Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Angra Heroísmo

IPA.00008156
Portugal, Ilha Terceira (Açores), Angra do Heroísmo, Angra (Sé)
 
Igreja de misericórdia construída no séc. 18 sobre a anterior, que é então demolida, com grande verticalidade. Apresenta planta retangular composta por nave e capela-mor, mais baixa e estreita, interiormente com ampla iluminação axial e bilateral. As fachadas são rebocadas e pintadas, com os elementos estruturais, decorativos e molduras dos vãos sublinhados a azul, de caráter popular. A fachada principal é harmónica, com torres sineiras flanqueando pano terminado em tabela entre aletas, organizada em dois registos e três eixos, rasgados por vãos retilíneos, encimados por cornija, intercalados por almofadas relevadas. No pano central possui galilé, acedida por amplo arco, coberta em abóbada e com portal axial de cantaria, de moldura recortada encimada por friso sobre mísulas, sobrepujada por duas janelas de varandim e brasão nacional, sublinhado por policromia vermelha e branca e moldura em tons de azul mais escuro, encimados por cornija e nicho de cornija contracurva. As torres sineiras são dinamizadas pela abertura de vãos sobrepostos, intercalados por almofadas retangulares, esquema que se repete a ladear o arco triunfal. As fachadas laterais são seccionadas em panos rasgados por janelas e porta travessa de verga reta entre pilastras coríntias sustentando múltiplos frisos e espaldar. No interior apresenta estrutura e esquema decorativo influenciado pelas construções jesuítas, nomeadamente na divisão da nave em dois registos por frisos e cornijas e vários panos, definidos por pilastras, onde se distribuem simetricamente capelas laterais encimadas por galeria corrida com tribunas para a nave, acedidas por galeria abobadada colocada paralelamente à nave, e dois púlpitos retangulares confrontantes. Possui ainda coro-alto e o arco triunfal ladeado por duas portas e janelas intercaladas por almofadas retangulares relevadas e cornijas. Na capela-mor tem retábulo-mor em talha dourada de planta convexa e um eixo tardo-barroco.
Número IPA Antigo: PT071901160024
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta retangular composta de galilé, nave única e capela-mor, com duas torres sineiras quadrangulares ladeando a fachada principal e com anexos adossados de ambos os lados e posteriormente. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e nos anexos laterais e de quatro águas no copo posterior. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com embasamento a preto, e os cunhais, frisos, cornijas e molduras dos vãos em cantaria sublinhados a azul. Fachada principal verticalista, virada a S., terminada em pequena tabela, decorada por relógio circular central, ladeada de aletas com almofadas relevadas e rematada em cornija encimada por sineira em arco trilobado, albergando sino, terminada em empena angular com cruz e pináculos laterais. Divide-se em dois registos, separados por cornija, recortada ao centro, e em três panos, circunscritos por falsas pilastras; no primeiro registo, a galilé é rasgada por arco em volta perfeita sobre pilastras, com chave relevada, fechado por gradeamento; possui pavimento em cantaria e abóbada de berço, decorada por nervuras de cantaria cruzadas; o portal da igreja apresenta verga reta, com moldura recortada percorrida por vários frisos, encimada por friso e cornija assente em mísulas laterais. No segundo registo do pano central, abrem-se duas janelas de varandim, com guarda em ferro, centrando amplo escudo real, relevado, pintado a vermelho e branco e com moldura pintada por frisos alternados, a branco e azul-escuro; são encimados por cornija alteada sobre o brasão, que é sobrepujado por nicho, em arco de volta perfeita sobre pilastras, ladeada por pilastras assentes em cornija, e rematado em cornija contracurvada, coroado por pináculos relevados. Nos eixos laterais rasgam-se vão em arco de volta perfeita sobre pilastras, entaipado, e janela retangular, gradeada, encimada por almofada retangular, moldurada; no segundo registo sobrepõem-se duas janelas de varandim baixas, com moldura encimada por friso e cornija, a inferior encimada por almofada retanguar com molduras concêntricas e a superior por almofada retangular, moldurada; no terceiro registo abrem-se, em cada uma das faces, sineiras em aro de volta perfeita sobre pilastras, com fecho relevado e frontalmente albergando sino; remate em cornija, coroada nos cunhais por pináculos sobre plintos paralelepipédicos, e cobertura em cúpula oitavada assente em tambor octogonal, coroada por pináculo. Fachadas laterais de três corpos, correspondendo à nave, capela-mor e corpo da Irmandade adossado. A nave, teminada em cornija e platibanda plena, é subdividida por pilastras em cinco panos, tendo o primeiro, o da torre sineira, esquema semelhante ao da frontaria; os outros quatro panos são rasgados superiormente por janela de varandim, com guarda em ferro e moldura encimada por friso e cornija; no terceiro pano abre-se porta travessa, de verga reta ladeada por duas pilastras assentes em plintos e de capitéis de inspiração coríntia, enquadrando vários frisos, um deles fitomórfico, e sustentando entablamento e remate, percorrido por frisos, com pináculos laterais sobre plintos e elementos fitomórficos centrais entre aletas e vieira. Na fachada lateral esquerda o pano intermédio apresenta o remate e os pisos separados por cornija, rasgando-se no primeiro porta de verga reta com moldura encimada por friso e cornija, e janela jacente e, no segundo, duas janelas de varandim com molduras iguais. O corpo da casa da Irmandade, alteado, possui remate e os três pisos separados por cornija, abrindo-se no primeiro janela retangular, no segundo duas janelas de varandim e no terceiro janelas de peitoril, em ambos os casos com molduras encimadas por friso e cornija. Este corpo é ainda rasgado por várias janelas iguais, viradas a S.. Na lateral direita, adossam-se no topo da nave três corpos, os dois primeiros terminados em frontão triangular, coroados por cuz latina, uma delas com imagem do Crucificado, sobre o Monte Golgata, com pináculos no alinhamento das pilastras e rasgados por janelas retangulares, o do primeiro corpo entaipado e no segundo com janela jacente, gradeada, inferior. O terceiro corpo é mais simples, de um piso, rasgado por porta d verga reta encimado por duas cartelas inscritas. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, a nave com vários panos marcados por pilastras e dois registos separados por frisos e cornijas; coro-alto com órgão de armário. Lateralmente abrem-se oito capelas laterais, a terceira do lado da Epístola profunda, em arco de volta pefeita, com fecho saliente, assentes em pilastras, seis delas dedicadas ao Espírito Santo, Nossa Senhora da Natividade e Santa Cruz, no lado do Evangelho, e ao Senhor Cristo da Misericórdia, à Divina Pastora e ao Senhor Jesus das Chagas, no lado da Epístola; superiormente corre uma galeria com tribunas viradas à nave. A meio dispõem-se púlpitos retangulares, confrontantes, assentes em mísulas, com guarda em balaustrada, acedidos por porta de verga reta, encimada por friso e cornija, a partir de vãos rasgados nas segundas capelas laterais. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras, com florão central, encimado por cornija e vários elementos de cantaria; é ladeado por portas de verga reta de acesso aos anexos, encimadas por almofada retangular, e janela com pano de peito almofadado. Capela-mor com cobertura em falsa abóbada de berço, com pinturas decorativas; sobre supedâneo surge retábulo-mor em talha dourada e policroma de planta convexa e um eixo, rasgado ao centro por tribuna em arco, e ático em espaldar rematado em cornija angular. Por detrás da capela-mor desenvolve-se a sala das sessões da Misericórdia.

