Edifício e Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Beja
| IPA.00000924 |
Portugal, Beja, Beja, União das freguesias de Beja (Santiago Maior e São João Baptista) |
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Arquitectura religiosa, renascentista, maneirista. Antes do restauro podia integrar-se na tipologia das capelas de Misericórdia com o espaço reservado à capela-mor marcado pelo pavimento alteado ao qual davam acesso escadas. A primitiva galilé *3 destinada a alojar os açougues é um caso único da arquitectura do renascimento entre nós: loggia de planta quadrangular, rasgada por arcadas plenas, com pilastras e cunhais em aparelho bujardado e entablamento liso; interior de 2 naves de 3 tramos quadrados cobertos por abóbadas sobre colunas de capitéis coríntios. A junção da nave transversal para adaptação a novas funções, com proporções e um diferente sistema de abobadamento e suporte vem perturbar a harmonia inicial, num espírito marcadamente maneirista. O restauro veio criar um espaço novo e ambíguo, na tentativa de recriar a galilé inicial, não atendendo ao facto de que à mesma se acrescentara uma nave transversal posterior, para transformar o primitivo espaço em capela da Misericórdia. O retábulo de talha, de planta ligeiramente concâva, dinâmica, e sem camarim *2. |
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Número IPA Antigo: PT040205130006 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Edifício de Confraria / Irmandade Edifício, igreja e hospital Misericórdia
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Descrição
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Planta longitudinal, composta pelo corpo quadrangular da galilé a que se adossam a N. os corpos rectangulares irregulares da capela-mor e anexos. Volumes articulados com coberturas diferenciadas, em terraço sobre a galilé, em telhado sobre a capela-mor e anexos. Fachada principal virada a S., de paramento rusticado de 3 panos rasgados por 3 arcos redondos separados por pilastras, cunhais apilastrados, arquitrave encimada por murete com bolas sobre ressaltos no alinhamento das pilastras e cunhais; 3 panos também nas fachadas laterais, os 2 primeiros repetindo o esquema compositivo da fachada principal, o 3º com paramento liso apenas vazado por um vão rectangular. INTERIOR: na galilé distinguem-se as 2 primeiras naves, correspondentes ao espaço rasgado por arcadas, com 3 tramos de planta quadrada com abóbadas de cruzaria de ogivas, estribados em colunas de fuste cilíndrico com capitéis coríntios e em meias colunas adossadas ao intercolúnio; uma 3º nave transversal, separada das anteriores por arcos a pleno centro sobre pilastras, com 3 tramos rectangulares cobertos por abóbadas de nervuras, assentes em mísulas e em pilastras; metade do pavimento desta nave é alteado em supedâneo com acesso por escadas laterais e uma central. Um portal de vão rectangular moldurado com frontão triangular rasga a parede de fundo, dando acesso à capela-mor, coberta por abóbada de berço; idêntica cobertura na capela E., abóbada de cruzaria de ogivas na capela oposta |
Acessos
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Praça da República e Rua de Alcobaça e Rua da Misericórdia |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 22 744, DG, 1.ª série, n.º 142 de 27 junho 1933 / ZEP, Portaria, DG n.º 287 de 07 dezembro 1956 *1 |
Enquadramento
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Urbano, destacado. Inserida no casario envolvente, deita a fachada principal para a praça principal da cidade, onde se situa o edifício moderno da Câmara Municipal e o pelourinho; as fachadas laterais abrem para 2 ruas que convergem nessa praça. |
Descrição Complementar
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Silhar de azulejos polícromos de padrão seiscentista corre a parede fundeira e o murete de separação do supedâneo, no 3º tramo da galilé. Gradeamento em ferro em balaustrada separando a zona alteada e vedando o acesso na zona das arcadas. |
Utilização Inicial
