Embaixada de Portugal em Brasília
| IPA.00014191 |
Brasil, Brasília DF, Brasília DF, Brasília |
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Edifício da chancelaria construído no séc. 20, inserido na orientação discursiva do "brutalismo" japonês e que, juntamente com a residência do embaixador, que acabou por não ser construída, é representativo de uma linha de produção arquitetónica que se queria assumidamente moderna, sem negligenciar o homem e a sua escala, e a envolvente. Apresenta planta retangular simples, adaptada ao declive do terreno, com fachadas de três pisos, revelando o característico e tipológico valor plástico do tratamento das superfícies, visto não procurar esconder a crueza estrutural do edifício, mas expô-la, deixando visíveis nas vigas e pilotis a marca das cofragens de madeira utilizadas, claramente na linha da corrente arquitetónica que se denominou de "brutalismo". A adaptação da estrutura ao clima é um elemento fundamental para a concretização da expressão plástica do edifício, não só através da utilização de determinados elementos arquitetónicos, como as palas e varandas alpendradas, mas também visível no recuo dos espaços fechados em relação ao resto do edifício, ambos para proteção da forte luminosidade da região, e pelo recurso a espelhos de água, para a refrigeração e correção higrométrica do ar. O programa arquitetónico procura organizar os espaços funcionais e racionais, amplos, articulados consoante os seus objetivos e hierarquias, mas que fossem, simultaneamente, confortáveis para os seus utentes. Esta ideia passa essencialmente pela procura da ligação constante entre o interior e o exterior, bem visível, por exemplo, na inclusão de poços de luz com floreiras no segundo piso ou pelos espelhos de água que envolvem a fachada. Apesar da sua conceção atual, o arquiteto não deixou de colocar no edifício elementos da arquitetura portuguesa tradicional, como as largas varandas cobertas e alpendradas, pátios com alegretes revestidos de azulejo, o espelho de água, as gelosias, os silhares de azulejo, pavimentos interiores em tijoleira e a tradicional calçada à portuguesa, em pedra calcária e basáltica. O arquiteto trouxe também influências da arquitetura brasileira produzida nos anos de 1960 e 1970, como os trabalhos de Lina Bo Bardi (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1957-1968) e de Vilanova Artigas (Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1969). A decoração é então reduzida ao mínimo, utilizando-se o azulejo e esculturas. |
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Número IPA Antigo: BR920600010001 |
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Registo visualizado 3211 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Político e administrativo central Embaixada
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Descrição
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Complexo formado pelo edifício da chancelaria, localizado no topo poente do lote, e a Praça de Portugal, situada no topo oposto. O edifício da chancelaria tem planta retangular simples, de um único volume, com cobertura em terraço. As fachadas, de três pisos, um deles parcialmente em cave, na zona norte, dada a inclinação do terreno de implantação, apresentam acentuada horizontalidade, conferida pelos parapeitos das varandas e pelas palas, cortada apenas pela verticalidade dos pilotis que denunciam a malha estrutural. O piso térreo é vazado, marcado apenas pelos pilotis e por duas entradas opostas, em escadaria, a disposta a norte reservada ao embaixador, e a disposta a sul de acesso aos serviços gerais da chancelaria e à sala polivalente, originando dois corpos quadrangulares distintos que se unem no primeiro piso. A parte norte do edifício tem o piso térreo envolvido por um espelho de água, que é delimitado, pelos dois lados, por pavimento em calçada à portuguesa, de desenho policromo, o qual atravessa perpendicularmente o edifício. O corpo sul tem ainda uma entrada perpendicular à fachada principal, sobre o espelho de água. O piso superior é circundado por varanda corrida, protegida por guarda plena, interrompida no terço superior, integrando, na