Castelo de Moura / Castelo e Cerca Urbana de Moura
| IPA.00000993 |
Portugal, Beja, Moura, União das freguesias de Moura (Santo Agostinho e São João Baptista) e Santo Amador |
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Arquitectura militar medieval e arquitectura religiosa, gótica, maneirista e revivalista. Sistema fortificado constitído por castelo medieval e fortificação moderna, do tipo abaluartado. Castelo implantado em zona elevada, composto por alcáçova e barbacã, nalguns pontos com adarve, torres de reforço circulares e quadrangulares, torre de menagem rectangular no muro que separa a alcáçova da barbacã; chanfro das portas e capitéis da torre de menagem característicos do gótico tardio; a alcáçova era inicialmente defendida por um forte dispositivo: circundada em todo o seu perímetro por uma barbacã através da qual se abriam as suas 2 portas, uma junto à torre de menagem, que ainda existe, a porta da Alcáçova, a outra já desaparecida, junto ao muro exterior, a S., defendida por 3 portas sucessivas, através de um caminho em ziguezague, a porta secreta (Almeida, 1943, p. 49, 51, 53 - desenhos de Duarte Darmas). No contexto das Guerras da Restauração, a povoação vai ser envolvida por linha de baluartes e revelins traçada por Nicolau de Langres, constituindo uma fortificação de planta em estrêla, com paredes rampantes, fosso e quatro portas de acesso ao interior, da qual subsistem quatro troços de muralha. Adaptação oitocentista de uma das torres a torre do relógio; igreja conventual de nave única, com coro-alto profundo e galilé rasgada por arcadas. Da muralha árabe que o castelo dionisino incorporou restam vestígios em taipa na torre rectangular junto à porta principal e muro que a liga à torre do relógio e ainda num pequeno troço na muralha N. (Macias, 1986). A torre de menagem situa-se sobre a muralha que separa a alcáçova da cerca; a construção do muro separador da alcáçova responde a um novo modelo de sociedade, acompanhado por crescente militarização do espaço intramuros. Nas imediações do castelo de Moura existem ainda 7 atalaias que reforçavam a sua segurança. A igreja de Santa Maria terá respeitado os muros da mesquita; a capela dos supostos conquistadores de Moura virada a SE. estará no lugar da "quibla" (Macias, 1993, p. 131). |
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Número IPA Antigo: PT040210070006 |
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Registo visualizado 3455 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Militar Castelo e cerca urbana
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Descrição
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Planta composta por castelo e muralhas. CASTELO: barbacã de planta ovalada (200 x 120 m. de dimensões máximas), ocupando a alcáçova a extremidade SO. da mesma (100 x 50 m. de dimensões máximas). Esta está separada da cerca por pano de muralha, reforçado na parte média pela torre de menagem, rectangular, ladeada por uma outra torre menor, também rectangular (de que apenas subsiste a parte inferior, maciça) e por um cubelo semi-circular próximo da junção com a muralha exterior a N.; a torre de menagem e o cubelo circular do muro da alcáçova mostram merlões prismáticos de remate piramidal; a torre de menagem, maciça na parte inferior, tem no 1º piso uma sala de planta octogonal coberta por abóbada de cruzaria de ogivas, assente em 8 colunas de fuste delgado, a Sala dos Alcaides; é atravessada por um corredor que faz a comunicação com o adarve e do qual parte a escada para o terraço. No encosto do muro da alcáçova com a muralha da cerca restam vestígios de torreões quadrangulares. Na cerca são ainda visíveis alguns panos da muralha, parte da barbacã (do lado N.), uma torre trapezoidal, junto à torre do relógio e 2 torres de planta circular, chanfrada na parte de trás: a torre de Selúquia, a NE., a torre do relógio, a SE.; a torre de Selúquia, semi-destruída, mostra no muro posterior o resto de uma arco idêntico aos que se encontram no seu interior e que acompanhavam a escada para o terraço; a torre do relógio é coberta por terraço rodeado por merlões prismáticos de remate pentagonal; neste assenta um torreão ameado de planta quadrada; é atravessada por um corredor que dá acesso ao terraço. Os panos de muralha são verticais, alguns ainda com o adarve, sem merlões. Das portas que rasgavam a muralha restam: a Porta da Alcáçova, rasgada na muralha que a separa da cerca, entre a torre de menagem e a torre menor a seu lado, em cujo vão se notam restos de um arco em ferradura; a Porta Principal, a SE., em arco levemente quebrado sobre impostas, inscrito em alfiz, dando acesso a um corredor em cotovelo que passa sob o edifício da biblioteca; um postigo, a NO., em arco quebrado na muralha. IGREJA