Núcleo urbano da vila da Ribeira Grande / Cidade Velha / Cidade da Ribeira Grande
| IPA.00007336 |
Cabo Verde, Ilha Santiago, Ribeira Grande de Santiago, Ribeira Grande de Santiago |
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Núcleo urbano sede administrativa. Vila situada em costa marítima. Vila de jurisdição régia portuguesa, sede de capitania-donataria, depois elevada a cidade sede de bispado, com fortaleza moderna. Núcleo urbano de raiz quinhentista definido pelos eixos estruturantes locais das diferentes zonas da cidade e pela padronização do loteamento. Na zona do Largo do Pelourinho destaca-se o espaço do próprio largo, cuja configuração é de um polígono trapezoidal irregular, e os vários quarteirões resultantes do eixo formado pelas Ruas do Porto, do Calhau e da Misericórdia e os becos da Confraria e da Misericórdia. Todos os quarteirões desta área são irregulares, assim como a padronização dos lotes no seu interior. No Bairro de São Pedro o tecido urbano já apresenta alguma tendência de regularidade, de que são exemplo os trajectos lineares das Ruas da Banana e da Carreira e os quarteirões duplos orientados para as Ruas da Horta Velha e Direita de São Pedro, em que o padrão do lote é bastante regular. A área de S. Brás é rasgada pela Rua Direita da Cidade, criando duas zonas distintas, ambas com malha pouco regular, o que se deve mais à irregularidade do terreno do que à intencionalidade do desenho. Por fim, na zona de formação mais recente, São Sebastião, é onde mais se evidenciam os elementos reguladores do tecido urbano: a Sé e a Rua Direita ao Forte. A Rua Direita da Cidade é ritmicamente interceptada por travessas, de que resultaram quarteirões regulares e lotes padronizados. O espaço construído é dominado pela casa de um piso, de planta rectangular com o lado maior orientado para a rua, sem compartimentação interna ou, por vezes, incluindo apenas um corredor e dois compartimentos laterais. A composição da fachada principal restringe-se à abertura de uma porta, quase sempre centrada, ladeada por uma ou das janelas. No alçado tardoz abre-se uma porta de acesso ao quintal. Com frequência, na frente da casa, organiza-se um pequeno pátio, que pode ser murado ou assentar numa plataforma sobreelevada, surgindo por vezes somente um banco corrido ao longo da parede, elementos estes que revelam uma zona de transição entre a vivência privada ou pública do espaço urbano. Algumas construções recentes em blocos de cimento reproduzem o tipo de casa tradicional de um piso, tanto em planta, como em alçado. Primeira fundação de uma cidade portuguesa no mundo africano. A partir da detecção de alguns edifícios e ruínas ainda remanescentes, como a Igreja da Nossa Senhora do Rosário (1495), Igreja da Misericórdia (c. 1556), o Palácio Episcopal (c. 1574), a Sé (c. 1585) e a Fortaleza de São Filipe (1587-1593), podemos inferir que já no séc. 16 a cidade tinha o seu espaço urbano consolidado, assim como o seu sistema defensivo. A primeira etapa da expansão urbana corresponde ao período que se estende da instalação do núcleo inicial (c. 1462) aos finais do séc. 15, época em que o burgo já se encontrava plenamente estabelecido. A fase seguinte compreende aproximadamente a primeira metade do séc. 16, onde se nota uma grande ampliação do parque habitacional, em que a Ribeira Grande alberga a sede do bispado e se torna capital das ilhas. O período decorrente entre a segunda metade do séc. 16 até meados do 17 corresponde à época de maior crescimento e investimento no espaço urbano. Foi nessa altura que se realizaram a maior parte das obras (Igreja da Misericórdia, Sé, Palácio Episcopal e ainda o reforço do sistema defensivo). Finalmente, a segunda metade do séc. 17 e 18 é caracterizada pela entrada da cidade num processo de decadência, que culminou com o seu abandono em detrimento da nova capital. |
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Número IPA Antigo: CV910602000001 |