face interna, pequenas floreiras retangulares, alternadas com bancos, revestidos a azulejo de padrão, protegidos por apertada pérgula, resultante do prolongamento das vigas da cobertura, e por painéis que, pendentes daquelas na vertical, contribuem para a proteção contra incidência solar. Dado o desnível do terreno, existem escadas exteriores de acesso à cave, uma inserida na fachada principal, e outra, em caracol, na fachada posterior. Na fachada norte sobressai de forma mais intensa a verticalidade dos pilotis e a caixa murária correspondente à parede da sala polivalente. INTERIOR: piso térreo composto pelos dois corpos quadrangulares, intercalados por átrio com pavimento em calçada à portuguesa e cobertura em betão, formando quadrículo larga. O corpo norte é formado pela entrada privada do embaixador, mais modesta, com pequeno vestíbulo, de paredes revestidas a azulejos, onde se desenvolve escadaria central, também revestida a azulejos, até ao piso superior. Os gabinetes de trabalho e de apoio, de planta quadrangular, dispõem-se em torno do vão do vestíbulo. A entrada a sul, de alguma monumentalidade, surge recuada, com a porta principal disposta ao centro, encimada por baixo-relevo em betão aparente, ladeada por duas portas confrontantes, intercaladas por painéis de azulejos esmaltados e relevados (2.30m x 4.60m). A porta lateral direita permite aceder aos serviços do segundo piso, através de escadas. No piso térreo encontram-se apenas a sala polivalente, revestida a apainelados de madeira, com palco no plano oposto ao da entrada, a biblioteca e compartimentos de apoio aos eventos a realizar. No piso superior, ficam os gabinetes de trabalho e de apoio aos serviços, desenvolvidos à volta de amplos poços de luz, de planta quadrangular, com floreiras centrais. A Praça de Portugal constitui um espaço livre, de planta retangular, onde se insere plataforma de definição quadrangular, com pavimento de motivos geométricos, policromos, ladeado por uma outra mais pequena, onde se dispõe o Monumento ao Infante D. Henrique, acedido por caminho delimitado por murete. Na zona ajardinada, mais próxima do edifício e a nascente do mesmo, está colocada uma escultura de chapa de ferro, metalizada e pintada, denominada "Cruz de Cristo" (3.20m x 3.20m x 3.20m), e no espelho de água, a poente, a escultura, em bronze, ilustrando a "Leda e o Cisne" (1.70 x 1.30 x 1.30m). |
Acessos
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Brasília, Setor de Embaixadas Sul, Quadra 801, Lote 2, Avenida das Nações |
Protecção
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Incluído no Conjunto de Brasília |
Enquadramento
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Urbano, implantado na cidade de Brasília, situada no Distrito Federal do Brasil, na região centro-oeste, a mil metros de altitude acima do mar, constituindo uma cidade piloto, construída de raiz entre as décadas de 1950 e 1970 para instalação integral da nova capital administrativa dos órgãos federais, sob a ação reformista do Presidente Juscelino KubitscheK de Oliveira e o plano delineado pelo arquiteto Lúcio Costa (1902 - 1998) *1. A Embaixada de Portugal insere-se num lote retangular, com 37.500 m², em local privilegiado dentro do setor reservado às embaixadas, a sul do denominado "eixo monumental", arrelvado e ajardinado. Nas imediações erguem-se a representação diplomática da Santa Sé, a Catedral Metropolitana, do arquiteto Óscar Niemeyer (1970), as missões diplomáticas dos Estados Unidos e da Rússia, a sul, e a Esplanada dos Ministérios, a norte. |
Descrição Complementar
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No gabinete do embaixador, na sala de visitas deste gabinete e na sala de reuniões do segundo piso, foram colocadas tapeçarias produzidas na Manufatura de Tapeçarias de Portalegre. |
Utilização Inicial
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Política e administrativa: embaixada |
Utilização Actual
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Política e administrativa: embaixada |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Ministério dos Negócios Estrangeiros |
Época Construção