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Religiosa: edifício de confraria / irmandade |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: museu |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 16 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido |
Cronologia
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Séc. 16, início do 2º terço - construção da galilé (2 primeiros tramos) por iniciativa do Infante D. Luis, Duque de Beja, irmão de D. João III, destinada a alojar os açougues da cidade; 1550 - atendendo à grandiosidade da obra, D. Luis doou-a à Confraria da Misericórdia que então ocupava a Igreja de Santa Maria da Feira (v. 0205110010); terão então sido feitas obras de adaptação da galilé a igreja, acrescentando-se uma terceira nave transversal, na qual é instalado o altar-mor, entaipando-se com alvenaria o espaço entre as arcadas da galilé, que é rasgado por 3 portas em cada um dos panos e rematando-se o pano central da fachada com um frontão; Séc. 19, 1ª metade - a igreja é profanada, passando a funcionar como oficina municipal; 1927 - construído um depósito de água de abastecimento à cidade e o mesmo instalado na cobertura da igreja; 1941 / 1944 - campanha de obras de restauro pela DGEMN; 1946 - desentaipamento das arcadas e adaptação de anexos situados do lado N.; desmontagem de 3 altares de talha e do púlpito, tendo os mesmos sido numerados e encaixotados; 1947 - o retábulo do altar-mor de talha, ainda se encontra no local; 1951 - já retirado o retábulo-mor; 1953 - entaipados com alvenaria os vãos dos altares laterais; 1954 - descoberto, durante as obras de restauro, pórtico de cantaria correspondente à passagem subterrânea encoberta por maciço de alvenaria demolido sob o antigo altar-mor; 1955 - orçamentada a reconstrução de altar de talha dourada compreendendo restaurar e dourar a ouro de imitação; em Abril a Direcção de serviços de monumentos Nacionais solicita ao Director-Geral da DGEMN confirme o despacho do Ministro das Obras Públicas em que autoriza a Casa de Santa Maria de Beja a "escolher da talha que pertenceu à Igreja da Misericórdia desta cidade, actualmente encaixotada e guardada no Castelo, toda a que necessitasse para a Igreja de Santo António;em Julho o Arq. Rui Couto informa que se procede à "escolha de talha para o altar"; em Agosto ainda não se encontram concluídos os trabalhos de talha a fazer no altar; em Setembro são transportados "os restos da talha que não tiveram aplicação no Convento de Santo António e com os quais se vai providenciar no sentido de se fazer o altar-mor"; em Outubro dá-se por concluído o "trabalho de carpintaria de arranjo de uma mesa de altar; em Novembro o Arq. Rui Couto informa que "foi transportada do Castelo de Silves, para a Igreja da Misericórdia de Beja, a talha que havia em depósito, a fim de se proceder à construção dum altar para esta Igreja, pois a talha existente no Castelo de Beja e que se destinava a este fim, foi na quasi totalidade cedida para a Igreja de Stº António de Beja. Está-se agora a proceder à montagem de um altar aproveitando a talha trasportada para a Igreja da Misericórdia" *2; em Dezembro encontra-se "parcialmente montado (...) o altar executado com o aproveitamento da talha transportada do Castelo de Silves"; o púlpito e 4 pinturas sobre tábua do pintor António Nogueira encontram-se expostos no Museu Regional de Beja (v. 0205110004); 1956 - orçamentadao "raspar completamente toda a talha do altar-mor, aparelhar e betumar a talha, dourar a ouro fino de imitação com patine toda a talha e marmorear os fundos da mesa de altar". |
Dados Técnicos
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Estrutura autónoma e estrutura mista. |
Materiais
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Elementos de suporte e arcos em pedra mármore de Trigaches e cantaria, alvenaria de pedra e tijolo argamassada e cantaria nos muros, cunhais reforçados a granito. Abóbadas em tijolo maciço e coberturas em laje de cimento, em terraço coberto por tijoleira e em madeira; telha de canudo. Pavimentos de pedra mármore e tijoleira cerâmica. Fundações de granito |