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Registo visualizado 6320 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Conjunto urbano Aglomerado urbano Cidade Cidade moderna Cidade fortificada Régia (D. João III)
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Descrição
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A cidade assentou as suas fundações segundo várias plataformas estruturantes, constituindo a primeira delas a do largo central, implantada à cota de 5 metros acima do nível do mar, ligando o núcleo ao ancoradouro. Nesta zona quatrocentista destacavam-se os edifícios da Igreja e do Hospital da Misericórdia, da Casa da Câmara e Cadeia (já desaparecidos) e ainda o Pelourinho (v. CV910602000008). A segunda plataforma dá continuidade à primeira e encontra-se situada entre as cotas de 5 e 10 metros. Formada durante o séc. 16, esta zona abrange os primeiros quarteirões contíguos ao Largo, desenvolvidos tanto para o NE., quanto para O.. Nas suas proximidades situam-se mais a N., para lá da cota de 10 metros, as ruínas do Convento de São Francisco e, a NO., a plataforma de São Brás, a última parte desta zona da cidade a consolidar-se, onde viriam a instalar-se os jesuítas no adentrar do séc. 17. Dada a coesão e homogeneidade apresentada pelo conjunto até aqui descrito, chamou-se esta área de "baixa". O segundo grupo de plataformas, identificado como a zona "alta", encontra-se situado entre as cotas de 20 e 100 metros a SE e a N.. Nela destaca-se o Bairro de S. Sebastião, dominado pelas ruínas da Sé e onde se encontrava o Palácio Episcopal. Constituiu-se como zona de expansão da cidade e formou-se a partir das obras da Catedral que tiveram lugar nos finais de Quinhentos. Na última plataforma, situada acima dos 100 metros, encontra-se o reduto defensivo da cidade, o Forte de São Filipe também quinhentista. A zona "baixa", localizada no interior do vale, contém o corpo principal do burgo. Estruturou-se segundo dois eixos principais: o eixo SO./NE. que atravessa a cidade no sentido longitudinal e o eixo NO./SE. que a atravessa no sentido transversal. O eixo longitudinal desenvolveu-se a partir da baía e direcciona-se para o interior do vale, ligando o porto à nascente da ribeira, seguindo sempre a linha de base do vale. No seu trajecto, acompanhava o eixo da Rua Direita de São Pedro (hoje truncada) dividindo a cidade em duas partes: a margem esquerda, tendencialmente habitacional, e a margem direita, onde se encontravam instaladas as principais funções urbanas da cidade, o comércio e a administração. O eixo transversal que nasce no Largo do Pelourinho, junto ao Forte do Presídio, nas cercanias do local onde deve ter sido o ancoradouro, ruma para NE., contornando sempre a linha da costa em direcção ao Forte de São Lourenço, do qual ainda restam algumas ruínas. No seu trajecto, sobrepõe-se à Rua Direita da Cidade, que atravessa a zona habitacional de São Brás. A cidade "alta", implantada no cimo de um promontório, estruturou-se segundo um só eixo orientado para SO./NE. Este eixo, a Rua Direita ao Forte, unia virtualmente a Sé à Fortaleza de São Filipe. Esta zona terá sido das últimas a consolidar-se. Os eixos representados pelas três ruas "direitas", localizadas respectivamente nas zonas/bairros de São Pedro, São Brás e São Sebastião, são os principais elementos estruturadores da cidade. Outro elemento regulador do tecido urbano é a padronização do lote, que, não obstante pouco perceptível, se acha presente em praticamente todas as zonas da cidade. A configuração mais comum é de 30 x 90 palmos, embora também apareçam de 45 x 90 ou 60 x 90 palmos. O Largo do Pelourinho, que aparenta ter sido o rossio inicial do burgo, é a primeira área de formação urbana, uma zona que se estruturou a partir do porto, sendo formada pelas ruas do Porto, do Calhau e da Misericórdia e pelos becos que as atravessam. A zona das Ruas da Carreira e da Banana, a O. do Largo do Pelourinho, terá sido a segunda a formar-se. É aí que se encontra a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, quatrocentista. Juntamente com as Ruas