Monumentos 21: Baixa Pombalina, Lisboa
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Dossiê: Baixa Pombalina
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Setembro 2004; 24x32cm, 288 pp.
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Legitimação artística e patrimonial da Baixa Pombalina: um percurso pela crítica e pela história da arte portuguesas
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Joana Cunha Leal
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Embora seja hoje uma evidência, o valor patrimonial da Lisboa pombalina só muito tardiamente foi reconhecido. Apenas a 12 de setembro de 1978 a “cidade baixa” foi classificada como Imóvel de Interesse Público, decisão que esteve estreitamente relacionada com a publicação, em 1965, da obra de José-Augusto França, Lisboa Pombalina e o Iluminismo. Monotonia, pragmatismo, economia de meios, repetitividade, ausência de fantasia e de pontuações originais formam um conjunto de poderosos anátemas que lançaram, durante muito tempo, uma vasta sombra sobre a Baixa. Pardal Monteiro protagoniza aqui uma rotura ao apresentar, de forma entusiástica, a obra da reconstrução como precursora do Movimento Moderno. Todavia, à margem da posição assumida por Pardal Monteiro, a “condenação modernista do Rossio”, e da Baixa em geral, persistiu até à publicação do estudo de J.-A. França, o qual constitui a mais completa, sistemática e aprofundada análise dedicada à Lisboa pombalina, cabendo-lhe a devolução de uma mais-valia estética à obra da reconstrução.
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Uma experiência pombalina
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José-Augusto França
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A historiografia da arte portuguesa, quando se definiu, na primeira metade do século XX, não atribuiu a devida importância ao fenómeno cultural da “Lisboa Pombalina”; a historiografia das instituições políticas também não. A criação da primeira cidade moderna do Ocidente, ou seja, do mundo cronologicamente comparável, é, porém, um “facto artístico”, isto é, estético, histórico e social, evidente, em termos de urbanismo, entre as datas de São Petersburgo e de Washington, e, em termos da arquitetura, conveniente e adequada, cabe no racionalismo iluminista da sua época, ou seja, na entrada do mundo moderno, filho da Encyclopédie — que teve edição exatamente coeva. O autor deste texto, em imodesta parte, foi o responsável por algum do reconhecimento da importância da cidade pombalina que foi ocorrendo na segunda metade do século XX, por foi convidado a escrever, depois de muitos outros, o presente texto. Porquê (e como) lhe é perguntado, e a isso procura dar resposta.
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Do plano de 1755-1758 para a Baixa-Chiado
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Walter Rossa
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A Baixa de Lisboa foi estudada por J.-A. França no seu doutoramento (1962), trabalho este que, durante duas ou três décadas, esteve isolado no tema e, em Portugal, na História do Urbanismo enquanto disciplina. O surto de desenvolvimento disciplinar proporcionou a oportunidade de aprofundar aspetos ali seminalmente depositados, mas também outros entretanto recenseados. Para além de dados, continuam a surgir novas contextualizações e métodos. A pretexto do plano desenvolvido de dezembro de 1755 a junho de 1758 para o centro de Lisboa, visa-se aqui o registo de algumas dessas questões, no fundo, e tal como a Baixa, um mero resultado de reformas e de renovações necessárias à sobrevivência e usufruto do conhecimento.
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A propósito da Baixa e das malhas ortogonais: algumas reflexões
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José Manuel Fernandes
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Desde que surgiu a complexa realidade que designamos por cidade que é patente na sua expressão física o desejo de regularidade, de racionalidade. Efetivamente, desde as mais antigas manifestações urbanísticas do vale do Indo ou do Extremo Oriente que se deteta, com maior ou menor rigor formal e espacial, a ideia de racionalizar o território disponível e construído, de o dividir com ritmos certos, repetíveis, marcados por clara organização de cheios e vazios. A cidade de origem, ou matriz portuguesa, não é exceção. Desde os alvores medievais, passando pela transição medievo-renascentista, cruzada com a geografia da Expansão Marítima, até às mais maturas manifestações do período “chão” e pombalino, e, finalmente, aos padrões internacionalistas de Oitocentos e de Novecentos, que a cidade portuguesa se “sente” na procura da sua racionalização no espaço e na forma. É na procura de um entendimento global deste longo caminho aplicado à cidade portuguesa, que este texto se inscreve.