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Séc. 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETOS: Raul Chorão Ramalho (1971); Leonel Lopes Clérigo. ARTISTA PLÁSTICO: Espiga Pinto (1973). EMPREITEIROS: Chistiani e Nielsen (1974-1977). ESCULTORES: Barata Feyo (1971); José Aurélio (1977); Lagoa Henriques (1977). FÁBRICA DE CERÂMICA: Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego Lda (1975). FÁBRICAS DE TAPEÇARIA: Fracoop - Fraternidade Cooperativa de Produção de Tapetes de Arraiolos (1977); Manufatura de Tapeçarias de Portalegre (1977). FIRMA: Tecnosolo (1974). PINTORES: João Abel Manta (1977); Guilherme Camarinha (1977); Sá Nogueira (1977). PINTOR DE AZULEJOS: Querubim Lapa (1975). |
Cronologia
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1961, 09 novembro - decreto-lei n.º 44019 autoriza a construção da Embaixada de Portugal em Brasília, encarregando a Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) dos estudos, da execução, da fiscalização das obras e da aquisição de mobiliário e adornos; os arquitetos Carlos Chambers Ramos e Luís Cunha elaboram um estudo preliminar para o edifício da embaixada (MOP, Relatório da Atividade do Ministério, Lisboa, 1961); a Memória Descritiva do estudo prévio apresenta uma composição muito depurada, reduzida a formas elementares cúbicas e paralelepipédicas integradas dentro de um dispositivo de proteção solar; 1962, março - carta de Lúcio Costa a Carlos Ramos felicitando-o pelo "partido engenhoso que presidiu à elaboração do projecto" e pela solução do para-sol; o estudo é, no entanto, integralmente revisto devido às reservas manifestadas pela Direção-Geral dos Negócios Políticos e de Administração; a imprensa brasileira valoriza o trajeto profissional de Carlos Ramos, qualificado como o mais representativo arquiteto modernista português; outubro - a Memória Descritiva do segundo estudo, altera substancialmente o sentido e ideário da conceção inicial; as paredes passam a ser revestidas a azulejo tradicional, suprime-se a solução do para-sol e a composição passa a ser dotada de maior carga decorativa; dezembro - data da Memória Descritiva da revisão do segundo estudo; 1963, agosto - os autores da proposta abandonam o projeto inicial devido às pressões da Direção-Geral dos Negócios Políticos e de Administração, afirmando que a solução delineada assentava "num construtivismo analítico que, embora justificável no plano técnico, imprimia ao edifício uma feição demasiado incaracterística" (Memória Descritiva, citada por Coutinho, Bárbara, 2001); 1963 - dá-se a conclusão dos estudos preliminares e prevê-se dar início às obras no ano seguinte; 1964, janeiro - a crescente pressão das entidades de caráter oficial levam os arquitetos a imprimir ao edifício uma feição de caráter tradicionalista que passa, entre outros aspetos, pela colocação de beirais e telheiros; fevereiro - data da entrada no Conselho Superior das Obras Públicas do anteprojeto do edifício da Embaixada, com o n.º de processo 123; 24 fevereiro - parecer de apreciação ao anteprojeto, redigido pelos relatores Eugénio Correia (Arquiteto Inspetor Superior) e João Paulo Nazareth de Oliveira (Engenheiro Inspetor Superior), onde se considera relevante: a expressão plástica moderna e funcional da solução apresentada; a organização da planta de forma a oferecer as melhores condições às duas áreas programáticas - da Chancelaria e da Residência do Embaixador -; a clareza e qualidade da representação gráfica das peças desenhadas; a integração da capela num ponto central sem, no entanto, se situar numa posição excessivamente preponderante; a necessidade de proceder a uma melhor definição do tipo de construção e acabamentos por forma a prever, com maior rigor, o custo aproximado da obra; 03 março - homologação do parecer pelo Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira; 1965 - o Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, acaba por abandonar o projeto; 1971 - a NOVACAP, gabinete de Planeamento da Cidade de Brasília, órgão coordenador da urbanização da nova capital, solicita que Portugal encete, com a maior urgência, o processo de construção da sua embaixada, uma vez que