Direita de São Pedro, da Horta Velha e dos Conventos, situadas mais a N., compunham o bairro de São Pedro. Todo o conjunto era protegido, por um lado, pelas barreiras naturais das montanhas circundantes e, por outro, por um complexo sistema de defesa que tentou aproveitar ao máximo as condições oferecidas pelo relevo local. Este sistema, composto inicialmente pelos baluartes da Vigia ou Presídio (onde se localizava um dos acessos à cidade, v. CV910602000010), pelos Fortes de São Veríssimo (v. CV910602000011) e de São Brás (v. CV910602000014) e pela muralha da cidade, foi reformulado no final do séc. 16. Para além das remodelações efectuadas nos redutos existentes, alargou-se o perímetro de defesa com a construção de novos fortes e de uma série de postos de vigia, colocados em lugares estrategicamente escolhidos para reforçar o sistema defensivo da cidade e do mar. Os Fortes de Santo António (v. CV910602000012), de São João dos Cavaleiros, de São Lourenço (v. CV910602000013), a Muralha do Mar e a Fortaleza de São Filipe (v. CV910602000009) derivam deste contexto. Para além do sistema defensivo, o rosário de igrejas e capelas, criteriosamente implantado, marcava a paisagem urbana. Destacamos a Sé (v. CV910602000002), as igrejas da Misericórdia (v. CV910602000005), de Nossa Senhora do Rosário (v. CV910602000003) e de Nossa Senhora da Conceição (v. CV910201000019) e ainda as capelas de São Roque (v. CV910602000007), Monte Alverne (v. CV910602000016), Santa Luzia (v. CV910602000017) e S. Pedro (v. CV910602000018), todas elas desaparecidas, restando apenas as ruínas da Sé, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e a Capela de São Roque. É importante ainda realçar alguns edifícios que faziam parte deste conjunto urbano, como o Convento de S. Francisco (v. CV910602000004), o Palácio Episcopal e o Hospital da Misericórdia, estes completamente tragados pelo tempo. Da arquitectura civil, da qual quase nada restou, subsistem apenas, no Bairro de São Sebastião, algumas casas arruinadas, provavelmente do séc. 17 ou 18. Sabe-se, por algumas descrições, que as casas do Largo do Pelourinho eram de dois pisos: o térreo, dedicado ao comércio e o piso superior destinado à habitação do proprietário. Nas zonas mais nobres da cidade, como o Bairro de S. Pedro, ao longo da Rua da Carreira, as casas eram de pedra e cal e os lotes tinham sempre uma área cultivável. Existiam áreas verdes em todo o perímetro urbano, como comprova a composição dos lotes em que somente 1/3 era destinado à construção, reservando-se os restantes 2/3 para o cultivo de hortaliças ou árvores de fruto. |
Acessos
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Estrada principal procedente da cidade da Praia |
Protecção
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Património Mundial - UNESCO, 2009 |
Enquadramento
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Situada a cerca de 12 Km a O. da actual capital, Praia, a antiga cidade foi implantada num vale profundo rodeado por altas montanhas escarpadas. O vale é atravessado por duas ribeiras que percorrem o núcleo urbano e que acabam por unir-se, formando um só curso de água. Foram essas ribeiras, que nascem no sítio da Maria Parda, que criaram a paisagem luxuriante do interior do vale e que deram o nome ao local. Da fixação inicial sobre uma cota relativamente baixa acima do nível do mar, junto à baía, a cidade cresceu e desenvolveu-se em duas direcções: para NE., ocupando praticamente todo o interior do vale e para NO., acompanhando a linha da costa. Desse processo evolutivo resultou uma área de implantação de conjunto de cerca de 50 ha, completamente envolta pelas montanhas, tendo como únicos acessos o porto e as antigas portas da cidade situadas a NO. e a SE.. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Não aplicável |
Utilização Actual
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Não aplicável |
Propriedade
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Não aplicável |
Afectação
