Fontanário Armoreado do Rossio / Fonte de Santa Ana
| IPA.00008170 |
Portugal, Ilha Terceira (Açores), Angra do Heroísmo, Vila de São Sebastião |
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Grupo de duas fontes, uma de tipo relicário, construída no séc. 17, ainda que haja notícias de uma fonte no local desde meados do séc. 16, e uma outra de tipo espaldar, construída no séc. 19, dispostas em ritmo alternado com dois largos tanques, interligados por condutas a partir de nascente muito forte e que, no passado, serviram a povoação da vila e moviam vários moinhos. A fonte relicário é composta por espaldar de cantaria e duas colunas frontais, com as bases e os capitéis decorados com motivos vegetalistas, sustentando cobertura em cúpula piramidal truncada, possuindo duas bicas vertendo para tanque frontal. A cobertura é mais estreita que o atual espaldar e a disposição atual das colunas, o que poderá indiciar alterações posteriores. A fonte de espaldar, com inscrição alusiva à sua construção pelo senado e povo do lugar, tem planta retangular e corpo em cantaria, definido por pilastras sustentado cornija, sobre a qual evolui remate em espaldar recortado e pináculos, e decorado por motivos vegetalistas e cartela com armas nacionais central, com três bicas vertendo para tanque frontal. Os elementos decorativos vegetalistas, por vezes, têm talhe bastante relevado. Os largos tanques laterais foram construídos em 1946 e possuem linhas muito simples e despojamento decorativo. |
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Número IPA Antigo: PT071901150041 |
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Registo visualizado 1011 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Estrutura Hidráulica de elevação, extração e distribuição Chafariz / Fonte Chafariz / Fonte Tipo nicho
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Descrição
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Grupo de duas fontes e dois longos tanques, dispostos em ritmo alternado, adossado a um muro, com capeamento saliente, integrando condutas com o encanamento das águas, que jorram em grande quantidade. FONTE RELICÁRIO de planta retangular composta por espaldar retangular, com corpo em alvenaria de pedra, com as juntas tomadas e pintadas de branco, e duas colunas frontais, de fuste liso, sobre plintos paralelepipédicos percorridos por friso horizontal e de capitéis decorados por motivos vegetalistas estilizados, sustentando a cobertura; esta é em cúpula piramidal truncada, de cantaria, coroada por pináculos piramidais sobre acrotério nos cunhais. No interior a cúpula é facetada e tem as juntas tomadas e pintadas de branco. Inferiormente, o espaldar possui duas bicas de canhão que vertem para tanque retangular, disposto a toda a largura do espaldar e num plano recuado às colunas, sendo formado por lajes de cantaria com bordo revestido a metal. À direita, e num recorte do muro, que delimita três faces do mesmo e lhe serve de espaldar, integra-se longo tanque retangular, seccionado em três, com parede frontal em lajes de cantaria e bordo revestido a metal, para onde verte água de bica central, em canhão. Mais à direita, dispõe-se a FONTE DE ESPALDAR de planta retangular e corpo em cantaria aparente, assente em embasamento do mesmo material, com plintos almofadados laterais ocultos pelo tanque frontal. Apresenta espaldar retilíneo marcado por duas pilastras almofadadas, decoradas com elementos vegetalistas nos topos e ao centro, sustentando o remate em cornija, coroado por dois pináculos laterais piramidais, sobre acrotério; ao centro desenvolve-se espaldar recortado e inscrito, definido por volutas, sobrepostas por motivos florais e folhagem, que surge também no topo, onde tem querubim. O espaldar é percorrido, a toda a volta, por friso rendilhado, integrando flores-de-liz nos ângulos, e enquadrando cartela quadrangular, de topos superiores curvos, contendo brasão com as armas de Portugal e coroa, envolvido por palmas. Inferiormente, surgem três bicas quadrangulares com raios relevados, sobre friso vegetalista, igualmente relevado. As faces laterais e a posterior são rebocadas e pintadas de branco e rematam em cornija. Em frente dispõe-se tanque retangular, sensivelmente da mesma largura do espaldar, formado por lajes de cantaria, com bordos lisos, tendo os ângulos revestidos por um L metálico. Entre o espaldar e o bordo exterior, dispõem-se seis réguas metálicas para apoio do vasilhame. Mais à direita ainda dispõe-se o segundo longo tanque, igualmente implantado num recorte do muro e com as mesmas características do anterior. A O., na base do outeiro de Santa Ana, e adossado a muro, dispõe-se mãe de água, de planta quadrangular e massa simples, com cobertura piramidal rebocada e pintada de branco, tal como as fachadas; a principal tem cunhais, embasamento e friso superior em cantaria, e é rasgada por porta de verga reta e moldura simples. |
Acessos
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Vila de São Sebastião; Largo da Fonte |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Resolução do Presidente do Governo Regional n.º 64/1984, JORAA, 1.ª série, n.º 14 de 30 abril 1984 |
Enquadramento