Acessos

Angra (Sé), Rua Direita; Rua do Santo Espírito

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978 / Incluído na Zona Central da Cidade de Angra do Heroismo (v. PT071901160035)

Enquadramento

Urbano, adossado pela fachada posterior, adaptado ao declive do terreno, disposto de gaveto num quarteirão trapezoidal do Núcleo urbano da cidade de Angra do Heroísmo (v. PT071901160035), na confluência das Ruas Direita e do Santo Espírito. A fachada principal vira-se a largo e à baía e ao porto de Angra. Lateralmente ergue-se o edifício da Alfândega (v. PT071901160049).

Descrição Complementar

Sobre o portal do corpo da fachda lateral direita existe cartela circular com a inscrição 1849 e uma oval com a inscrição: ENTRADA PO GRANEL E SECRETARIA DA MISERICORDIA. Na igreja destacam-se as chamadas "catacumbas", galerias abertas por baixo do piso para a instalação de colunas de aço para a sustentação do templo.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: misericórdia

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ORGANEIRO: António Xavier Machado e Cerveira (1829).

Cronologia

1492, 15 março - fundação do primeiro hospital da ilha e arquipélago, com denominação do Santo Espírito, por João Vaz Corte Real, capitão donatário de Angra; nesta altura ou posteriormente construiu-se também uma capela com a mesma invoação; 1495, 15 março - data do Compromisso da Irmandade da Misericórdia de Angra do Heroísmo a que se terá seguido a construção da primitiva igreja da misericórdia, no local da antiga capela do Espírito Santo, financiada pelos habitantes da ilha; junto à Igreja foram ainda construídos a casa da Irmandade e um hospital, na Rua Direita; 1508 - o rei D. Manuel outorgou 10 mil réis à Misericórdia de Angra, dádiva que passou a ser anual; séc. 16, finais - segundo a carta de Linchoten, a igreja tinha orientação E. / O. e havia um passadiço de ligação entre a igreja e o hospital, na Rua do Santo Espírito; a igreja, à saída do cais da cidade e de frente para a Porta do Mar, tinha três naves, capela-mor, altares colaterais e vários laterais ao longo da nave; 1728 - demolição da primitiva igreja e edificação da actual, com fundos da Irmandade e auxílio de D. João V e do bispado de Angra; 21 outubro - lançamento da primeira pedra pelo Bispo de Angra, D. Manuel Álvares da Costa; 1746 - conclusão das obras de reedificação da igreja; 4 Junho - benção da igreja pelo Vigário-geral Manuel dos Santos Rolim; 1757 - 1810 - foi provedor da Misericórdia, D. Pedro Pimentel Ortiz de Melo Brito do Rio; 1766, 22 fevereiro - contrato entre a Mesa da Misericórdia e a Ordem de Nossa Senhora do Carmo, para a igreja passar a albergar a Ordem e a respectiva imagem; 1786 - estava principiada a obra da capela-mor da igreja, que ainda não estava concluída; 1794 - ainda não estava concluída a obra da capela-mor, nem as outras da igreja e botica do hospital; 1799 - ainda estavam incompletas as obras principiadas; 1803 - continuava o "complemento das obras da igreja"; 1804, 12 março - despacho da Junta da Fazenda, na pessoa do general conde de Almada, e concessão do bispo D. José Pegado de Azevedo para se transferir a imagem de Nossa Senhora do Carmo para a Igreja do Colégio de Angra; 17 março - transferência da imagem; 1815 - renovação de Pedro Homem da Costa Noronha como provedor para acompanhar as obras e esperar a chegada de "huma lampada que mandou vir para a Capella do Senhor Santo Christo e outros guizamentos"; 1819 - obras nas Capelas das Chagas e da Descida da Cruz, que estavam em pedra desde a construção da igreja; 1829 - execução do órgão de armário por António Xavier Machado e Cerveira, o seu n.