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Não aplicável |
Época Construção
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Séc. 15 / 16 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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João Nunes (1586); José Coutinho (1696); José Soares da Rocha (1698); José Gomes Correia (1710); Cristovão Martins Figueira (1716); Simão dos Santos (1723); Manuel Germano da Mata (1765); António José de Santana (1766); António Carlos Andreas (1766); António Félix do Amaral (1769). |
Cronologia
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1460 - Descoberta (oficial) das ilhas orientais do arquipélago, por António da Nóli. Doação, por D. Afonso V, ao seu irmão D. Fernando; 1462 - A António da Nóli é doada a capitania de Santiago, reduzindo-se depois a sua área, com a autonomia da Ribeira Grande (Sul da Ilha). Início do povoamento de Santiago e lançamento das primeiras fundações da Ribeira Grande; 1466 - concessão aos "moradores" de Santiago, a título de incentivo e privilégio, do direito de tratar e resgatar escravos na costa ocidental africana. Dois Franciscanos fixam-se na ilha, erigindo para a sua habitação "uma casa de ramos e terra [...] e junto a ela um oratório dos mesmos materiais" (BARCELLOS, 1899); c.1466 /1470 - construção da Igreja do Espírito Santo tornada depois Capela de Nossa Senhora da Conceição; 1472 - limitação dos privilégios outorgados, impondo a fixação na terra aos que quisessem resgatar a partir de Santiago; 1495 - edificação da igreja de Nossa Senhora do Rosário, começando por ser uma pequena capela de estilo manuelino;1497 - doação da capitania da Ribeira Grande a Dona Branca de Aguiar, filha de António da Nóli, para ser capitão seu marido Jorge Correia. Ordem régia para a edificação de um hospital; 1512 - Ribeira Grande já possuía Casa da Câmara; 1513 - o burgo contava com cerca de 114 vizinhos; 1533 - criação da diocese de Santiago. A vila, elevada a sede do Bispado, passa a cidade e capital das Ilhas e da Guiné; 1536 - doação da capitania a João Correia de Sousa, filho de Jorge Correia; 1542 -Ataques de corsários franceses; apelo para que se torne o porto da Ribeira Grande mais seguro. Edificação da Capela de São Brás; 1544 - António Correia de Sousa é capitão; 1549 -"A terra está muito rica de escravos da Guiné" e o hospital que ali existe "tem os dinheiros muito sonegados" (BARCELLOS, 1899); 1550 - há na cidade "boas casas de pedra e cal habitadas por infinitos cavalheiros portugueses e castelhanos", comportando mais de 500 fogos (piloto anónimo português); 1552 - o Cabido e o Povo reclamam a construção de uma igreja. Alusão a dilúvio que provocou grande destruição na cidade; 1556 / 1558 - D. Frei Francisco da Cruz, terceiro bispo de Cabo Verde, dá início à construção da Igreja da Misericórdia e da Sé. Cónegos locais, sob o pretexto "de que o templo se situava fora do corpo da cidade", mandam embargar as obras da Sé (PEREIRA, 1986); 1564 - alvará régio estabelecendo que, durante três anos, todas as penas em dinheiro pagas pelos moradores de Santiago e do Fogo sejam destinadas às obras da Sé. Morte do último donatário da Ribeira Grande (João Correia de Sousa) e reversão da capitania para a Coroa; 1570 - D. Sebastião determina a construção do Seminário que, aparentemente, não chegou a ser construído; ant. 1574 - o Bispo D. Frei Francisco da Cruz manda construir o Palácio Episcopal; 1578 - o pirata inglês Francis Drake aproxima-se do porto, dando caça a seis navios portugueses; 1582 - Carta de Diego Florez de Valdez a D. Filipe I sugerindo a melhoria da defesa da ilha e a mudança do porto principal para a vila da Praia. A cidade conta 508 vizinhos, "5700 escravos de confissão, afora os menores" e para a sua defesa dispõe de três baluartes de vigia: o da Vigia, o da Ribeira e o de São Brás (BRÁSIO, 1958); 1583 - desembarque de Emanuel Serradas e partidários de D. António Prior do Crato na vila da Praia e assalto à Ribeira Grande. A terra é "saqueada de toda a riqueza que tinha" (BRÁSIO, 1958); 