Ermida de Nossa Senhora dos Anjos / Ermida dos Anjos e Treatro
| IPA.00008140 |
Portugal, Ilha de Santa Maria (Açores), Vila do Porto, Vila do Porto |
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Capela com treatro adossado posteriormente, constituindo os mais antigos da ilha de Santa Maria, sendo ainda este último o único construído em cantaria e adossado a um templo. A capela primitiva foi construída no séc. 15, possuindo provavelmente estrutura alpendrada, conforme se depreende pela subsistência dos dois portais laterais em arco de volta perfeita, e reformada no séc. 17, data em que possivelmente se fechou o alpendre e compôs a frontaria, e posteriormente re-edificada em 1893. Possui planta retangular, de nave única e espaço único, com iluminação frontal e lateral e teto de masseira. A fachada principal tem cunhais em cantaria, termina em empena e é rasgada por portal de verga reta e janela. Nas fachadas laterais, terminadas em beirada dupla, rasgam-se portais em arco de volta perfeita, de aduelas largas e um outro de verga reta. Interior com coro-alto de madeira, púlpito setecentista no lado do Evangelho, com guarda elegante formada por balaústres e quarteirões, seguindo um esquema comum na ilha, e capela-mor pouco profunda, tipo nicho, com retábulo-mor formado por três painéis pintados sobre madeira, do séc. 16 / 17, alusivo ao orago, muito repintados, o do Evangelho danificado inferior e superiormente, e um outro no ático, já do séc. 17. Frontal de altar da 2ª metade do séc. 17, maneirista, de influência oriental, inspirados nos frontais têxteis, tendo ao centro cartela com figuração hagiológica e elementos barrocos. Segundo Santos Simões, é um dos frontais de altar mais representativos do género. O treatro apresenta a tipologia dos treatros marienses, de planta retangular e corpo tipo alpendre, com cobertura sustentada por pilares assentes em murete e acesso por vão frontal. |
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Número IPA Antigo: PT072107050005 |
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Registo visualizado 1777 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Capela / Ermida
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Descrição
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Planta retangular simples de nave única, tendo adossado à fachada lateral esquerda da capela a sacristia retangular e à fachada posterior, em eixo, treatro retangular. Volumes escalonados com cobertura uniforme na nave, em telhados de duas águas, de uma na sacristia e em três no treatro, com telha de meia-cana. CAPELA: com fachadas rebocadas e pintadas de branco a principal virada a O. e terminada em empena, coroada por cruz latina de cantaria e cunhais em cantaria, coroados por pináculos piramidais sobre plintos; é rasgada por portal de verga reta simples e por janela retangular, com caixilharia de guilhotina. Fachadas laterais terminadas em dupla beirada e rasgadas por portal em arco de volta perfeita no início da nave, abrindo-se ainda, na lateral direita, interrompendo o baileu adossado, porta travessa de verga reta, encimada por inscrição, e duas janelas retangulares; a sacristia na lateral esquerda, terminada em meia empena, é rasgada por porta de verga reta virada a O. e por janela de peitoril virada a N.. Fachada posterior terminada em empena. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em lajes de cantaria e teto de masseira em pladur, com tirantes de madeira. Coro-alto de madeira, com guarda em falsos balaústres, acedido por escadas dispostas no lado do Evangelho; no sub-coro, o portal é ladeado por pia de água benta em cantaria, de perfil curvo, tal como a porta travessa. No lado do Evangelho dispõe-se púlpito de bacia retangular, com guarda em balaustrada, com valaústres de bolachas intercalados por quarteirões, acedido por escada, com guarda igual, encimado por baldaquino em talha, com lambrequim e tendo na face inferior resplendor inscrito. Sobre o supedâneo de madeira, rasga-se neste mesmo lado porta de verga reta, com moldura simples, de acesso à sacristia. Na parede testeira abre-se a capela-mor pouco profunda, em arco de volta perfeita, sobre pilastras com bases em ponta de diamante, capitéis fitomórficos e tendo na cobertura cartela recortada. Alberga retábulo-mor, de três eixos, delimitados por duas pilastras exteriores, com painéis pintados, sobre madeira, representando no central a Coroação da Virgem, ladeada por anjos músicos, e nos laterais dois Santos de cada lado, com inscrição identificativa, figurando, no lado do Evangelho, um santo não identificado e São Filipe e, no da Epístola, São Cosme e São Damião; ático adaptado ao perfil da cobertura, com painel pintado com uma Adoração dos Reis Magos. Altar paralelepipédico com frontal revestido a azulejos policromos (com 6 x 13), a imitar brocado, de "aves e ramagens" e cartela