todos os serviços diplomáticos deviam ser transferidos para a cidade até setembro de 1972; 1971, 23 a 31 maio - o arquiteto Fernando Peres Guimarães, Diretor dos Serviços de Construção da DGEMN, desloca-se a Brasília, acompanhado de Humberto Morgado, Embaixador de Portugal no Brasil, e do Diretor-Geral dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com o intuito de avaliar os problemas envolvidos na construção dos edifícios da Missão Diplomática de Portugal naquele país; no relatório de viagem, então elaborado, sublinha-se que "será fundamental, (...), que a concepção plástica a adoptar traduza a capacidade criadora dos arquitectos portugueses, por forma a que a Embaixada não venha a constituir elemento dissonante numa cidade de concepção peculiar, intrinsecamente moderna e plena de unidade arquitectónica, traduzindo a deliberada intenção de um povo jovem de caminhar decididamente em frente, consciente das suas reais dimensões e possibilidades excepcionais" (DGEMN: RCR/PT167/178, Fernando Peres Guimarães, Relatório de Viagem, 14/06/1971); 04 agosto - a Direção dos Serviços de Construção remete ao Diretor-Geral uma lista de arquitetos considerados "capazes de bem se desempenharem desta árdua e difícil missão, não só pela sua idoneidade profissional, como pela competência demonstrada em anteriores realizações já concluídas" (DGEMN: DSARH/ED1863/1, Fernando Peres Guimarães, ofício n.º 1601, 04/08/1971); todos os técnicos indicados desenvolvem um trabalho de atualização da arquitetura nacional, tendo sido, na sua grande maioria, veículos de circulação e introdução dos valores do Movimento Moderno em Portugal, nomeadamente: Maurício de Vasconcelos, Ruy d`Athouguia, Silva Dias, Fernando Távora, Januário Godinho, Viana de Lima e Raul Chorão Ramalho; 07 agosto - é escolhido o arquiteto Raul Chorão Ramalho (1914-2002) para elaborar o projeto do edifício da embaixada; 22 setembro - por despacho, o Ministro dos Negócios Estrangeiros designa o Segundo Secretário de Embaixada, Ruy Gonçalo de Brito e Cunha, para representar o Ministério no acompanhamento do projeto e construção do edifício; 30 dezembro - ainda antes da celebração de contrato, Chorão Ramalho envia aos Serviços de Construção o estudo da praça junto à embaixada, depois denominada Praça de Portugal, entretanto solicitado e aprovado pela NOVOCAP; tratando-se de um espaço livre de caráter público, integrado numa cidade com "características e escala peculiares", o arquiteto defende uma conceção de praça associada à ideia de "largo pavimento", por onde se poderia circular e que, pelas suas dimensões, facultasse "as mais diversas manifestações comunitárias", sendo constituída por três elementos: alameda de acesso à embaixada; espelho de água envolvendo o monumento ao Infante D. Henrique, já existente no local, da autoria de Barata Feyo (1902 - 1990); e um espaço livre pavimentado, de configuração retangular, correspondente à praça propriamente dita; o conjunto, rebaixado cerca de 1.20 m da via de circulação que o margina, seria definido pelo tratamento dos pavimentos em calçada à portuguesa; jardins; e espelho de água, que era um "motivo muito utilizado pelos urbanistas de Brasília", comum ao "jardim português ou mediterrânico, sobretudo se o relacionarmos com o jardim alagado, que tem as suas origens no jardim romano peninsular e no jardim árabe" (RCR: PT167/178, Raul Chorão Ramalho, "Praça junto à Embaixada de Portugal em Brasília"); 1972, 12 fevereiro - proposta do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles para a conceção do projeto do jardim da embaixada, pela importância de 120.000$00; 29 fevereiro - Chorão Ramalho envia ao Conselheiro Sá Machado o plano de plantação das árvores e arbustos a integrar na Praça de Portugal, dando também indicações sobre o esquema de iluminação, que se resumia a uns apontamentos de luz rasante, incidente no espelho de água no monumento do Infante D. Henrique, e a dois candeeiros (com uma altura entre 15 a 17 m); abril - conceção do anteprojeto da embaixada de Portugal em Brasília, composto pelo edifício da chancelaria, pela residência do embaixador, habitações para funcionários, arranjo da Praça de