1585 - corsários ingleses, comandados por Francis Drake saqueiam a cidade. A população e as autoridades fogem e refugiam-se nos montes (BRÁSIO, 1958); 1586 - apelo ao rei para que socorra a cidade. Torna-se necessário fortalecer o porto da Ribeira Grande, levantando-se os baluartes "que na entrada dela estavam", fazendo-se outro no porto de São Martinho e um forte no lugar da Achada, "que está mais alto que a Cidade e é o caminho que vai deste porto para ela". Pedido para que não se mude a capital para outro sítio. João Nunes assiste nas obras da fortaleza; c. 1587 - início da edificação da Fortaleza Real de São Filipe. Instituição do Governo Geral das Ilhas e do Distrito de Guiné com sede na Ribeira Grande; 1589 - concessão régia de 100 000 réis ao bispo D. Frei Pedro Brandão, para reparação da residência episcopal; 1592 - suspensão das obras da Sé por se duvidar da boa escolha da localização, pela despesa requerida devido às suas grandes dimensões, pelo incómodo que o povo terá em ir de longe até ela e pela possibilidade dos corsários aí se fortificarem; 1593 - concluída a edificação da fortaleza de São Filipe; 1603 - ordem para que sejam retomadas das obras da Sé; 1604 - chegada dos jesuítas à Ribeira Grande; 1606 - possui a cidade cerca de 500 ou 600 vizinhos, mas a maior parte deles passa a viver em "quintas que têm pela ilha". Alusão às tentativas frustradas de mudança da capital para a vila da Praia; c. 1606 - há na cidade "uma fortaleza de bom tamanho, e bastante provida, e fabricada de boas casas de pedra e cal"; 1608 - alvará para se fundar uma Casa Professa de Religiosos da Companhia de Jesus; 1614 - o governador Nicolau de Castilho dá conta de que as fortalezas e os baluartes se acham arruinados; 1619 - carta do governador, D. Francisco de Moura, a D. Filipe II acusando estar a fortaleza muito arruinada, por ser "de pedra e barro" e necessitar de grandes reparos. Informação sobre a reforma que fez num "lanço de muro da banda do mar"; 1620 - alvará de concessão de 100 cruzados por ano à Santa Casa da Misericórdia. Reclama a Câmara o cumprimento da ordem real pela qual ficavam destinados 600.000 réis para as obras da fortificação da ilha e o envio do arquitecto que nunca chegara a ir. Ordem para que o Bispo dê continuidade às obras da Sé; c.1621 - há na cidade "até 200 casas de Portugueses mercadores", uma residência dos Padres da Companhia, Casa da Misericórdia e Hospital; 1626 -Descrição da Ribeira Grande referindo os três bairros (São Sebastião, São Brás e São Pedro) e as ruas que há "pelo meio deles" (a de São Pedro que vai até o porto e a rua da Carreira e a da Banana, "onde a gente desta cidade se acomoda medianamente"). Relação dos bens imóveis e propriedades dos Padres da Companhia com a sua respectiva localização: "casas em que vivem com uma ermida [...] sitas sobre o mar", além de outras que alugam (Bairro de São Brás), "casas e horta do seminário que V. Magestade lhes deu", que também alugam (junto a Nossa Senhora da Conceição), todo o Bairro de São Pedro e a Aldeia dos Sapes, duas hortas e "uma fazenda grande a duas léguas desta cidade" (Carta da Câmara da Ribeira Grande a Filipe III); 1628 - ataque holandês à cidade, com a pretensão de aí ser levantada uma fortaleza; reedificação dos muros da cidade; 1630 - acusa o governador João Pereira Corte Real a pouca capacidade da Ilha para albergar uma Sé com tantos clérigos, capelães e Bispo, "em cidade que não chega a ser aldeia" e onde os cidadãos são quinze ou dezasseis homens de Portugal que somados aos crioulos da terra não chegam a 35; c. 1635 - avoluma-se o número de naus holandesas que passam por Santiago, a caminho do Brasil, não se achando a ilha apetrechada para se defender. A crise económica acentua-se e as suas repercussões tornam-se cada vez mais evidentes. 