º 105; 1849 - data inscrita no corpo adossado na fachada lateral direita, correspondente à secretaria da Misericórdia e entrada de produtos a granel; séc. 19 - transferência do hospital para o Convento das Concecionistas, à Guarita; séc. 20 - encerramento dos vãos da torre que ligavam à galilé; 1951, janeiro - sismo provoca a queda de um ornamento da torre esquerda; 1980, 1 janeiro - sismo provoca os seguintes danos: corte pela base das cúpulas do coroamento das torres, com deslocamentos de translação e rotação; fraturas e deslocamentos do troço superior das torres; fraturas de separação das torres na ligação à nave e ao corpo entre as torres; fraturas verticais na face saliente exterior da pilastra interior dos vãos correspondentes à ligação das capelas primitivas; fraturas segundo o fecho da abóbada da nave e segundo a diretriz, nas zonas adjacentes aos tímpanos; fendilhação generalizada de paredes, arcos, entablamentos e outros; 2004, 09 setembro - publicação da Resolução do Conselho do Governo n.º 126/2004, referindo consumir a classificação anterior do imóvel por inclusão na Zona Central da Cidade de Angra do Heroismo, em JORAA , 1.ª série, n.º 15.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra aparelhada, rebocada e pintada; frisos, pilastras, cornijas, faixas e molduras dos vãos exteriores em cantaria pintada; portas de madeira; vidros simples; portal axial, pilastras, frisos, cornijas, cartelas e molduras dos vãos em cantaria; retábulos de talha dourada; guarda do púlpito em madeira; grades em ferro; cobertura de telha.

Bibliografia

ANGRA DO HEROÍSMO: Janela do Atlântico Entre a Europa e o Novo Mundo. Horta (Faial): Direcção Regional de Turismo dos Açores, s.d.; CÂMARA, Teresa Bettencourt - «A Igreja da Misericórdia de Angra do Heroísmo (1728-1746)». In Actas do I Congresso Internacional do Barroco. Porto: Barbosa & Xavier, Lmª, 1991, vol. I, pp. 213-227; FORJAZ, Jorge Pamplona - «Acerca da construção da Igreja da Misericórdia de Angra». In Diário Insular, Angra do Heroísmo. 4-III-1977; JÚNIOR, Domingos A. Vaz - «Restauro e reestruturação (anti-sísmica) na recuperação de edifícios históricos na Região Autónoma dos Açores». In 10 Anos após o sismo dos Açores de 1 de Janeiro de 1980. Lisboa: Carlos Guedes Oliveira, Arcindo R. A. Lucas e J. H. Correia Guedes, 1992, vol. 2, pp. 563-606; SANTOS, Alfredo da Silva - Memória sobre a Ilha Terceira. Angra do Heroísmo: Imprensa Municipal, 1904; VALENÇA, Manuel - A Arte Organística em Portugal. Braga: 1990, vol. II; http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_da_Misericórdia_(Angra_do_Heroísmo), [consultado em janeiro 2012]; http://pt.wikipedia.org/wiki/Ermida_de_Santo_Espírito_(Angra_do_Heroísmo), [consultado em janeiro 2012].

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Proprietário: 1989, depois - conceção de um sistema estrutural tridimensional, introduzido nas estruturas existentes, compreendendo montantes, abóbadas e lajes de betão armado; lintéis prefabricados de betão pré-esforçado e vigas de betão armado pré-esforçado; interligação dos corpos a vários níveis por tirantes previamente comprimidos; colocação de diagramas horizontais; colocação de um lintel de betão armado pré-esforçado no pavimento das galerias em toda a extensão da nave; estrutura de contraventamento da empena da capela-mor.

Observações

EM ESTUDO.

Autor e Data

Paula Noé 2002 / 2012

Actualização

 
 
 
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