E CONVENTO DE SÃO DOMINGOS - planta composta pelo rectângulo da igreja a que se adossa uma capela lateral a S. e vários compartimentos conventuais quadrangulares, a N. e E.. A igreja é coberta por telhados de 2 águas, o convento não tem cobertura; sineira junto à capela-mor, a N.. A fachada principal da igreja, orientada, com empena rematada por enrolamentos, é rasgada por 2 vãos rectangulares e por 3 arcos de acesso à galilé, coberta por abóbadas de aresta sobre mísulas. Na fachada lateral S. rasga-se um portal de verga contracurvada. Do acesso à portaria do convento resta um portal rasgado no muro, em ruínas, no prolongamento da capela-mor, com as armas da fundadora no tímpano. INTERIOR: nave única coberta por telhado à vista, coro-alto profundo sobre a galilé e parte da nave; do lado da Epístola capela lateral com o túmulo manuelino dos 2 irmãos Pedro e Álvaro Rodrigues, os 2 alegados estrategas da conquista da vila em 1166. Capela-mor coberta por abóbada de berço redondo, abrindo para a nave por arco triunfal redondo sobre pilastras. |
Acessos
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Calçada do Castelo, Praça Sacadura Cabral |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 33 587, DG, 1.ª série, n.º 63 de 27 março 1944 (Castelo) *2 / MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n. º 169/2013, DR, 2.ª série, n.º 67 de 05 abril 2013 (Muralhas Modernas de Moura) |
Enquadramento
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O Castelo ergue-se na parte mais elevada da vila, do lado NE., sobre um monte em forma de esporão, com 184 m. de alt., erguendo-se a cavaleiro da confluência de 2 afluentes do rio Ardila, as ribeiras de Brenhas e de Lavandeira; dentro da barbacã situa-se o convento dominicano, próximo da entrada da Alcáçova, para a qual a igreja volta a fachada principal. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Militar: castelo e cerca urbana |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Câmara Municipal de Moura, auto de cessão 08 Maio 1959 (Castelo) |
Época Construção
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Séc. 11 / 13 / 14 / 15 / 16 / 17 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Francisco de Arruda (campanha de obras manuelina do Castelo) |
Cronologia
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Séc. 11, meados - séc. 12 - data provável de construção da muralha árabe, provavelmente sobre um castro da Idade do Ferro romanizado; 1166 - aquando a conquista do castelo, por Pedro e Álvaro Rodrigues, a moura Salúquia, precipita-se do alto da torre de menagem, morrendo despedaçada no terreiro, evitando assim ficar escrava dos cristãos *3; 1171 - foral por D. Afonso I; 1217 - confirmação do Foral por D. Afonso II; 1295 - posse definitiva do castelo por parte de Portugal e novo Foral; 1296 - a comunidade moura recebeu também foral; Séc. 14, inícios - construção do castelo, aproveitando parte das muralhas árabes (Cabral, 1991); 1320 - doação pela Ordem de Aviz do terço das rendas das igrejas de Serpa e Moura para o "refazimento e mantimento dos alcáceres dos ditos castellos" (Macias, 1986 e 1993); séc. 14, 2ª metade - construção de uma segunda cerca muralhada necessária pelo aumento da população, por iniciativa de D. Fernando; séc. 15 / 16 - alterações sob a direcção de Francisco de Arruda, em que se incluíu a construção do muro separador da alcáçova e possivelmente das torres de Salúquia e do relógio (Macias, 1993); 1509 / 1510 - Os desenhos de Duarte de Armas representam o castelo de planta irregular, composta por castelejo envolto por barbacã à qual se ligava o muro da vila; 1512 - Foral novo por D. Manuel I; 1562 - fundação do convento de freiras dominicanas dentro da cerca do castelo, por D. Ângela de Moura, aproveitando parte das fundações da mesquita (Macias, 1993); 1655 - reforço da fortaleza medieval, durante as guerras da Restauração, com a construção de uma linha envolvente de obras de tipo abaluartado, defendidas por revelins, segundo projecto de Nicolau de Langres, por iniciativa de D. João IV; 1707 - as muralhas são dinamitadas a seguir à retirada do duque de Ossuna, nas Guerras da Sucessão; 1755 - a fortificação moderna sofre danos com o terramoto; 1809 / 1826 - os muros do castelo (taipa) são usados como matéria prima para o fabrico de salitre; 1850 - demolição do muro O. da alcáçova por José Pimenta Calça, para aí construir o lagar de Vista Alegre; 1875 - o convento é abandonado; durante o séc. 19 é construída a torre do relógio; 2002, 08 de Março - publicado em Diário da República, nº 57, Anúncio de Concurso Público para adjudicação empreitada de valorização paisagística do Castelo; 2005 - proposta de classificação da Fortificação Moderna, pela autarquia; 2006, 31 janeiro - Proposta de abertura do processo de classificação da Fortificação Moderna pelo IPPAR/DRÉvora; 2006, 02 fevereiro - Despacho de abertura do processo de classificação da Fortificação Moderna, pelo Presidente do IPPAR; 2010, 30 novembro - Proposta de classificação como IP da Fortificação Moderna e de fixação de quatro ZEP (uma para cada um dos troços das muralhas), pela DRCAlentejo; 2010, 30 dezembro - Procedimento de classificação da Fortificação Moderna prorrogado pelo Despacho n.