1638 - pedido, ao Reino, de carpinteiros e pedreiros para a reparação das fortificações; 1640 - doação para a fundação e sustento do Convento de São Francisco, por Joana Coelha, nobre e natural da ilha de Santiago; 1641 - alvará pelo qual se destinam 100 cruzados anuais, durante seis anos, para "reparos e remédio da Santa Casa da Misericórdia" (BARCELLOS, 1899); 1645 - o governador João Serrão da Cunha dá conta da tentativa de saque da cidade feita pelos holandeses e apela para a necessidade urgente de obras para a defesa da cidade e da ilha; 1652 - alvará para que o Bispo e o Governador residam, alternadamente, na vila da Praia; 1664 - a ordenança da Ribeira Grande é constituída por 1280 soldados, sendo menos de 5% brancos e o restante negros e mestiços; 1696 / 1698 - nomeação de José Coutinho como capitão engenheiro de Cabo Verde; 1698 / 1710 - comissão de serviços de José Soares da Rocha como capitão engenheiro das Ilhas; 1700 / 1701 - as obras da Sé encontram-se praticamente concluídas; 1710 / 1716 - comissão de serviço de José Gomes Correia como capitão engenheiro das Ilhas de Cabo Verde; 1712 - piratas franceses comandados por Jacques Cassard atacam e pilham a cidade. Os assaltantes incendiam os armazéns reais, a casa do Bispo e a do Governador; 1716 / 1719 - nomeação de Cristovão Martins Figueira como sargento-mor engenheiro de Cabo Verde; 1718 - face aos altos custos com aluguer e às dificuldades em se encontrar uma casa para a aposentadoria dos governadores, Serafim Teixeira Sarmento de Sá propõe a realização de obras nas casas que então serviam de armazém ("fazendo-se dois quartos, e uma cozinha, que é o de que necessitam para ficar uma nobre aposentadoria por ter duas casas já muito bem forradas com cinco janelas e sacadas, e ficarem mais perto do Porto com bastante vista do mar, ainda que o sítio não é a melhor coisa pela vizinhança de uma lagoa que tem"). A fortaleza de São Filipe encontra-se arruinada. Ordem régia para a remodelação da Cadeia; 1723 - nomeação de Simão dos Santos como sargento-mor engenheiro das Ilhas, com a obrigação de ensinar na aula; 1724 - a cidade foi abandonada e a maior parte dos seus edifícios encontram-se em ruínas; as fortalezas acham-se desguarnecidas e sem capacidade de defesa; 1733 - não existe casa para Alfândega por estarem arruinadas todas as que algum dia serviram; 1735 - alvará de concessão à Câmara da Ribeira Grande do privilégio da venda de duas vacas a cada navio que aportasse à vila da Praia, com o fim de financiar a reconstrução dos edifícios e fortalezas da cidade; 1738 - a miséria da terra é total. A maior parte da cidade está reduzida a "pardieiros razos" e as poucas casas que ainda se acham em pé encontram-se destruídas (Carta da Câmara da Ribeira Grande); 1754 - o dormitório do Convento de São Francisco é destruído por um grande temporal. O Bispo D. Pedro Jacinto Valente abandona a sede do Bispado e fixa residência na ilha de Santo Antão; 1761 - o ouvidor geral das Ilhas, Carlos José de Souto Matos, apela para que sejam reedificadas as cadeias da cidade (e da vila da Praia) que se acham arruinadas; 1762 - o ouvidor-geral das ilhas, João Vieira de Andrade, fixa residência na Praia e envia relatório ao Rei, no qual dá conta do péssimo estado da cadeia e fortalezas da Ribeira Grande; 1763 -"Esta cidade se acha inabitável de gente, porquanto todas as famílias principais da terra se acham assistindo nas suas fazendas, que têm no campo e têm deixado arruinar as suas casas da cidade" (Bartolomeu de Sousa e Brito); 1764 - a cidade encontra-se em total ruína, "não há cadeia nela, aonde se prendam os criminosos, por cuja razão se não pode administrar a justiça, as casas da Câmara destruídas, o açougue por terra, as calçadas arruinadas" (Carta da Câmara da Ribeira Grande); 1765 - nomeação de Manuel Germano da Mata como sargento-mor engenheiro das Ilhas; 1766 - nomeação do capitão engenheiro António José de Santana; 1766 / 1779 - envio do engenheiro António Carlos Andreas para Cabo Verde, onde dirigiu as obras de fortificação e efectuou diversos levantamentos cartográficos; 1769 - transferência da sede do governo para a vila da Praia, sendo governador Joaquim Salema Saldanha Lobo; nomeação de António Félix do Amaral como sargento-mor; 