Bibliografia
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BRITO, Diogo de Castro e, Exposição sobre as obras em curso de restauro na extinta Igreja da Misericórdia de Beja, Arquivo de Beja, Vol. 10, Beja, 1953; CAETANO, Joaquim de Oliveira, O antigo retábulo de pintura da capela-mor da igreja da Misericórdia de Beja, A cidade de Évora, Évora, 1982; DGEMN, Igreja da Misericórdia de Beja, Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nº 83, Lisboa, 1956; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Beja, Lisboa, 1993; GOODOLPHIM, Costa, As Misericórdias, Lisboa 1897; Património Artístico de Beja, Arquivo de Beja, Vol. 1, fasc. 4, 1944; HAUPT, Albrecht, A Arquitectura da Renascença em Portugal, Lisboa, 1986; MARGALHA, Maria Goretti, Igreja da Misericórdia de Beja. Estudo das suas rochas e Inspecção visual do estado de conservação do edifício da Igreja da Misericórdia em Beja, (trabalhos policopiados apresentados no Mestrado de Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico da Universidade de Évora), Évora, 1995; IDEM, Análise das Intervenções na Igreja da Misericórdia de Beja à luz da Teoria e da Ética da Conservação, Arquivo de Beja, 3ª série, Vol. 1, Abril, 1996; SERRÃO, Vítor, A talha da Sé de Silves, Revista Monumentos, nº 23, Lisboa, 2005; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1956, Lisboa, 1957; RIBEIRO, Cação, A igreja da Misericórdia de Beja, Arquivo de Beja, 2ª série, Vol. 3, 1986; SEGURADO, Jorge, Francisco de Olanda, Lisboa, 1970. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1941 - orçamentados o apeamento e reconstrução de 4 altares colaterais e um na capela-mor, de talha, incluindo reparações; 1944 - 1947 e 1949 - reconstrução da cobertura terraço, reconstrução da platibanda na fachada lateral esquerda; 1946 - 1947 - desentaipamento das arcadas e adpatação de anexos a N.; desmontagem de 3 altares de talha e de um púlpito, incluindo a sua numeração e encaixotamento; 1951 - 1953 - entaipamento com alvenaria dos vãos altares laterais; 1954 / 1956 - desentaipamento dos arcos, reparação de cantarias, consolidação da abóbada, rebocos e pavimentos; reconstrução do altar-mor incluindo restaurar e dourar; 1986 - obras de fixação de azulejos e recuperação pavimentos da entrada: demolição de pavimentos de tijoleira em ruína e assentamento de novo; reparação de cornijas, gárgulas e cimalhas; reconstrução de rebocos no interior das arcadas e no exterior do edifício; limpeza e isolamento da cobertura; pintura de portas, caixilhos e grades de ferro; reparação painéis de azulejo sob as arcadas, incluindo levantamento, reassentamento e colocação de azulejos em falta. |
Observações
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*1 - DOF... abrangendo, a título provisório, todos os altares lá existentes e especialmente o primeiro do lado do Evangelho, a contar da porta de entrada, ainda do século XVI, bem como o primeiro e respectiva pintura, obra de Reinoso, e ainda as grades, bancada e nomeadamente o púlpito, exemplar do século XVI, invulgar entre nós, e as duas pias de água benta, em mármore de Estremoz; *2 - Francisco Lameira (LAMEIRA, 2005) identifica toda a talha do retábulo-mor, excepto a mesa de altar e o ático, como proveniente do retábulo da Capela do Santíssimo Sacramento da Sé de Silves (v.0813070003); todavia as fotos existentes do retábulo de Silves, de 1938, antes do seu apeamento, mostram uma estrutura retabular diversa, tendo-se, quanto muito, aproveitado apenas as pilastras do 2º registo aplicadas aqui ao nível do banco e sotobanco; *3 - O actual portal da parede fundeira da galilé era o portal que rasgava o paramento do alçado principal da Igreja da Misericórdia, para aí transposto durante o restauro. |
Autor e Data
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Isabel Mendonça 1993 / Rosário Gordalina 2005 |
Actualização
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Maria Fernandes 1998 |
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