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Lisboa antes de Pombal: crescimento e ordenamento urbanos no contexto da Europa Moderna (1640-1755)
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Helena Murteira
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No início do século XVII Lisboa era uma das cidades mais populosas da Europa. Desde Quinhentos e, particularmente, após a Restauração, que era notória a preocupação em lhe conferir uma fisionomia e uma funcionalidade adequadas ao seu duplo estatuto de capital imperial e europeia, de modo a poder ser a imagem de um país com uma dinâmica própria, longe do domínio de influência de Espanha. No mesmo período desenvolvia-se, na Europa, um fecundo debate teórico e de criação urbanística que anunciava já a ideia de cidade promovida pelo pensamento iluminista. Neste contexto, foi fundamental o papel desempenhado pelos engenheiros-militares, enquanto arquitectos e urbanistas, tanto no reino, como no império, que, aliado a uma prática consolidada de tratamento de questões urbanas por parte do Senado da Câmara, em estreita articulação com a Coroa, deu forma a uma estratégia de intervenção urbana na qual se estruturou o programa de Pombal para a reconstrução de Lisboa após 1755.
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A “Décima da Cidade”: contributo para a datação do edificado da Baixa
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Ana Rita Reis, Maria José Simões e Susana Rodrigues
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O presente artigo foi elaborado por três recém-licenciadas em História da Arte, pela FCSH, da Universidade Nova de Lisboa, durante um estágio realizado na DGEMN, no âmbito de um protocolo celebrado entre aquelas entidades. O trabalho baseou-se no tratamento exaustivo da informação contida na Décima da Cidade, com o objetivo de estabelecer os ritmos de edificação da Baixa Pombalina. O imposto da décima, decretado em 1641 pelas Cortes (ganhou caráter permanente em 1762, sendo substituído em 1852 pela contribuição predial), tinha o intuito de, com o seu rendimento, manter um exército permanente para a defesa do país. Consistia numa contribuição geral sobre as propriedades, prédios, ofícios e ordenados, capitais emprestados a juros e lucros do comércio e indústria, sendo por ela abrangida a generalidade da sociedade. Os resultados, traduzidos num precioso “mapa cronológico”, permitem confirmar a utilidade da "penosa" investigação realizada.
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Um “oficial do Génio” e a Nova Lisboa
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Leonor Ferrão
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A obra do arquiteto e engenheiro Eugénio dos Santos e Carvalho (1711-1760) apresenta uma coerência e uma especificidade próprias. Os complexos problemas de arquitetura e de urbanismo inerentes à reconstrução permitiram-lhe aprofundar e desenvolver uma reflexão pessoal sobre a arquitetura, bem enquadrada na tradição arquitetónica portuguesa e ajustada às necessidades. É legítimo, por isso, considerá-lo o criador da arquitetura dita “pombalina”, termo impressivo, mas impreciso, que deriva de um dos títulos concedidos a Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782). De facto, a arquitetura que se convencionou designar de “pombalina” é anterior ao terramoto, (in)enformada sem contribuição direta do futuro marquês de Pombal.
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De França à Baixa, com passagem por Mafra: as influências francesas na arquitetura civil pombalina
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Eduardo Duarte
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A arquitetura pombalina é, essencialmente, um quarteirão repetitivo que se podia prolongar até ao infinito, o que leva a que se possa afirmar que ela é um “facto” pelo seu alçado. As dezenas de desenhos de fachadas dos blocos pombalinos têm, portanto, a maior importância conceptual e gráfica, porquanto são verdadeiramente a sua essência. Ao contrário daquilo que muitos arquitetos gostam de começar por representar — a planta —, é precisamente nas fachadas dos blocos-edifícios que reside toda a sua essencialidade projetual. Desta forma, este texto irá incidir sobretudo nos alçados dos edifícios, no seu desenho e nas fontes tratadísticas que os definiram.