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Urbano, adossado, no interior da povoação, junto ao outeiro de Santa Ana, sobre o qual se ergue a Capela de Santa Ana (v. PT071901150126), e sob o qual existe nascente muito forte. As fontes dispõem-se a NE. de amplo largo, pavimentado a calçada, e adossadas a muro divisório de várias casas, com perfil recortado e adaptado ao declive do terreno, compostos por silhares de pedra com as juntas tomadas e pintadas de branco. Ao longo do muro e em frente das fontes e dos tanques, existe passeio em lajes de cantaria. A fonte relicário dispõe-se num recanto do muro e a fonte de espaldar dispõe-se sobre plataforma retangular composta por dois degraus tendo, do lado esquerdo, gradeamento adossado. |
Descrição Complementar
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A fonte de espaldar tem no remate a inscrição "SENADO E POVO / EM 22 DE AGOSTO / de 1824"; no corpo surge brasão com as armas de Portugal, sobre esfera armilar e cruz de Cristo, [de prata], com cinco escudetes [de azul] postos em cruz, cada escudete carregado de cinco besantes em cruz [de prata] e bordadura [de vermelho] carregada de sete castelos [de oiro]. Sob o brasão tem a data de "1824" inscrita. |
Utilização Inicial
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Hidráulica: chafariz |
Utilização Actual
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Hidráulica: chafariz |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 17 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1503, 23 março - na carta de D. Manuel elevando o lugar a vila, enaltece-se "a muito boa fonte" ali existente; séc. 16, 1ª metade - o Dr. Gaspar Frutuoso salienta "um chafariz de mais e melhor água, e nascida antre duas pedras, que quantas há em todas as ilhas, e com a qual moem de represa três moinhos"; 1704, setembro - Inácio Ferreira da Costa descobre outro veio de água, num pequeno cercado, ao fim da Rua das Flores, de caudal tão grande que movia as azenhas do Arrabalde; 1717 - o padre António Cordeiro na sua "História Insulana" corrobora a afirmação de Frutuoso, mas na época a fonte já accionava quatro moinhos, acrescentando "e antes disso, e só dez braças da fonte, corre dela um grande chafariz com três bicas de pedra, e de boca de bala de dez libras, e ainda transborda água, e contudo as mais das casas têm poços com excelente água"; 1824, 22 agosto - data inscrita na fonte de espaldar, assinalando a sua construção pela Câmara que, devido à água dos poços particulares "se escoar", manda encanar a porção de água que considera suficiente para beber; 1842, 23 maio - início da obra de encanamento das águas da fonte da nascente do Pico da Cruz, sob a responsabilidade de Manuel Gonçalves Fagundes, a qual se junta às duas nascentes que alimentavam as fontes; 1844, 22 junho - conclusão da obra do encanamento de água, informando o padre Jerónimo Emiliano de Andrade, que se conseguira quebrar o duro rochedo, que cobria aquela caverna, e nele se abrir uma grande brecha por onde se extraía a água, e encanando-o ao longo de 10 km; para a obra muito contribuiu Ferreira Drumond, presidente da Câmara de São Sebastião, que venceu a oposição dos proprietários da mina, obrigando-o a expropriações, e resultando no caudal do Pico da Cruz, nascente do Cabrito, antes de ser encaminhado para a vila da Praia da Vitória; 1864 - Francisco Ferreira Drumond refere que a pequena ribeira formada pelas duas nascentes das fontes aciona nove moinhos; 1891 - o padre Jerónimo Emiliano de Andrade refere que o solo da vila de São Sebastião era quase todo "repassado de águas doces, e cristalinas, e em quase todas as casas há um poço delas para usos domésticos"; refere ainda a existência de três fontes abundantes, duas delas tendo o seu nascimento muito próximo, com águas correndo por dois grandes chafarizes, e daí passando para dois grandes depósitos, que servem para fazer trabalhar vários moinhos em alguns dias das semanas; 1946 - construção dos tanques públicos que existem junto das bicas; 1955 - data da ligação da rede de água domiciliária levando ao bandono progressivo do uso da água das fontes; 1974, cerca - segundo Pedro de Merelim, a água da fonte nunca seca e mesmo no estio abastece as populações circunvizinhas de meia légua ao redor; a água é puríssima, fria e cristalina, tendo-se chegado a atribuir virtude medicinal; os facultativos mandavam-na levar às farmácias. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria ou cantaria de basalto aparente, ou rebocado e pintado; juntas tomadas e pintadas; réguas e elementos metálicos; porta de madeira. |
Bibliografia
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MERELIM, Pedro de - As 18 paróquias de Angra. Sumário Histórico. Angra do Heroísmo: Tipografia Minerva Comercial, 1974. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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SIPA |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Observações
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*1 - O padre Jerónimo Emiliano de Andrade, na sua obra "Topografia" refere que "A furna d'agua do Pico da Cruz só por si é capaz de inspirar todos estes sentimentos. Em seu profundo e dilatado antro ninguém pode entrar sem impressões de susto e pavor. Os pés vacilam caminhando por esta habitação de sombras e trevas. Lá ao longe um raio de luz, penetrando por uma rotura de abóbada denegrida, deixa ver um violento repuxo de água, rebentando em borbotões d'entre as pedras com precipitação e estrondo pavoroso. Por várias fendas das rochas laterais, que sustentam o pesado tecto desta vasta caverna, se observam outras correntes que depois se vão reunir, e formar uma grande torrente d'água pura e dulcíssima, que se precipita e esconde debaixo da terra". |
Autor e Data
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Paula Noé 2013 |
Actualização
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