Monumentos 24: Faro, de vila a cidade
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Dossiê: Faro, de vila a cidade
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Março 2006, 24x32cm, 240 pp. (<2Kg.)
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Um “país afortunado”: descrições do Sul em fontes anteriores ao período romano
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Manuel F. S. do Patrocínio
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O Sul da Península Ibérica foi considerado na Antiguidade como um “país afortunado”, devido às suas aprazíveis paisagens, à nobreza dos seus habitantes e às riquezas naturais aí existentes. Coincidindo igualmente com o Extremo Ocidente do mundo então conhecido, diversos aspetos vieram a ser realçados na descrição que de si fez a tradição clássica grega e os seus eminentes autores, e na qual surgiu referência a Ossonoba. Destaque-se a progressiva alteração da visão do território, passando de um plano poético inicial até a uma abordagem mais concreta de um espaço culturalmente identificável.
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Faro romana: “Ossonoba” e Milreu
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João Pedro Bernardes
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Confundida durante muito tempo com as monumentais ruínas romanas de Milreu, localizadas a 7 quilómetros de Faro, Ossonoba está hoje plenamente identificada na capital algarvia. Os muitos achados que se têm encontrado no seu subsolo fornecem-nos, mesmo, uma vaga ideia do seu urbanismo. Permitem, ainda, observar os resquícios de uma população dedicada à pesca e ao comércio, com certo índice de riqueza, fruto dos contactos a longa distância que manteve ao longo de séculos, e que lhe permitiram tornar-se num dos principais portos do sul da Lusitânia. É, todavia, Milreu, uma luxosa villa rural que nasceu à sua sombra, que melhor espelha, nas suas monumentais ruínas, os índices de riqueza e de desenvolvimento que o litoral algarvio atingiu há dois mil anos.
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A meio do reino do Algarve: Faro, séculos XVI-XVII
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Joaquim Romero Magalhães
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Ocupada desde tempos pré-romanos, Faro ficou a dever a sua importância à qualidade da terra em seu redor, que cedo se começou a destacar pela produção hortícola e pelo comércio de frutícola. A estrutura da povoação romana em redor de Ossonoba seria mediterrânica e a ela os mouros se adaptaram sem dificuldade. Após a Reconquista Cristã, Faro beneficia com a continuação da presença dos mouros que quiseram ficar cultivando as terras próximas. À produção de boas culturas junta-se o sal, feito nos sapais da ria. Detentora de um porto abrigado, onde navios de razoável tonelagem podem entrar, Faro era terra de mareantes e de homens de negócio. Assim continuou ao longo do século XVI, vendo a sua população aumentar consideravelmente. Em 1540 foi elevada a cidade, recebendo a sede da diocese algarvia. A situação, porém, inverte-se com a viragem do século, em Seiscentos baixa o movimento comercial marítimo que fora a razão maior da vitalidade do século XVI. É a depressão de 1619-1620 que afecta o conjunto do Mediterrâneo, tocando depois muitas regiões da Europa.
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A evolução urbana da cidade
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Tânia Rodrigues
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A origem do perímetro urbano da cidade de Faro é milenar, remonta ao século V a.C. quando povos, de origem pré-romana, navegaram ao longo a sua costa e aí estabeleceram interpostos comerciais. Os Romanos deixaram a sua presença gravada no traçado urbano e na estrutura viária da cidade. Os Muçulmanos adensaram o núcleo intramuros deixando-nos importantes testemunhos de arquitetura militar. E os Cristãos, a quando da Reconquista, proporcionaram a expansão do núcleo urbano que atingiu a sua máxima expressão entre os séculos XVI e XVIII. Na segunda metade do século XX fez-se sentir novo impulso construtivo alargando o perímetro urbano em duas novas coroas.