1774 - despacho do Marquês de Pombal para a reedificação do Palácio Episcopal; 1784 - a Misericórdia encontra-se degradada; 1838 - Proposta do governador Joaquim Pereira Marinho para a demolição da Sé e construção de uma nova no Mindelo (ilha de São Vicente) para onde se transfere a capital; 1841 -"Apenas restos da igreja e do hospital da Misericórdia se mantinham de pé" (BARROS, 1973). A fortaleza real encontrava-se arruinada. "A cidade n'outro tempo possuiu muitas e boas casas de pedra e cal, e até muitas de cantaria de Portugal; havia até casas acasteladas, no gosto da arquitectura do 16º século, resultado da combinação dos elegantes arabescos e suas esbeltas e soberbas colunas, com os grandiosos maciços góticos; algumas ainda, arrostando as injúrias do tempo, ficaram de pé, como se fossem protegidas pelos brasões gloriosos, que lhe avultam sobre as vergas das suas portadas! ... hoje uma térrea choupana procurou abrigo debaixo da massa desta ou daquela torre [...]. Umas cabanas de pedra e barro cobertas de palha, constituem hoje toda a cidade; encontram-se com frequência degraus de mármore de Pero Pinheiro, que conduzem a uma porta de junco com ombreiras de pau carunchoso. Havia ali quatorze igrejas, mas hoje existem somente -a Sé que se vê agora (não obstante ser um belo monumento) destelhada no meio, - o Hospital da Misericórdia que está a cair - e um seminário que o último Bispo mandou continuar há poucos anos, este edifício de dois andares, e umas trinta janelas de frente, nunca ficou acabado, mas o bicho comeu toda a madeira que é de pinho, e em breve caindo em pedaços aumentará o caos das ruínas. No fundo a bordo da ribeira se levanta um modesto convento de frades capuchos [...] lá está solitário no meio das ruínas (CHELMICHI, 1841); 1858 - elevação da vila da Praia a cidade, consumando-se a total ruína da Ribeira Grande;1875 - o bispo recusa a proposta do director das Obras Públicas de Cabo Verde para a demolição da Sé e reaproveitamento dos materiais para outras construções na vila da Praia; 1884 - o Palácio Episcopal já não existe; 1990 - recenseados 2425 habitantes na freguesia de Santíssimo Nome de Jesus, revelando acentuada vitalidade da pirâmide demográfica; 1997 - a agricultura e a pesca mantêm-se como actividades económicas dominantes, registando-se ainda quatro unidades de avicultura, seis de fabrico de aguardente, cinco de comércio a retalho e dois botequins; 1999 - o Inquérito Demográfico restrito à Cidade Velha regista 1316 habitantes. |
Dados Técnicos
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Estrutura autoportante. Paredes em alvenaria de pedra vulcânica (pedra rachoada ou calhau rolado ) com argamassa de terra e caiadas, mais raramente com reboco pobre de cal e areia; coberturas com telhados de duas ou quatro águas revestidos por colmo ou telha cerâmica, assente em vigamento de madeira e tectos com forro de entrançado de folha de coqueiro. Lintéis, soleiras e ombreiras em madeira com traves de reforço. |
Materiais
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Pedra vulcânica, madeira, cal, terra, areia, colmo (folha de coqueiro), telha cerâmica (canudo e marselha) |
Bibliografia
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FEIJÓ, João da Silva, Ensaio Económico sobre as ilhas de Cabo Verde - 1797, Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa, V, 1815, pp. 172-193; CHELMICKI, José Conrado Carlos, Corografia Cabo-Verdeana, Tomo I, Lisboa, 1841; Roteiro do Arquipélago de Cabo Verde, Lisboa, 1892; BARCELLOS, Christiano José de Senna, Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, Parte I e II, Lisboa, 1899-1900; BARRETO, João, História da Guiné, Lisboa, 1938; Monografia-Catálogo de Exposição de Cabo Verde, Semana das Colónias de 1938, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1938; CHELMICHI, José Conrado Carlos de, Corografia Cabo-Verdiana ou Descripção Geographico-Histórica da Província das Ilhas de Cabo Verde e Guiné, Tomo I, Lisboa, 1941; Cabo Verde, Pequena