Santuário de Nossa Senhora da Piedade

IPA.00009515
Portugal, Coimbra, Lousã, União das freguesias de Lousã e Vilarinho
 
Santuário Mariano formado pelo conjunto de quatro capelas erigidas em épocas diferentes, aglutinando-se três no morro fronteiro ao castelo num conjunto pitoresco de rústica simplicidade, formando um equilibrado conjunto paisagístico e arquitectónico; junto ao castelo situa-se a capela do Senhor dos Aflitos, de construção mais recente, de perfil revivalista neo-românico ao nível dos vãos, das cantarias das fachadas e do que resta do altar.
Número IPA Antigo: PT020607030033
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Santuário  

Descrição

Santuário composto por quatro capelas, ficando no morro fronteiro ao castelo as capelas, de São João, do Senhor da Agonia, e de Nossa senhora da Piedade; junto ao castelo fica a capela do Senhor dos Aflitos. O acesso às capelas do morro fronteiro ao castelo é feito a partir do adro da capela de São João por uma escada rampeada revestida por lajes de xisto, na subida encontra-se a capela do Senhor da Agonia que junto tem um cruzeiro. CAPELA DE SÃO JOÃO, é a primeira ermida perto da base do penhasco, de planta longitudinal, composta por nave, capela-mor, sacristia, e um alpendre a preceder a fachada principal. Cobertura em duas águas, fachadas rebocadas e pintadas de branco. Fachada principal em empena angular vazada por janela de arco apontado, protegida por vidro colorido, remate em cornija, à esquerda possui sineira. Sob o alpendre surge o portal principal em arco apontado, com moldura pintada de amarelo, flanqueado por duas pequenas janelas em arco de volta perfeita de moldura em cantaria. INTERIOR, revestido e pintado de branco, com cobertura em masseira, de madeira pintada de azul. Arco triunfal em arco de volta perfeita, sobre pilastras e duas colunas adossadas, sobre plintos paralelepipédicos, flanqueado por dois retábulos colaterais em talha pintada de marmoreados fingidos. Capela-mor, revestida por silhar de azulejos de padrão, azul e branco, e com porta de ligação à sacristia, altar-mor com frontal em azulejo de bicromia azul e amarelo sobre fundo branco, de decoração vegetalista, retábulo em talha policromada. CAPELA DO SENHOR DA AGONIA E CRUZEIRO, situam-se a meio da escada rústica, de pequenas dimensões, destacando-se no interior um painel de azulejos monocromáticos, azul sobre fundo branco. Cruzeiro, a cruz assenta em coluna sobre pedestal, este com a seguinte inscrição "Esta obra mandou fazer o capitão Francisco Barbosa natural desta vila, era de 1624". CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE: localizada no cume do penhasco, de planta rectangular, coberturas diferenciadas, a duas águas no corpo da capela e a três águas no alpendre. Fachadas rebocadas e pintadas de branco. Fachada principal em empena angular, antecedida de alpendre suportado por duas colunas toscanas sobre plintos paralelepipédicos, portal em arco alteado, com moldura em cantaria. CAPELA DO SENHOR DOS AFLITOS, muito arruinada, com adro envolvente, ao qual se acede através de pequena escada de pedra. Planta longitudinal, fachadas rebocadas e pintadas de branco, circunscritas por cunhais apilastrados, sendo os remates das fachadas laterais em cornija de cantaria, percorrida por cahorrada. Fachada principal, em empena recortada, coroada nos flancos por acrotério e ao centro por cruz latina, com portal em arco de volta perfeitas sobre colunas com capiteis de decoração vegetalista, flanqueado por dois bancos de cantaria e por duas janelas de arco idêntico ao do portal. Fachadas, laterais e a posterior cegas. INTERIOR, destelhado e cheio de entulho, com as paredes revestidas e pintadas de branco, percorridas por um silhar de azulejos de monocromia azul sobre fundo branco, na parede testeira destaca-se o que resta do alta-mor, um nicho em arco de volta perfeita sobre colunas de fuste cruciforme, com capitel idêntico aos do portal, mesa de altar em cantaria com frontal decorado por baixo-relevo figurativo, representando dois anjos a ladear um cálice eucarístico.

Acessos

Estrada do Castelo. a cerca de 2 Km SE. da Lousã.

Protecção

Incluído na Zona Especial de Protecção do Castelo (v. PT020607030001)

Enquadramento

Rural. Na margem esquerda do rio Arouce ou ribeira de São João, em penhasco que se liga à serra por meio de um istmo, no local onde o leito do rio, encaixado entre duas escarpadas a pique tão características dos maciços xistosos, apresenta curva e contracurva, descrevendo um S. Na margem oposta situam-se o Castelo de Arouce (PT020607030001) e na proximidade deste num pequeno adro escavado na vertente, a capela do Senhor dos Aflitos. O santuário encontra-se extremamente bem integrado constituindo um conjunto paisagístico muito equilibrado.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: santuário

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Coimbra) / Pessoa singular (capela do Senhor dos Aflitos)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 15 / 16 / 17 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ESCULTOR: João Machado (1912)