º 19338/2010, DR, 2.ª série, n.º 252; 2011 - durante as escavações arqueológicas realizadas no âmbito da construção do Posto de Recepção ao Turista, é descoberta uma lápide funerária do período romano, datável do Séc. 01 e a estrutura de uma edificação; 2011, 05 dezembro - Procedimento de classificação da Fortificação Moderna prorrogado até 31 de Dezembro de 2012 pelo Decreto-Lei n.º 115/2011, DR, 1.ª série, n.º 232; 2012, 09 maio - Parecer favorável à classificação e ZEP da Fortificação Moderna, pela SPAA do Conselho Nacional de Cultura; 2012, 11 outubro - Anúncio n.º 13541/2012 publicado no DR, 2.ª série, n.º 197, de projeto de decisão de classificação como MIP de quatro troços das muralhas modernas e fixação das respetivas ZEP; 2018, 14 agosto - publicado no DRn.º 156, 2.ª série, o Anúncio de procedimento n.º 6685/2018 relativo a Empreitada de Conservação das Muralhas Modernas da Cidade de Moura. |
Dados Técnicos
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Materiais
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Castelo - paredes de alvenaria - pedras de talhe irregular dispostas horizontalmente, separadas por fiadas de pedras menores; paredes em taipa. Igreja - alvenaria rebocada e caiada, cantaria, betão, madeira. |
Bibliografia
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ALMEIDA, João de, O Livro das Fortalezas de Duarte Darmas, Lisboa, 1943; IDEM, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, vol. III, Lisboa, 1948; CABRAL, Luiz d'Almeida, História da notável vila de Moura, Moura, 1991 (manuscrito do séc. XVIII, nº 151 da Biblioteca da Universidade de Coimbra); CORDEIRO, João Manuel, Da exploração do salitre em Portugal e com particularidade na villa de Moura, Lisboa, 1854; LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, Lisboa, vol. V, 1875; LIMA, José Fragoso de, Monografia arqueológica do concelho de Moura, Moura, 1988 (dissertação de Licenciatura, Faculdade de Letras de Lisboa, 1942); MACIAS, Santiago, As muralhas medievais de Moura, Arquivo de Beja, vol. III, 2ª série, Beja, 1986; IDEM, Moura na Baixa Idade Média: elementos para um estudo histórico e arqueológico, Arqueologia Medieval, nº 2, Mértola, 1993; MATTA, José Avelino da Silva e, Anais de Moura, Moura, 1991 (manuscrito de 1855, Biblioteca Municipal de Moura); MATTOS, Gastão de Mello de, Nicolau de Langres e a sua obra em Portugal, Lisboa, 1941; MOUCA, João da, Monumentos militares do concelho de Moura, Moura, Câmara Municipal de Moura, 2003 (não consultado); PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Portugal Diccionário, vol. IV, Lisboa, 1909. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS; BNP: E3812 P; Terracarta - Consultoria Geomática, Av. do Brasil, Lisboa, www.terracarta.org. |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS, IAN/TT: Gaveta 20, maço 4, doc. 14 (Publ. VITERBO) |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1959 - consolidação do torreão e muralha N.; 1961 - consolidação da muralha N. e Torre de Salúquia; 1964 - reconstrução da muralha N.; 1968 /1970 - consolidação de panos da muralha; 1971 - reparação da zona da alcáçova; 1972 - reconstrução da igreja; consolidação da muralha junto da alcáçova; 1977 - reconstrução da igreja; 1979 - recuperação junto ao Convento; 1981 - sondagens arqueológicas realizadas por D. Jorge Pinho Monteiro; 1982 - reparação da cobertura da igreja e tapamento de rombos nas paredes do convento; 1985 / 1986 - obras de recuperação; CM MOURA: 2017, 16 outubro - início das escavações arqueológicas no castelo; 2018, 14 agosto - publicação do Anúncio de procedimento n.º 6685/2018, em DR, 2.ª série, n.º 156/2018, relativo à empreitada de conservação das muralhas modernas da cidade de Moura, que incluem trabalhos de conservação das muralhas com recurso a injeção de caldas, pregagem e rebocos. |
Observações
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*1 - os troços modernos de muralhas abrangem igualmente a freguesia de Santo Agostinho; *2 - DOF... incluindo as ruínas do Convento das freiras Dominicanas e Igreja anexa; *3 - A vila tem por armas uma torre com uma mulher morta, evocando a moura Salúquia. |
Autor e Data
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Isabel Mendonça 1994 |
Actualização
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