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“Casas em cima de casas”: apontamentos sobre o espaço doméstico da Baixa Pombalina
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Maria Helena Barreiros
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A reconstrução da Baixa após o terramoto de 1755 marca, em Lisboa, a passagem da casa unifamiliar urbana à habitação coletiva em altura, acarretando o corte fundamental entre o solo e o habitat humano tradicional. Na sequência do desastre, Manuel da Maia propôs edifícios com um máximo de três pisos, evocando reais razões de segurança e de prevenção contra novas catástrofes. No entanto, como sabemos, a Baixa virá finalmente a ser projetada por Eugénio dos Santos com quatro pisos mais águas-furtadas (ainda antes do final do século os seus quarteirões já apresentam, com frequência, cinco pisos mais águas-furtadas). Cada edifício destinava-se inteiramente ao aluguer de cada um dos seus fogos (a menos que o proprietário também nele habitasse, nesta caso ocupando o bel étage), constituindo, porventura, o início de uma tipologia habitacional que se designará por “prédio de rendimento”. Da caracterização interna destes quarteirões, que inauguram uma nova forma de fazer a cidade numa época de charneira entre o Portugal moderno e contemporâneo, se ocupará este artigo.
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Um projeto de Vincenzo Mazzoneschi para o primeiro barão de Quintela, em inícios do século XIX
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Isabel Mayer Godinho Mendonça
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A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro guarda um projeto para um conjunto de quatro prédios a construir em Lisboa, num terreno com um forte declive, com frentes para a Rua da Madalena, na zona das Pedras Negras, e para a Rua Nova da Princesa, também conhecida como Rua dos Fanqueiros. Os dez desenhos que constituem o projeto, assinados e datados — Vincenzo Mazzoneschi Architecto Romano Lisboa 1805 —, realizados a tinta-da-china (63x47 centímetros), estão hoje integrados num álbum encadernado, de grandes dimensões, contendo 192 fólios com desenhos colados, de diferentes tamanhos e temática. Fizeram parte da coleção do arquiteto José da Costa e Silva, vendida no Rio de Janeiro em 1817, um ano antes da sua morte, e integrada na Biblioteca Real.
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Arquitetura religiosa pombalina
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Raquel Henriques da Silva
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No contexto do plano da reconstrução da Baixa, após o terramoto de 1755, e da historicidade da sua concretização, a questão da arquitetura religiosa não é um tema maior. Convém recordar que a arquitetura predial estandardizada em função de um pensamento e de uma estratégia urbanística, bem como a eficácia racionalizada, mas sensível, do próprio plano, e ainda a erudição adequada da arquitetura da Praça do Comércio são as referências da modernidade pombalina, que tiveram como autores Eugénio dos Santos, Carlos Mardel e Reinaldo dos Santos, sobre a reflexão e as determinantes técnico-funcionais que Manuel da Maia enunciou nas suas Dissertações. Neste contexto, a arquitetura religiosa então edificada menoriza-se como tema da nova cidade, cujo caráter laico se afirma como prenúncio das grandes transformações políticas, religiosas e simbólicas que hão-de ocorrer no instável palco do liberalismo oitocentista. No entanto, o assunto possui virtualidades interessantes para análise, as quais a autora abordará em três tópicos de reflexão.
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A “Ermida da raynha nossa senhora”: o arquiteto Teodósio de Frias e a fundação do “Corpus Christi” de Lisboa
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Miguel Soromenho
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Enredada num novelo de traição e de sangue, mas também de triunfo sobre a morte, a história da fundação do Corpus Christi pela rainha D. Luísa de Gusmão, após o atentado falhado contra D. João IV, no dia 20 de junho de 1647, é por demais conhecida, embora o templo memorial construído no local, perto da Igreja de São Nicolau, na zona baixa de Lisboa, continue esquecido de todos e injustamente convertido em armazém. Além dos registos da olisipografia tradicional, a história da arquitetura não atendeu verdadeiramente à singularidade arquitetónica da igreja, situação que só recentemente se alterou graças ao oportuno e marcante trabalho de Paulo Varela Gomes sobre a planta centralizada em Portugal no século XVII. A possibilidade de acompanhar melhor a génese do projeto e a primeira fase de construção, bem como uma análise mais detalhada do interior da igreja, permite tornar a discutir a opção tipológica e a reavaliar o alcance da reconstrução pós-1755, e, quem sabe, contribuir também para um projeto de restituição e restauro que se impõe urgentemente, dado o estado de ruína a que chegou.