Portugal e espaços envolventes; segundo a Memória Descritiva que acompanha o anteprojeto, os princípios fundamentais que presidem à conceção do edifício são: dignidade e monumentalidade; austeridade da composição; integração da ideia de "abrigo" ou alpendre protetor do clima exterior e da intensa luminosidade; articulação da arquitetura com elementos de água, acumulando funções decorativas e de correção da secura atmosférica; proteção das fachadas contra a incidência luminosa; Chorão Ramalho mantém o princípio proposto e aceite, na sequência de uma visita realizada em 1968 pelo arquiteto Alberto Cruz, da construção de dois edifícios distintos; abril - maio - o arquiteto Chorão Ramalho desloca-se a Brasília, acompanhado de Sá Machado, para proceder à escolha de um local para montagem da exposição integrada no âmbito das Comemorações do 150º aniversário da Independência do Brasil e da visita do Chefe de Estado Português àquele país; esta exposição é instalada no segundo piso do vestíbulo do Hotel Nacional e compreende dois painéis com as plantas dos edifícios da chancelaria e residência do embaixador, quatro painéis com perspetivas e fotografias de conjunto e pormenor, e uma maqueta; 26 abril - o jornal Correio Brazileirense publica um artigo, assinado pela jornalista Donalva Caixeta, referente às obras da Embaixada de Portugal; 01 maio - no parecer n.º 1864 da Comissão de Revisão da DGEMN faz-se apreciação favorável da maqueta, conjuntamente com o estudo base da Praça de Portugal e o anteprojeto da chancelaria; 30 maio - parecer n.º 3895 do CSOP com apreciação favorável do projeto; 07 setembro - inauguração da Praça de Portugal, no dia da Independência do Brasil; 1973, 29 janeiro - parecer n.º 1802 da Comissão de Revisão aprova o anteprojeto da residência e os anteprojetos das especialidades da chancelaria; 10 abril - parecer n.º 4205, do CSOP aprova os anteprojetos do edifício e determina a abertura do concurso para a empreitada da sua construção, que deveria decorrer até fevereiro do ano seguinte; pouco depois, o prazo é alargado até abril, visto que apenas uma das empresas convidadas poderia estar presente na abertura das propostas; 08 março - entrega do projeto do edifício da chancelaria, tendo por base orçamental o valor de 53.313.418$00; 11 julho - parecer n.º 1905, da Comissão de Revisão, à fase de projeto do edifício da chancelaria; 1973 - elaboração dos desenhos do pavimento do passeio e Praça de Portugal, em calçada à portuguesa, pelo artista plástico Espiga Pinto (1940-2014); 1974, julho - adjudicação da obra de construção; 16 setembro - Vasco Futscher Pereira, embaixador de Portugal no Brasil, expõe as suas preocupações relativamente à construção do edifício da residência do embaixador, considerando "demasiado ambicioso" o programa que serviu de base à elaboração do projeto; 03 outubro - início dos trabalhos de construção da chancelaria; as sondagens são efetuadas pela empresa Tecnosolo; 18 novembro - Chorão Ramalho desloca-se a Brasília, acompanhado de Mendes Barata, o engenheiro Diretor dos Serviços de Construção da DGEMN, no intuito de proceder à revisão do programa e solução da residência, de acordo com as sugestões preconizadas pelo embaixador; procura-se também eliminar elementos considerados supérfluos, como o parqueamento subterrâneo para automóveis, e diminuir os custos da obra, procedendo à redução do número de divisões estabelecidas e das suas dimensões, bem como a revisão dos acabamentos; nesta deslocação, para além de visitar a obra, onde já tinham sido executadas as terraplanagens e escavações para a cave da chancelaria, e de se reunir com a firma construtora Chistiani e Nielsen, aproveita para visitar as embaixadas da Rússia, Áustria e Polónia, de modo a definir melhor as suas ideias sobre o funcionamento e as necessidades de instalação; 1975, 13 janeiro - despacho do Secretário de Estado das Obras Públicas, autorizando a adjudicação à Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego Lda. do fornecimento de 420 m² de azulejo decorativo, para revestimento de paredes e silhares no edifício da chancelaria, segundo maqueta e orientação do escultor Querubim Lapa (1925-2016); 