Monumentos 06: Paço Ducal de Vila Viçosa
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Dossiê: Paço Ducal de Vila Viçosa
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Março 1997, 24x32cm, 100 pp.
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O paço, passo a passo: a estratégia arquitetónica ducal (séculos XVII-XVIII)
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José de Monterroso Teixeira
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Ao deixarem o paço acastelado medieval, os duques de Bragança iniciaram a sua nova morada senhorial, extramuros, no princípio do século XVI, segundo um programa de obras regido por um código luso-mourisco ou mudéjar. A permanência em Espanha do quarto duque, D. Jaime (1479-1532), regressado a Vila Viçosa em 1496, torna-o recetivo a linguagens exóticas que mereciam a caução da Casa Real e da alta nobreza. Três outros subsequentes ciclos construtivos, segundo modelos de gosto vigentes nas suas épocas, terão como alavanca outras tantas uniões conjugais, que marcam o engrandecimento do paço, segundo uma estratégia de afirmação social e política, que culmina com o casamento (1632) e a aclamação do oitavo duque, D. João II, como primeiro rei da dinastia de Bragança, em 1640, D João IV, O Restaurador.
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A pintura fresquista à sombra do mecenato ducal (1600-1640)
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Vítor Serrão
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O ambiente que a corte ducal de Vila Viçosa viveu nos fins do século XVI e durante os primeiros decénios do século XVII, sob mecenato dos duques de Bragança, D. Teodósio II e D. João II (o futuro monarca, após a Restauração de 1640), permitiu que também a arte de pintura mural — a fresco e a têmpera — aí se pudesse expressar com impacto cultural e, em muitos dos casos, com qualidades plásticas evidenciadas. Estudam-se diversos conjuntos fresquistas existentes em Vila Viçosa, que datam de variados momentos do século XVII, entre modelos maneiristas italianizantes e novas expressões protobarrocas, quer de figuração, quer de ornamentação brutesca. Uma referência, enfim, ao ambiente de prestigiante exaltação do poder que se vivia em Vila Viçosa, sob o signo do poder ducal, e o papel que nessa perspetiva de afirmação cortesã coube à arte da pintura como propaganda imagética eficaz.
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Restauro das pinturas murais da escadaria monumental
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Mural da História
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Este estudo aborda o restauro das pinturas murais, datáveis de meados do século XVI, existentes na escadaria do Paço Ducal de Vila Viçosa, cujo tratamento consistiu, essencialmente, na remoção do repinte; consolidação das zonas com falta de aderência ao suporte; remoção das massas que preenchiam as lacunas existentes, aplicação de outras novas e reintegração cromática dessas lacunas.
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Os azulejos renascentistas
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Joaquim Torrinha
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De entre os azulejos do Paço Ducal de Vila Viçosa elegeram-se, para este artigo, os núcleos flamengo e talaverano por serem considerados dos mais representativos quanto à origem, antiguidade, história e decoração. Assim, tecem-se considerações acerca da sua proveniência e autoria e chama-se a atenção para a influência e para o interesse de ambos os núcleos face à história da azulejaria portuguesa.
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As obras no Paço Ducal
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Fernando Pinto
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O Paço Ducal de Vila Viçosa é um impressionante conjunto de notáveis edifícios. A Fundação da Casa de Bragança assegura a constante manutenção das construções através de equipas de profissionais de carpintaria, construção, tecidos e limpeza. No que se refere aos jardins, a manutenção é garantida por uma equipa de jardineiros. A DGEMN, por sua vez, garantiu desde sempre os grandes projetos e obras, sendo aqui referidos e descritos os de maior vulto, como a recuperação do Colégio dos Reis, em 1991, parcialmente destruído por um fogo, e o restauro das armações dos madeiramentos do telhado e do teto da Sala de Jantar.
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Os vergéis do Paço Ducal de Vila Viçosa
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Aurora Carapinha
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Em 1501, D. Jaime, quarto duque de Bragança, decide-se pela construção do novo paço ducal no sítio da Horta do Reguengo, em Vila Viçosa. Esta escolha e o contexto cultural vigente foram determinantes para a definição das particularidades topológicas dos seus jardins. Estes apresentam-se como sendo uma enfatização e um exacerbamento de características formais e ambientais inerentes ao espaço horta/pomar, um espaço fechado e compartimentado, que se constrói num diálogo constante entre a produção e o recreio, entre a luz e a sombra, na fruição da água, dos aromas e da cor, e na grande presença de citrinos.