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Caracterização geológica do esteiro da Baixa
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Isabel Moitinho de Almeida
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O vale do Esteiro da Baixa, cuja última fase de erosão terá ocorrido há cerca de 18000 anos, foi preenchido por sedimentos fluvio-marinhos, que permitem reconstituir a sua evolução. Há cerca de 3200 anos a colmatação seria já muito acentuada, restando apenas pequenos riachos, progressivamente intervencionados pela ocupação urbana. Com o sismo de 1755 desapareceram as zonas até então ainda esporadicamente alagadas, atingindo-se a fase atual de colmatação.
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Arquitetura contemporânea na Baixa de Pombal
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João Paulo Martins
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A Baixa não é feita apenas do legado da reconstrução pombalina; ela regista uma história de Lisboa que foi particularmente dinâmica nos últimos cento e vinte anos. O devir do país, da sua economia, das relações estabelecidas entre os privados e as instituições responsáveis pela gestão da cidade, foram deixando aí as suas marcas – filtradas pela cultura arquitetónica de cada momento – em sucessivas obras de remodelação e adaptação, em demolições e reconstruções; mas de igual modo em polémicas e debates, projetos e propostas, despachos, pareceres, aprovações e recusas.
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“Jornada pelo Tejo”: Costa e Silva, Carvalho Negreiros e a cidade pós-pombalina
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Paulo Varela Gomes
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Este texto aborda duas visões diferentes do planeamento urbano pós-pombalino: a do arquiteto neoclássico José da Costa e Silva (1747-1818) e a do engenheiro-militar José Manuel Carvalho Negreiros (1751-1815). Costa e Silva criticou aquilo que considerou ser a monotonia da Lisboa de Pombal, sonhava com uma cidade secular e monumental na qual edifícios diferenciados determinariam a orientação das ruas, combinando a monumentalidade e a perspetiva com a razão e a economia. Carvalho Negreiros, filho de Eugénio dos Santos (1711-1760) — o principal projetista da Lisboa pombalina, defendia uma teoria urbana bastante ousada. Para ele a pirâmide social devia determinar a disposição da cidade e os tipos edificados. Ambos afastaram-se das ideias urbanísticas clássicas e tornaram-se contemporâneos em três aspetos: abandonaram a utopia em favor da tipologia; propuseram cidades projetadas setor por setor; imaginaram soluções construtivas adaptáveis a todas as circunstâncias. Mas Negreiros foi ainda mais longe: à variedade cenográfica classicista opôs a variedade tipológica. A sua cidade ideal era uma cidade de engenheiros.
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O Convento do “Corpus Christi”: em busca do convento perdido
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Maria Helena Ribeiro dos Santos
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Eis um monumento singular no conjunto classificado da Baixa Pombalina: o antigo Convento de Corpus Christi. Na sua história podemos distinguir três etapas: a da fundação, por D. Luísa de Gusmão; a da reconstrução, após o terramoto; finalmente, a das alterações e adaptações iniciadas com a sua venda em hasta pública, e que vem até aos dias de hoje. Nas páginas anteriores foram abordados os acontecimentos que levaram à edificação deste peculiar edifício no século XVII, na área central da Baixa de Lisboa, paredes-meias com a Igreja de São Nicolau. O convento pombalino reconstruído irá ser o tema fundamental desta reflexão. Este texto tem por base uma investigação iniciada para a dissertação de mestrado que elaborei sobre a Baixa Pombalina, complementada e desenvolvida com a análise de alguma bibliografia e documentação recolhidas no âmbito da instrução do processo de classificação deste imóvel, a decorrer, atualmente, no Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR).
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Um projeto de monitorização do nível freático na Baixa
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Pedro Gonçalves e Jacinta Bugalhão
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Entre 1991 e 1995 decorreu uma intervenção arqueológica no atual Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros, que colocou a descoberto importantes vestígios da Lisboa soterrada, levando à criação do referido núcleo arqueológico, aberto ao público, e desde então gerido pela Fundação BCP, promotor da obra. No âmbito da colaboração institucional existente entre a Fundação BCP e o Instituto Português de Arqueologia, este último, através do Centro Nacional de Arqueologia Nautica e Subaquática, foi chamado a emitir parecer relativo aos problemas que as estruturas arqueológicas apresentavam, nomeadamente as de madeira, decorrentes de uma alteração do nível freático. Foi então considerado essencial proceder-se a uma monitorização dos referidos níveis, e assim tornar possível a caracterização da dinâmica do lençol freático da Baixa Pombalina e desta forma contribuir para a criação de um modelo explicativo para uma série de fenómenos que têm vindo a afetar esta zona e que poderão representar algum risco para a sua estabilidade.