30 janeiro - primeiro termo adicional ao contrato celebrado entre os técnicos projetistas e a DGEMN, para elaboração do novo projeto da embaixada; 28 março - proposta do escultor Querubim Lapa para a execução dos desenhos e maqueta de um baixo-relevo moldado em betão aparente, a instalar no vestíbulo sul, do piso 0, do edifício da chancelaria; 01 julho - despacho do secretário de Estado das Obras Públicas aprova os novos estudos da construção da embaixada; julho - Chorão Ramalho desloca-se a Brasília para verificação do andamento da obra, esclarecimento das dúvidas apresentadas pelo empreiteiro e proceder à escolha de materiais de acabamento; reúne-se também com o embaixador para definição dos modos de prosseguimento da obra; 30 setembro - despacho do secretário de Estado das Obras Públicas aprova uma maqueta elaborada por Querubim Lapa para a execução de dois painéis cerâmicos a integrar no edifício da chancelaria; 02 dezembro - parecer de apreciação n.º 1966 da Comissão de Revisão da DGEMN à reformulação do projeto da residência do embaixador; 1977 - conclusão das obras da chancelaria, onde ficam instalados o consulado, os serviços culturais, comerciais, imprensa e os adidos das Forças Armadas; 05 dezembro - início do funcionamento dos serviços no edifício; o arquiteto decide aproveitar o mobiliário funcional existente nas instalações e retirar o decorativo do Palácio de São Clemente (o edifício da antiga embaixada de Portugal, no Rio de Janeiro), consoante indicação do Ministério dos Negócios Estrangeiros; uma vez que só uma parte do mobiliário seria adequado ao novo local, o arquiteto propõe a aquisição do restante no mercado nacional; é ainda considerada a colocação de 15 quadros originais, 80 gravuras, e 3 tapeçarias, estas com pintura da autoria de João Abel Manta (1928-), Sá Nogueira (1921-2002) e Guilherme Camarinha (1913-1994) e produzidas na Manufatura de Tapeçarias de Portalegre, Ldª; os tapetes das salas são executados na Fracoop - Fraternidade Cooperativa de Produção de Tapetes de Arraiolos; 26 outubro - o secretário de Estado das Obras Públicas autoriza a adjudicação da escultura de Leda e o Cisne a Lagoa Henriques (1923-2009); 1978 - os serviços diplomáticos tomam posse de todo o edifício, concluindo assim o processo de transferência e instalação; 1987 - classificação da cidade de Brasília como património mundial pela UNESCO; 1995 - concurso público internacional para a construção da residência do embaixador, sendo o primeiro lugar atribuído ao projeto desenvolvido pelos arquitetos Ricardo Bak Gordon e Carlos Vilela; em segundo lugar fica o projeto da autoria de Óscar da Silva Lopes, e, em terceiro, o de Anton Schweighoffer e Pedro George; por altura deste concurso é feito um pequeno relatório que continha fotografias que mostravam o recinto mal tratado, com visível abandono da praça, com pessoas a lavarem roupa no espelho de água, e com a estátua do Infante D. Henrique vandalizada e com grafitis desenhados na base de cimento. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes autónomas. |
Materiais
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Estrutura de betão armado; pilares e palas de proteção solar, consolas e guardas das varandas em betão aparente; paredes de alvenaria de tijolo, as exteriores rebocadas e pintadas na cor do betão; janelas de vidro simples; painéis e silhares de azulejos policromos; revestimento e portas de madeira; pavimentos de tijoleira e madeira e em calcário e basalto. |
Bibliografia
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AA.VV - Exposição Raul Chorão Ramalho Arquitecto. Almada: 1997; AA.VV - Percursos de Carreira. Lisboa: 1991; Arquitectura. maio 1974, n.º 130, pp. 24-29; Arquitectura. 1983, n.º 151; BECKER, Annete, TOSTÕES, Ana, WANG, Wilfried (organização) - Arquitectura do Século XX. Portugal: Lisboa: 1998; Caminhos do Património. Lisboa: 1999; Concurso público para a elaboração de um projecto da residência da embaixada de Portugal em Brasília. Exposição dos trabalhos concorrentes. dezembro 1995 / janeiro 1996; GORDON, Ricardo - «Residência da Embaixada de Portugal em Brasília». In Revista Camões. outubro / dezembro 2000, n.º 11, pp. 70-75; MECO, José - «Painéis de Azulejo da Embaixada de Portugal em Brasília e a obra de Querubim Lapa». In Artes Plásticas. julho 1990, n.º 1, pp. 31-37; PALLA, Maria João - Conselho Superior das Obras Públicas: Estudo dos Pareceres emitidos sobre serviços públicos de 1960 a 1969. Lisboa: CSOP, 2001, pp. 85 e 86; Relatório da Actividade do Ministério. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, 1961, 1962, 1963, 1964. |