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Uma miragem real: o panteão dos duques de Bragança na Igreja de Nossa Senhora da Graça do Convento de Santo Agostinho
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Miguel Soromenho
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Fundado no século XIII, o Convento de Nossa Senhora da Graça de Vila Viçosa, da Ordem dos Agostinhos, seria escolhido no primeiro quartel do século XVI, pelo duque D. Jaime, para albergar o panteão da Casa de Bragança. A igreja primitiva, de que restam poucos vestígios, foi substituída, no século XVII, por um novo edifício, acarinhado pelo duque D. João, futuro rei D. João IV, e sucessivamente enriquecido pelos monarcas posteriores. A análise do programa sepulcral da igreja revela a emulação com as obras de inspiração régia, que se pretendiam igualar, bem como o peso da tradição europeia dos “coros mausoléus”, seguida em Santa Cruz de Coimbra, nos Jerónimos e nos Agostinhos de Vila Viçosa.
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A fundação do Convento das Chagas
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Joaquim de Oliveira Caetano
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Panteão das duquesas de Bragança e um dos mais ricos conventos do Alentejo, o Convento das Chagas tem uma história pouco clara. Segundo a tradição foi inicialmente, pelos anos de 1514, um convento de freiras agostinhas, que acabariam por deixá-lo devido a desavenças com o duque, que desejava ligar o mosteiro ao palácio por meio de um passadiço. Substituíram as agostinhas as freiras clarissas da Província da Piedade, vindas do Mosteiro da Conceição de Beja, o que reforça os planos do duque para a construção de um núcleo de palácio-convento. A data apontada para esta passagem costuma ser 1535, mas, de facto, ainda em 1539 o mosteiro se encontrava sem freiras a habitá-lo, e longe da sua conclusão, como refere explicitamente o breve do núncio Jerónimo Capodiferro.
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Uma" cidade ideal" em mármore: Vila Viçosa, a primeira corte ducal do Renascimento português
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Rafael Moreira
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Com o pretexto do casamento do infante D. Duarte, irmão de D. João III, com D. Isabel, irmã do duque D. Teodósio de Bragança, em abril de 1537, iniciaram-se em Vila Viçosa, dois anos antes, campanhas de obras que a transformaram no primeiro exemplo na Península Ibérica e, talvez, na Europa, de uma perfeita vila ducal renascentista. Entre uma fortaleza à maneira de Leonardo da Vinci e uma morada vitruviana, estendia-se, pois, o vasto conjunto da cidade em forma de palácio, com a estudada planimetria das ruas e das novas áreas residenciais convergindo para o recinto sacro palatino, foco da corte ducal. Mesmo evitando o uso anacrónico do conceito de urbanismo, é impossível não reconhecer que cada edifício foi articulado e inserido no tecido unitário da cidade, vista como um cenário de construções, tal como uma casa é composta de salas e acessos: uma cidade ideal em sentido neoplatónico, explicitando uma imagem de propaganda da família com um objetivo político concreto.
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Nota histórico-interpretativa de transformações urbanísticas em Vila Viçosa
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Luiz Sá Pereira
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Durante a revisão do Plano Geral de Urbanização de Vila Viçosa, em 1984, foi realizado o estudo da evolução urbana do aglomerado. Para esse efeito, recolheram-se diversas fontes documentais e cartografaram-se duas centenas de notícias relatando transformações urbanas. O trabalho permitiu chegar a algumas conclusões curiosas e justificou algumas das opções do plano, em particular a escolha da localização de expansões do aglomerado. Neste texto, focando dois períodos considerados no estudo, dá-se nota de aspetos significativos para a compreensão do legado urbanístico que se pode considerar ser esta vila.