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A gaiola pombalina: o sistema de construção antissísmico mais avançado do século XVIII
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Stephen Tobriner
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Vista do exterior, a Baixa Pombalina encobre uma construção antissísmica única. Muito embora a planta regular e as fachadas estandardizadas dos imóveis a enquadrem no espírito iluminista do século XVIII, o edificado é constituído por alvenaria ordinária, material com péssimo comportamento antissísmico. Não obstante, a generalidade das fachadas oculta uma surpreendente inovação tecnológica: um sistema estrutural antissísmico de madeira, designado por “gaiola”, que constitui um verdadeiro contributo português para a evolução das técnicas de construção e engenharia antissísmica. Neste breve trabalho, o autor pretende justificar porque considera a gaiola única no género, destacando-a no contexto histórico coevo e comparando-a com tentativas atuais de criação de sistemas antissísmicos.
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Patologia estrutural dos edifícios pombalinos
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V. Cóias e Silva
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O desgaste resultante de anos de uso, o envelhecimento, mais ou menos acelerado, pela exposição aos agentes de deterioração e a própria reologia dos materiais em presença, não só na superstrutura como nas fundações, constituem origens de anomalias ou insuficiências dos edifícios antigos, em geral, e dos pombalinos, em particular. Verifica-se, no entanto, que as anomalias ou insuficiências apresentadas são, sobretudo, o resultado de determinadas ocorrências, potenciadas por opções feitas aquando da conceção e construção desses edifícios ou provocadas por decisões tomadas ao longo da sua exploração e utilização, estas últimas tornadas necessárias, por seu turno, pela existência das próprias anomalias ou insuficiências. Para além das anomalias estruturais que afetam o edifício no seu conjunto, como, por exemplo, o acrescento de pisos, interessam, para o presente estudo, as anomalias próprias da alvenaria e da madeira, os principais materiais de construção presentes nos edifícios pombalinos.
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Segurança estrutural da Baixa Pombalina
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Mário Lopes, Rita Bento e Rafaela Cardoso
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A maioria das publicações, debates e análises sobre a Baixa Pombalina incide sobre o seu passado e a sua importância em termos culturais, históricos, urbanísticos, etc., em geral associada às consequências do sismo de 1755 e à forma como influenciaram a sociedade portuguesa. Mesmo quando se fala da Baixa em termos de futuro a sua importância e valor é realçada com base nos mesmos aspetos, raramente se discutindo a segurança estrutural dos edifícios que a constituem. No entanto, essa deveria ser uma das preocupações mais básicas, pois sem a preservação física dos edifícios os restantes aspetos não terão interesse em termos de futuro e serão apenas história. Provavelmente esta situação deriva do facto de não existir, na opinião pública, uma perceção esclarecida da existência de riscos sérios para a integridade física dos edifícios da Baixa. Neste artigo analisam-se os principais riscos para a segurança dos edifícios da Baixa e fazem-se breves reflexões sobre a forma de os reduzir.
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Intervenções na Praça do Comércio
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Manuel Aguiar Ferreira
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As intervenções projetadas e executadas ao longo dos anos pela DGEMN no conjunto monumental da Praça do Comércio têm como princípios orientadores: o valor arquitetónico e histórico deste património, as suas condições físicas atuais, os programas de utilização, as novas exigências regulamentares, a necessidade de uso de novas técnicas e materiais e os recursos financeiros disponíveis. Ditadas pela exigência de modernização dos serviços da Administração Pública aí instalados, ou por puras razões de conservação que o natural envelhecimento dos materiais nos impõe, estas intervenções têm como características a variabilidade, por um lado, e a especificidade, por outro. Por comodidade de exposição iremos aproveitar esta dupla origem das intervenções para, simplificadamente, atribuir às exigências de modernização as obras no interior das edificações, enquanto aceitamos que as obras na envolvente exterior têm principalmente que ver com os aspetos inerentes à conservação.