Documentação Gráfica
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DGPC: DGEMN:DSEP/DNISP, Arquivo Pessoal do Arquiteto Raul Chorão Ramalho, Arquivo Pessoal do Arquiteto Carlos Chamber Ramos |
Documentação Fotográfica
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DGPC: DGEMN:DSEP/DNISP, Arquivo Pessoal Raul Chorão Ramalho |
Documentação Administrativa
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DGPC: DGEMN:DSEP/DNISP, DGEMN:DSARH, Arquivo Pessoal do Arquiteto Raul Chorão Ramalho, Arquivo Pessoal do do Arquiteto Carlos Chamber Ramos |
Intervenção Realizada
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Observações
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*1 - O plano piloto de Brasília, ainda que integrado numa retórica tecnocrática, revestiu-se de valores de outra ordem, assentes na recuperação do desejo de expansão territorial do país e na celebração do progresso e modernidade, manifestos no desenho da planta da cidade que alude à imagem de um aeroplano, estruturado a partir de dois eixos fundamentais: o "EIXO RODOVIÁRIO", desenvolvido numa larga curva no sentido norte-sul, ao longo do qual se organizam as grandes massas dos núcleos residenciais; e o "EIXO MONUMENTAL" definido no sentido nascente-poente, no qual se concentra a vida administrativa e coletiva da cidade, que é acompanhado pela Esplanada dos Ministérios e rematado a poente pela Praça dos Três Poderes. Esta praça, que constitui o centro simbólico de todo o sistema urbano, acolhe as sedes do poder executivo, do poder legislativo e do poder judicial, desenhadas por Óscar Niemeyer (1907-2012), autor da grande maioria dos equipamentos públicos da cidade, e instalados respectivamente: no Palácio do Planalto (1960); no Palácio do Congresso Nacional, imagem icónica de Brasília, com os dois blocos gémeos de serviços, a cúpula convexa do Senado Federal e a estrutura côncava da Câmara dos Deputados; e o Palácio da Alvorada (1958). A solução equacionada para Brasília assentou no ideário corbusiano e nas deliberações da Carta de Atenas, tendo sido definida numa matriz de autonomização dos diversos núcleos funcionais e num sistema de racionalização das vias de circulação, nas quais se separam rigorosamente os circuitos pedonais dos circuitos de circulação viária e, dentro destes, os veículos pesados dos ligeiros, suprimindo-se totalmente as situações de cruzamento entre vias. No centro físico deste complexo sistema urbano ergue-se a extensa plataforma do centro social e administrativo da cidade, onde se instalam os teatros, os cinemas, a área comercial, os serviços. O plano piloto contemplou ainda a criação de um extenso lago artificial, o Lago Paraoná, que envolve o território da cidade. *2 - Houve vários estudos e anteprojetos para a embaixada de Portugal em Brasília, em particular o de Carlos Chambers Ramos, em parceria com Luís Cunha, em 1962 (não aprovado). Houve também uma proposta do arquiteto Alberto Cruz, onde se definia a necessidade de construir dois edifícios distintos, um para os serviços e outro para a residência do embaixador. Era projetada a transferência da capela existente no palácio de São Clemente, edifício que os serviços ocupavam no Rio de Janeiro, para a residência do embaixador em Brasília, assim como deveria ser também aproveitado o mobiliário aí existente. Um relatório de um embaixador (não está datado nem assinado) considera que o estilo mais apropriado para a embaixada seria o de uma construção sóbria mas inspirada nos fortes portugueses dos séculos 17 e 18. |
Autor e Data
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Sofia Diniz 2002 / Rute Figueiredo 2006 / 2007 |
Actualização
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