Cronologia

Séc. 15 - Provável construção da Capela de São João, tendo o Ermitão, numa provisão de D. Afonso V, sido autorizado a pedir esmola; séc. 16 / 17 - provável construção da Capela de Nossa Senhora da Piedade; 1624 - data inscrita no cruzeiro, que significa que todas as obras para cima da Capela de São João foram feitas após esta data, pelo Capitão Francisco Barbosa que era um cristão-novo e que, por isso, alardeava zelo religioso para afugentar suspeitas de judaísmo; 1712 - referência no Santuário Mariano, à ermida de Nossa Senhora da Piedade, deixando Fr. Agostinho de Santa Maria antever que a sua construção seria muito mais antiga *2; séc. 17 - azulejos do frontal do altar-mor da Capela de São João; sec. 18, final - porta de ferro da Capela do Senhor da Agonia; 1802 - construção da Capela do Senhor da Agonia; séc. 19, 2ª metade - obras de restauro e ampliação executadas na ermida da Senhora da Piedade mandadas fazer pela viscondessa do Espinhal tendo sido "construídas novas muralhas para darem maior amplitude aos terreiro junto das ermidas que eram escassos em dias de romaria e festejos. Para um destes terreiros canalizou-se a água com vista à comodidade dos romeiros e visitantes; sec. 20 - obras na Capela de São João (porta principal e lateral, imagem de SãoIHRU: João e outras); 1912 - construção da capela do Senhor dos Aflitos (DIAS, 1985).

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Pedra (pavimentos interiores); pedra calcária (cantarias da capela do Senhor dos aflitos); alvenaria de pedra (estrutura das capelas); telha cerâmica (cobertura exterior).

Bibliografia

ARAÚJO, Ilídio - «Ermidas de Nossa Senhora da Piedade ou Santuário da Senhora da Piedade (1624)» in Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa: Direção Geral dos Serviços de Urbanização, 1921, vol. I; BORGES, Nelson Correia - Coimbra e Região. Lisboa: Editorial Presença, 1987; CORREIA, Vergílio e GONÇALVES, A. Nogueira - Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Coimbra. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1952; COSTA, Carvalho da (Padre) - Corographia Portugueza... Lisboa: Oficina de Valentim da Costa Deslandes, 1708, tomo II; DIAS, Pedro e REBELO, Fernando, Lousã. A terra e as gentes. Lousã: Câmara Municipal da Lousã, 1985; LEMOS, Álvaro de - Lousã e o seu concelho. Lousã: s.n., 1951; MARIA, Frei Agostinho de Santa - Santuário Mariano..., Lisboa: Officina de António Pedrozo Galrão, 1712, vol. IV; PEREIRA, Esteves e RODRIGUES, Guilherme - Dicionário histórico e geográfico de Portugal, Lisboa: 1909; SAMPAIO, Adrião Forjaz de - Uma viagem à Serra da Lousã. 2.ª ed. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1850.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Arquivo Pessoal de Ilídio de Araújo (IAA)

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Todos os anos, em Maio, esta imagem desce em procissão até à Lousã, onde lhe são feitas grandes festas. No domingo imediato a 5ª feira de Ascensão, nova procissão, bem ordenada e solene, faz o percurso inverso, restituindo a Santa à ermida da serra. O espectáculo é incomparável, visto do miradouro de Nossa Senhora da Piedade (num penhasco sobranceiro): a procissão é um autêntico harmónio que se desloca nesta serra ainda mais bela, coberta de flores e beijada pelo sol da manhã. Das romarias de outrora ficou a lembrança de algumas cantigas populares: se não fossem os milagres/não vinha cá tanta gente. Senhora da Piedade entre vales e outeiros:/ agora vem a chegar/ o rancho dos papeleiros; *2 - Descrição do Santuário da Senhora da Piedade, publicado por Frei Agostinho de Santa Maria no Santuário Mariano, de 1712: "Vê-se este santuário fundado sobre um promontório semelhante ao que lhe fica de fronte ao Ocidente, aonde se vê o castelo. Deixando este à direita, se vai descendo pela serra abaixo por um bastante caminho, encostado a ele pela esquerda, e fica esta serra tão eminente, que parece chegar às nuvens; depois voltando outra vez para o Nascente se desce o rio, por onde passa por umas tábuas, que dão passagem aos romeiros em o verão, e se sobe ao promontório referido por algumas cortaduras que se fizeram naquele rochedo, por distância de alguns quarenta palmos de alto, onde se dá princípio a uma escada, que vai a espaços até à ermida de São João Baptista por distância de mais de sessenta degraus. Das portas desta à mão esquerda se sobe por outra escada que em diversos lanços se chega a uma varanda ou tabuleiro por quarenta e seis degraus. Nesta se vê um padrão com uma cruz e no pedestal dela se lêem estas palavras em uma pedra: esta obra mandou fazer o capitão Francisco Barbosa natural desta vila, em 1624. Deste padrão se sobem mais trinta e dois degraus à ermida da Senhora da Piedade, que fica mais no alto daquela penha, ou eminente rochedo, e faz em cima uma área, que terá de comprido 25 palmos, pouco mais ou menos; no meio dele se levanta o santuário da Senhora da Piedade que é tão pequeno que o seu vão não passa de sete palmos em quadro. Ao redor dele podem dar os peregrinos as voltas que quiserem, porque está cercado este plano com parapeitos de quatro palmos em alto. E dizem por tradição que quando se faz esta obra, andavam os que trabalhavam nela presos por cordas, porque não se despenhassem no rio".

Autor e Data

Sandra Lopes 2004 / Margarida Silva 2006

Actualização

 
 
 
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