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Azulejaria de interior na Baixa Pombalina: um contributo para o seu estudo
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Ana Paula Correia e Carolina Nunes da Silva
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Durante sete meses, a DGEMN realizou um levantamento sistemático da azulejaria de interior em prédios pombalinos da cidade de Lisboa, trabalho que abrangeu cinquenta e dois quarteirões na área compreendida entre a Praça do Comércio e o Rossio, tendo como objetivo proceder ao registo sistemático de todos os azulejos coevos observados nos vários edifícios, para o que foram realizadas cerca de mil imagens, abrangendo azulejos de padrão, de figura avulsa, de composição ornamental ou figurativa, utilizados em silhares de temática profana e em registos de temática religiosa. Deste “périplo” (que não foi isento de percalços) pode, todavia, concluir-se que a maioria dos azulejos, ainda in situ e constituindo conjuntos completos, é de finais do século XVIII, alguns mesmo do início do século XIX, acompanhando a cronologia da construção da maior parte dos prédios. A azulejaria da Baixa Pombalina parece ser, pelo que chegou até nós, essencialmente neoclássica, sobretudo no que respeita às composições ornamentais e figurativas.
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Ferros decorativos da Praça do Comércio: um desenho inédito de Carlos Mardel
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Isabel Mayer Godinho Mendonça
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Os ferros decorativos tiveram um papel fundamental na dinamização das fachadas, muitas vezes monótonas, da Baixa Pombalina, acrescentando uma nota de cor e movimento aos vãos das janelas e portas. Na Praça do Comércio o trabalho do ferro assumiu também um papel de destaque, contribuindo para o equilíbrio e harmonia do conjunto arquitetónico. A nossa recente descoberta de um desenho de Carlos Mardel para um dos portões da Praça do Comércio, acompanhado do respetivo contrato de arrematação a um mestre-serralheiro de Lisboa, Manuel Álvares de Azevedo, foi o ponto de partida para a investigação, cujos resultados reunimos neste texto.
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A cadeira do Poder
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José Sarmento de Matos
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Em 1882, Lisboa celebrava com entusiasmo o primeiro centenário da morte do marquês de Pombal. Nessa euforia comemorativa uma voz destoou. Dos confins do Porto, Camilo Castelo Branco levantou a pena indignada contra essa reverência de um universo político democrático e liberal perante um autocrata absoluto e prepotente. Camilo tinha razão, mas a verdade é que vivia bem longe do quotidiano dos corredores do poder, ou, melhor, não se perdia em deambulações burocráticas pelos meandros das múltiplas escadarias do Terreiro do Paço. Se por lá andasse, talvez entendesse melhor a ligação profunda entre aquele que, no século XVIII, concebera esse mesmo labirinto e aqueles outros que, embora sob a aparência de diversas roupagens ideológicas, eram, no fundo, os seus legítimos herdeiros. O Estado tentacular, senhor absoluto do poder laico, dera os primeiros passos com Pombal e, daí por diante, era sob a sua égide que se continuava a exercer o seu múnus político. O Terreiro do Paço é a sede do poder, e é lá que está resguardada sobre um plinto, na sala do Supremo Tribunal de Justiça, a cadeira que outrora o marquês utilizou para o seu despacho.
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Da Baixa aos centros comerciais: a recomposição do centro de Lisboa
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Teresa Barata Salgueiro
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Na primeira metade do século XX, o centro de Lisboa fixa-se na Baixa-Chiado, o qual pode hoje ser caracterizado como constituindo um importante conjunto monumental, bastante degradado, embora com grandes disparidades. Assim, nele encontram-se prédios devolutos, andares arrendados mas sem vida nem utilização, edifícios reabilitados. No domínio dos serviços, não foi tocado pela grande expansão que marcou o final do século XX. Em termos de comércio, a Baixa-Chiado é um centro importante pelo número de unidades e pela grande diversidade; reúne estabelecimentos que vão desde o tradicional ao moderno ou modernizado, com dinamismo e capacidade de atração de novas clientelas, designadamente jovens. Depois do encerramento dos estabelecimentos comerciais, a animação é, porém, quase nula. Pelo que podemos afirmar que a Baixa-Chiado perdeu exclusividade enquanto centro de Lisboa, muito embora continue a constituir o centro para turistas e outros forasteiros, e para alguns lisboetas mais velhos.
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Que futuro para a Baixa Pombalina?
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Mesa-Redonda, Forte de Sacavém, 30 de abril de 2004.