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A formação urbana de Vila Viçosa: um ensaio de interpretação
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Nuno Portas
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São avançadas algumas hipóteses interpretativas sobre a formação urbana de Vila Viçosa, elaboradas a partir do que hoje se oferece ver e percorrer, isto é, procurando decifrar, na estrutura atual, as razões que terão presidido às principais justaposições de sucessivos modelos de urbanização. Estamos perante uma vila de formação singular, onde, apesar de a sua etapa medieva ser já ocupada intra e extramuros por ruas regulares, se destaca a expansão regrada (ensanche) determinada a partir do século XVI pelo poder ascendente dos Bragança. O terceiro ensanche viria a abrir-se no último quartel do século XX e continua, explicitamente, a lógica da vila antecedente, rejeitando expansões com a lógica da aldeia ou arrabalde que, já antes e por mais de uma vez, embora sem êxito, tinham despontado.
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Uma casa do seu tempo: a propósito de uma edificação moderna no centro histórico
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Manuel Graça Dias
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Esta casa, projeto dos arquitetos Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira, é a comprovação de que a modernidade pode (deve) conviver com o passado, acordá-lo e disponibilizá-lo ao nosso olhar contemporâneo, evitando a musealização, o entorpecimento e a rotura com o real. A modernidade, sendo o único exercício possível face a todos os patrimónios mais ou menos grandiosos que as cidades exibem, é o único garante da revigoração e da continuação viva dessas heranças, a única possibilidade, finalmente, de qualquer arquiteto, em qualquer tempo, ser um arquiteto do seu tempo.
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Um novo modelo (e uma nova visão) do edificado pombalino
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Vítor Cóias e Silva
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Apresenta-se um modelo descritivo tridimensional informatizado, representando a estrutura de um edifício pombalino típico, integrado num projeto que a Câmara Municipal de Lisboa tem em curso, com vista à modelação estrutural dos edifícios da Baixa Pombalina. Descrevem-se os aspetos principais da recolha de informação levada a cabo no âmbito desse projeto. Sublinha-se o caráter inovador das soluções estruturais e construtivas adotadas após o sismo de 1755, e a importância da Baixa Pombalina como património cultural da cidade e do país.
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O Museu de José Malhoa
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Paulo Henriques
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O Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, foi inaugurado a 11 de agosto de 1940, de acordo com o projeto dos arquitetos Paulino Montês e Eugénio Correia, e ampliado na década de cinquenta, altura em que ganhou o seu aspeto atual. Trata-se do único edifício que, numa estética moderna, foi construído pelo Estado português com a específica função de museu. A exiguidade do espaço face a atuais necessidades técnicas e funcionais conduzem à urgência de uma ampliação do seu espaço, possivelmente num edifício isento e afastado daquele que existe agora, mantendo intacto este espaço museológico raro em Portugal.
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Conservação e restauro da Igreja de São Sebastião de Setúbal
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Carmen Almada e Luís Tovar Figueira
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A Igreja de São Sebastião é profusamente decorada no seu interior, podendo observar-se uma grande diversidade de materiais de suporte, de cores, de técnicas de execução e de motivos. De entre estes destacamos a pintura a óleo sobre madeira, a pintura a têmpera sobre estuque e a talha. Ao longo do presente artigo mostra-se a importância que deve ser dada à conservação preventiva, já que o mau estado da cobertura foi o principal agente de destruição do interior. Foi feita desinfestação e consolidação nos diversos materiais bem como a limpeza e retoque procurando, para além da conservação, a recuperação estética do conjunto.
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A Igreja de São Domingos de Lisboa: o renascer das cinzas
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José Fernando Canas
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Destruída por um incêndio em agosto de 1959, o seu interior viria a ser objeto de uma limpeza, conservando-se e valorizando-se a ruína. Simultaneamente, foi construída uma cobertura provisória com estrutura metálica. A efemeridade dos próprios materiais utilizados veio a provocar a sua rápida degradação. Em 1992 e numa primeira fase, decidiu a DGEMN lançar um concurso de conceção e construção, abrangendo as coberturas da nave, transepto e capela-mor. A falsa abóbada, de volta inteira, foi reposta a partir das fotografias existentes no arquivo da DGEMN e revestida por uma pintura esponjada com pigmentos naturais.
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