Monografia, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1961; LERENO, Álvaro, Dicionário Corográfico do Arquipélago de Cabo Verde, Lisboa, 1952; A Ilha do Fogo e suas Erupções, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1954; "As Ilhas Atlânticas", in Naturalia, Lisboa, 1954, vol. IV; BRÁSIO, Pe. António, Monumenta Missionária Africana, 2ª série, vol. I, II, III e IV, Lisboa, 1958 a 1968; SILVEIRA, Luís da, Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do Ultramar, Lisboa, 1960; "Descobrimento / Povoamento / Evangelização do Arquipélago de Cabo Verde", in Stvdia, Lisboa, nº 10, 1962, pp. 49-97; Aspectos e Problemas da Expansão Portuguesa, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1962; RIBEIRO, Orlando, "Primórdios da Ocupação das Ilhas de Cabo Verde", in Aspectos e Problemas da Expansão Portuguesa, nº 59, Lisboa, 1962; VERLINDEN, Charles, "António da Noli e a Colonização das Ilhas de Cabo Verde", in Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, III série, nº 7, Coimbra, 1963, pp.28-45; AMARAL, Ilídio do, Santiago de Cabo Verde - A Terra e os Homens, Memórias, Lisboa, 1964; FERREIRA, Clarisse Cardona, A História do Arquipélago de Cabo Verde durante o Período Filipino, (Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa), 1964; BARROS, Augusto, "Conferência sobre a antiga cidade da Ribeira Grande da Ilha de Santiago", Maio 1973, s.l. (dactilografado); MOTA, A. 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Documentação Gráfica
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DGEMN, DSID; Câmara Municipal da Praia; GEAEM: Planta da Cidade da Ribeira Grande, 1778, 1198/1A-9-13; AHU: Planta do Novo Baluarte a Santo António, 1702, Col. Cartografia Ms. - 2. IV, CM. 117; "Plantas Echonográficas e scenográficas", 1706, Col. Cartografia Ms - 3. IV. CM. 118; Planta da Cidade da Ribeira Grande... com as Fortificações, 1769, Col. Cartografia Ms. 119; Planta dos Fortes de S.Veríssimo e do Presídio, 1770, Col. Cartografia Ms. - 6.IV. CM.121. Enc. IV; Planta dos Fortes..., 1770, A.H.U. Col. IV. CM.122. Enc. IV; Fortaleza Real ..., 1770, Col. Cartografia Ms. 5. IV. CM. 120. Enc. IV; Planta da Fortaleza Real, 1778, Col. Cartografia Ms. 12. IV. CM. 127; Planta da Cidade da Ribeira Grande, 1778, Col. Cartografia. Ms. 8. IV. CM. 123; Planta da Fortaleza Real, 1778, Col. Cartografia. Ms. 10. IV. CM. 125; Planta do Forte de S. Veríssimo, 1778, Col. Cartografia Ms. 11. IV. CM. 126; Planta do Forte de S.João dos Cavaleiros, 1778, Cartografia Manuscrita Cabo Verde n º 126; Forte de S.António, 1778, A.H.U. Col. Cartografia Ms. 124; Col. Iconografia, Estampas - I. IV. E450. |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN / DSID; AHU |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN, DMN 1532; AN/TT; AHU |
Intervenção Realizada
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DGMU: anos 60 - reconstituição do pelourinho; trabalhos de restauro na Igreja de Nossa Senhora do Rosário; reconstrução da Capela de S. Roque. INAC/IPPC: 1991/1993 - trabalhos arqueológicos na Sé. CMP: 1996 - regularização do leito da ribeira e construção de muros de suporte, truncando o traçado da Rua Direita de S. Pedro. Ministério da Cultura de Cabo Verde / Governo Espanhol: 1999 - obras de reconstrução do Forte de S. Filipe. |
Observações
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1938 - informação à DGEMN do Delegado das Obras da Colónia Penal de Cabo Verde acerca do estado de conservação das ruínas da Cidade Velha. 1994 - Levantamento da tipologia arquitectónica da Cidade Velha por alunos da Secção de Arquitectura do Instituto de Restauração da Universidade Politécnica de Chalmers, Suécia; 1999 / 2000 - Plano de Recuperação e Transformação da Cidade Velha, Arq.ºs Álvaro Siza e Helena Albuquerque, em elaboração. Incluida na Lista Indicativa a Património Mundial desde 2004. |
Autor e Data
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Fernando Pires / Zelinda Cohen 2000 |
Actualização
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