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Com o principal objetivo de reunir diferentes pontos de vista de diversos especialistas sobre o futuro da Baixa Pombalina, e obter um texto a publicar no presente número da revista Monumentos, a DGEMN promoveu uma mesa-redonda, realizada nas suas instalações, no Forte de Sacavém a 30 de abril de 2004, e que contou com Alexandre Alves Costa e José Manuel Fernandes, arquitetos e conselheiros editoriais da referida publicação, como moderadores, e as intervenções do arquiteto Álvaro Siza Vieira, do engenheiro António Lamas, da arquiteta Maria Helena Ribeiro dos Santos. Vasco Martins Costa, diretor-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, abriu e encerrou os trabalhos.
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O Palácio Pombal e o morgado da Rua Formosa: a propósito de uma campanha de obras
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António Miranda e Helena Pinto Janeiro
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O palácio de família dos Carvalhos na antiga Rua Formosa, também conhecido por Palácio Pombal da Rua do Século, encontra-se ainda muito pouco estudado, não sendo raros os equívocos quanto à sua própria implantação, que tende a ser erradamente restringida a um dos seus núcleos, o mais nobre, por sinal o que foi adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa, em 1968. A recente intervenção de consolidação constituiu-se numa excelente oportunidade para se efetuar sondagens e prospeções que trouxeram uma nova luz sobre hipóteses já existentes, a par de novas descobertas. Foi, então, posto a descoberto um conjunto magnífico de pinturas decorativas, de que damos notícia em primeira mão no presente ensaio, acompanhada de uma hipótese interpretativa sobre a sua ligação à família Ratton. A nossa fonte primordial é, pois, o próprio objecto físico em estudo, o palácio de família do estadista de maior relevo do Portugal de Setecentos, o marquês de Pombal.
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Igreja de São José das Taipas, Porto
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Miguel Malheiro
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A presente intervenção relata os trabalhos de recuperação, conservação e restauro decorridos ao longo de sete anos na Igreja de São José das Taipas, no Porto. Os trabalhos iniciaram-se pela recuperação das coberturas, ao nível da igreja e, seguidamente, das construções anexas. Posteriormente, procedeu-se à recuperação de estuques, rebocos, pavimentos e infraestruturas elétricas, bem como ao restauro de peças de valor artístico existentes na igreja. Seguiu-se a requalificação dos espaços anexos à igreja, onde se introduziram novas funções, com a criação de uma capela mortuária, um espaço museológico, uma sacristia e uma habitação para um zelador de todo o conjunto. Em 2004 realizar-se-ão os trabalhos de restauro da sala da irmandade.
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Museu da Matemática de Ovar
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Miguel Malheiro
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O projeto diz respeito à remodelação da casa da Ribeira e respetivos espaços anexos, e sua transformação num museu de ciência-viva, vertente matemática. O museu pretende ser um espaço interativo, resultando no conceito que se poderia traduzir em “Quinta da Matemática”, onde o visitante é levado a experimentar o mundo da matemática, como se manuseasse as alfaias agrícolas de uma quinta, desenvolvendo o seu intelecto. Esta intervenção prevê a recuperação dos métodos construtivos existentes no edifício principal, como sejam a construção em adobe e em madeira. A construção dos novos edifícios é realizada integralmente em madeira, à semelhança dos edifícios de apoio à faina piscatória da ria de Aveiro.
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O Museu Grão Vasco renovado
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Dalila Rodrigues
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Por razões mais ou menos óbvias, o percurso quase centenário do Museu Grão Vasco confunde-se com o Paço dos Três Escalões, o edifício granítico que forma com a catedral o conjunto mais emblemático do património histórico de Viseu. A relação entre ambos torna-se efetiva apenas em 1938, ou seja, volvidas quase duas décadas sobre a criação do museu e quase três séculos e meio sobre a construção do edifício. O pórtico, que na Praça do Adro anuncia a entrada, passou a associar-se, desde o tempo de Francisco de Almeida Moreira, o fundador e principal colecionador ao museu e à sua coleção principal, a pintura do grão Vasco. Na mesma linha, as obras que sucessivamente foram realizadas no seu interior — e referimo-nos apenas às da década de vinte e de cinquenta do século XX e, especialmente, às que agora se concluíram, segundo projeto de Eduardo Souto de Moura e fiscalização da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais — inscreveram no edifício as necessidades programáticas que o conceito de museu, num processo inevitavelmente dinâmico, foi gerando.
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