central com imagem de São Bartolomeu, delimitado por sanefa franjada e sebastos. TREATRO de planta retangular, mais estreita que a capela, delimitado por murete, rebocado e caiado, capeado a cantaria, sobre o qual assentam seis pilares de cantaria, os quatro frontais mais estreitos e com base e capitel quadrangular marcados, sustentando o entablamento, em alvenaria rebocada e pintada, e a cobertura, com beirada dupla. Apresenta frontalmente acesso, precedido por dois degraus. INTERIOR com parede rebocada e caiada, pavimento em cimento e teto de madeira, de dois panos sobre travejamento. À parede fundeira encosta-se mesa de altar baixa e rudimentar, em cantaria e surge colocado painel de azulejos policromos, alusivos ao Espírito Santo. No ângulo esquerdo tem pequena prateleira de madeira. |
Acessos
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Vila do Porto; Lugar dos Anjos; Estrada Regional 2 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Resolução do Presidente do Governo Regional n.º 58/2001, JORAA, 1.ª série, n.º 20 de 17 maio 2001 |
Enquadramento
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Peri-urbano, isolado, adaptado ao perfil suave do terreno, inserido em adro vedado por muro rebocado e caiado, capeado a cantaria, com acessos laterais e pavimentado em alvenaria de pedra com caravelas junto aos portais axial e laterais e uma coroa do Espírito Santo junto ao treatro. No ângulo SO. ergue-se sobre o muro do adro sineira em cantaria, em arco de volta perfeita, assente em pilares, ladeados de aletas e terminada em cornija reta. Perto do campanário ergue-se uma araucária. Em frente da fachada posterior, mas do outro lado da estrada regional, desenvolve-se largo com estátua em bronze de Cristóvão Colombo. A N. do largo, ergue-se a copeira. |
Descrição Complementar
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Sobre o portal da fachada lateral direita existe cartela oval com a inscrição: "RECTIFICADA / EM / 1893". O resplendor do baldaquino do púlpito tem a inscrição "A.D.R.C.V. / D.S.S.B.D.P.D. / FECIT 1750". Na guarda do púlpito surge afixado caixa de madeira com um açoite e inferiormente documento moldurado com a seguinte inscrição "Na noute do primeiro para o segundo dia de setembro de /1675. derão os Mouros hum as / salto neste cítio desta Ermida a / descudo das guardas, entra / rão pelo porto catiuarão 11 / pessoas, entre molheres e meninos. / e com este chicote as espancaruão / o qual se pos aqui para memoria do / sucesso para que esteja pregando que / se Deus. logo leuantou o castigo foi / talues por não enuoluer mais inocentes; todauia deixou ficar em / terra o açoute com que castigou nes / ta Ermida não tocarão, passan / do de todo por junto dela; como / também no anno de 1616. saque- / ando toda a ilha hé tradição / que a não uirão uendo-os a to / dos quem dentro estaua." |
Utilização Inicial
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Religiosa: ermida |
Utilização Actual
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Religiosa: ermida |
Propriedade
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Privada: Igreja Católica (Diocese de Angra) |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 15 / 17 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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Séc. 15 - construção da primitiva capela; segundo o "Livro da Irmandade de Nossa Senhora dos Anjos e Escravos da Cadeinha" de autoria do padre Francisco da Cunha Prestes, vigário da Igreja Matriz de Vila do Porto, a ermida teria sido fundada por D. Isabel Gonçalves, mulher de Tomé Afonso, natural do Algarve, que pedira o local a D. Beatriz Godim, primeira mulher de João Soares de albergaria, o 2º Capitão donatário (a qual faleceu por volta de 1492-1493, no continente; D. Beatriz deu três alqueires de terra onde se ergue a ermida em troca de outros três que Isabel Gonçalves lhe deu em cima da rocha; 1560, cerca - documento do espólio Velho Arruda, na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, refere um Tomé Afonso, casado com Isabel Gonçalves, terem deixado parte dos seus bens para a conservação da capela, levando o investigador Miguel Corte-Real a questionar se eles seriam ou não os primitivos fundadores, ou apenas re-edificadores ou padroeiros da ermida; séc. 16 - época provável da pintura dos painéis do retábulo-mor; séc. 17 - feitura da imagem de Nossa Senhora dos Anjos, feita por Frei Manuel de São Domingos; 1616 - saque da ilha de Santa Maria por mouros que, apesar de passarem junto à ermida, não a viram nem lhe causaram dano, fato que Frei Agostinho de Monte Alverne atribui a um milagre da Virgem; 1674 - até esta data, segundo Gaspar Frutuoso, dentro da capela havia apenas um retábulo antigo que se fechava com duas portas, "estando e costado na parede e chegava a pregar na tacanissa o qual agora está ensserido