria de Celorico, in Altitude, Guarda, 1943; OLIVEIRA, Manuel Ramos de, Igrejas e Capelas de Celorico, in Beira Alta, Viseu, 1956; BIGOTTE, José Quelhas, O Culto de Nª Sª na Diocese da Guarda, Lisboa, 1948; RODRIGUES, Adriano Vasco, Celorico da Beira e Linhares, Celorico da Beira, 1979; GOMES, J. Pinharanda, História da Diocese da Guarda, Braga, 1981; Inventário Colectivo dos Registos Paroquiais, vol. I, Lisboa, 1993; SIMÕES, J.M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no século XVII, 2 vols., Lisboa, 1997.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

1840 - restauro dos tectos de caixotões e respectiva pintura pelo pintor celoricence Francisco Madeira; 1936 - restauro por iniciativa do Pároco Abílio Gomes Dias; DGEMN: 1987 - consolidação do paramento exterior do alçado N. da capela-mor, com apeamento do mesmo e recolocação dos silhares, com enchimento em betão ciclópico; execução do beiral à portuguesa sobre a cornija de pedra; 1991 - substituição da porta principal ( não executada?); IPPC: 1992 / 1993 - conservação da talha dourada e tectos de caixotões, o da capela-mor em Braga e o da nave em Lisboa; reconstrução das coberturas, com regularização do coroamento da parede e feitura de frechal de madeira; reparação das paredes interiores; 1994 - beneficiação e consolidação de azulejos; 1995 - conclusão das obras de beneficiação.

Observações

Autor e Data

Margarida Conceição 1992 / Paula Figueiredo 2003

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login