no meio do retabolo"; 1674, 28 outubro - início da feitura de "um retábulo (...) que até essa data não havia", executado no Convento de São Francisco de Vila do Porto; construção do adro da capela; 1674 / 1676, entre - depois do ataque dos piratas, Frei Gonçalo de São José, que veio para o Convento de Nossa Senhora da Vitória, terá mandado reconstruir a capela com nova traça; 1675, maio - abertura do "caminho que vai pela rocha acima e o fizeram por sua devoção os devotos da Senhora pela dificuldade que havia para poderem descer à ermida"; 1 / 2 setembro - assalto do sítio da ermida por mouros, prendendo 11 pessoas, entre mulheres e crianças, espancando-as com um chicote que acabaram por deixar em terra e que se conserva na capela; setembro - feitura do calvário ou cruzeiro no cimo da rocha", junto ao Caminho Velho; 1679 - oferta do frontal de azulejos do altar-mor pelo benemérito Brás de Andrade Velho, Prior de São Cristóvão de Coimbra; 1750 - data de execução inscrita no resplendor do baldaquino do púlpito; 1826 - era seu padroeiro o morgado Luís de Figueiredo Velho Melo Falcão; 1893 - re-edificação da capela, conferindo-lhe a atual feição; 1956 - fotografia documenta o retábulo-mor com o painel do lado do Evangelho tendo frontalmente e no plano inferior maquineta com imagem de Santa Ana; séc. 20, 2ª metade - colocação do painel de azulejos alusivos ao Espírito Santo na parede fundeira do treatro. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria de pedra rebocada e pintada; cunhais, pináculos, cruz, pilares, molduras dos vãos, sineira e outros elementos em cantaria; portas de madeira; vidros simples; pavimento em lajes de cantaria; teto de pladur; superdâneo de madeira; coro-alto de madeira; púlpito em "pau branco" (Piconea Excelsa); retábulo de madeira; frontal de azulejos policromos; cobertura em telha. |
Bibliografia
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AAVV, Arquitectura Popular dos Açores, Lisboa, Ordem dos Arquitectos, 2000; CARVALHO, Manuel Chaves, Igrejas e Ermidas de Santa Maria, em Verso, Vila do Porto (Açores), Câmara Municipal de Vila do Porto, 2001; CÔRTE-REAL, Miguel de Figueiredo. Livro da Irmandade de Nossa Senhora dos Anjos dos Escravos da Cadeínha. Explicações, Notas, Gravuras e Índices, separata da Estrela da Manhã, ano I, nº 1, Boletim da Academia Mariana dos Açores, Horta, 1992; FIGUEIREDO, Jaime de, Ilha de Gonçalo Velho: da descoberta até ao Aeroporto (2ª ed.), Vila do Porto (Açores), Câmara Municipal de Vila do Porto, 1990; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, Bertrand Editora, 1989; MONTE ALVERNE, Agostinho, Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores (2ª ed.), Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1986; MONTEIRO, Jacinto, Ermida de Nossa Senhora dos Anjos: monumento histórico mais antigo dos Açores, in Ocidente, Lisboa, 1961; NORONHA, Luísa, A Ermida de Nossa Senhora dos Anjos da Ilha de Santa Maria: contributo para a sua História, Vila do Porto, Câmara Municipal de Vila do Porto, 1992; SANTOS, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira. Corpus da Azulejaria Portuguesa, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1963; www.inventario.iacultura.pt/maria/vilaporto_fichas/11_992.html, 5 junho 2012. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DRML |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DRML, SIPA |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Observações
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1 - Segundo a tradição, durante o séc. 16, os habitantes desejavam erguer um templo nos Anjos, local onde Gonçalo Velho e os seus marinheiros tinham desembarcado e rezado a primeira missa na ilha e nos Açores. A população queria construí-la no local mais baixo, onde hoje se ergue, mas os responsáveis pela obra começaram a juntar a pedra no cimo do rochedo. Acontece que as pedras aí depositadas pelos trabalhadores, durante o dia, apareciam, na manhã seguinte, sem se saber como, no local mais em baixo, levando-os a culpar a população de deslocar a pedra, durante a noite, para o lugar onde queriam construir a ermida. Certa noite, passando na zona um pescador, viu que as pedras se moviam sozinhas pela encosta para o lugar mais baixo, correndo assustado a contar ao mestre da obra o que vira; este foi ao local com os trabalhadores e ridicularizaram o pescador, decidindo, no entanto, voltar na noite seguinte. Nessa noite, também eles viram as pedras começar a rolar, seguindo a imagem de Nossa Senhora. Decidiu-se assim, definitivamente, erguer a ermida no lugar assinalado pela Senhora e originalmente escolhido pela população e um cruzeiro no local inicialmente desejado pelos mestres, para recordar o milagre. |
Autor e Data
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Paula Noé 2012 |
Actualização
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