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O “destino” dos antigos espaços conventuais da cidade
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Catarina Almeida Marado
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Faro teve um total de cinco casas regulares: um convento de freiras clarissas, um de franciscanos observantes, outro de capuchos, um colégio de jesuítas e um hospício de marianos. Este conjunto de edifícios, que constituíam a estrutura conventual da cidade, teve um papel preponderante na sua morfologia. Após a extinção das ordens religiosas, em 1834, estes espaços transformaram-se, de um dia para o outro, em importantes recursos destinados a “alimentar” as necessidades de crescimento da cidade, que se acentuaram a partir de finais do século XIX. Uma cidade que se apropriou dos seus antigos conventos e que “invadiu” os muros das suas cercas.
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O sistema defensivo da cidade
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Francisco Sousa Lobo
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A fortificação marcou, desde as origens, de forma indelével e distinta, o traçado de muitas cidades e vilas portuguesas. De acordo com a zona geográfica e os períodos históricos há analogias parciais com múltiplos aglomerados fortificados mediterrânicos. Faro, com uma especial influência das culturas ribeirinhas de levante, não escapa a esta regra. A capital do Algarve tem um caráter marítimo consolidado por séculos de trocas comerciais com os povos do Mediterrâneo, destacando-se, no conjunto do território português, por conter quase ao nível do oceano, mas protegido deste, uma extensa zona antiga, onde a cidade nasceu. O contacto com o mar aberto faz-se através de uma diversa e instável rede de canais, sapais e morraçais, limitada por uma coroa de ilhas. Esta relação indireta com o mar foi determinante na evolução do seu sistema defensivo. A história militar de Faro é, em parte, a história dessa coroa, uma estrutura física arenosa e dinâmica que cerca a terra firme para nascente, sul e poente da cerca muralhada, formando um imenso fundeadouro de águas calmas.
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Telhados de tesouro em Faro
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Isabel Maria Vieira Afonso
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Telhados de tesouro são coberturas de quatro águas com inclinação igual ou superior a 45º. A cada telhado corresponde uma divisão permitindo, assim, perceber como se estrutura a habitação desde o exterior. A forma e o tamanho de cada telhado são determinados pelo espaço que cobrem, o que os torna muito dinâmicos. Esta variedade de formas e tamanhos, ao ser repetida ao longo da cidade, dá-lhe uma imagem muito especial. São uma criação indo-portuguesa, nascida na Índia, da necessidade de afirmação dos portugueses e da experiência em marcenaria dos hindus. No século XVI chegam às principais cidades do Algarve, então importantes portos de ligação ao Oriente, tornando-se o seu uso corrente durante os séculos XVI e XVII, sendo ainda construídos no XVIII.
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O retábulo na cidade de Faro
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Francisco Lameira
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Através da identificação dos principais responsáveis não só pela encomenda dos retábulos, mas também pela sua conceção e posterior entalhe, tecem-se algumas considerações sobre a importância de Faro como local privilegiado na produção de retábulos para toda a região algarvia, sediando-se nesta cidade o maior número e as mais prestigiadas oficinas de entalhe. Finalmente, evidenciam-se doze dos mais representativos retábulos dos séculos XVII e XVIII, alguns deles obras ímpares no contexto nacional.
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Azulejos na cidade de Faro
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José Meco
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Apesar das destruições causadas pelo terramoto de 1755 e das delapidações resultantes da extinção das ordens religiosas em 1834, entre outras, Faro conserva um património de azulejaria muito considerável, em especial do século XVIII, o qual foi analisado com algum desenvolvimento por João Miguel dos Santos Simões. Novos contributos e novas informações documentais preciosos foram dados nos últimos anos por Francisco Lameira, em diversas publicações e através de uma excelente coleção de desdobráveis sobre os diversos edifícios locais (e do restante Algarve), e por Nuno Beja, através de um cuidado levantamento da padronagem seiscentista. Com o presente texto faz-se um ponto da situação do conhecimento atual sobre os azulejos da cidade de Faro.
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As pinturas da Capela do Santíssimo Sacramento da Sé de Faro: a presença de Andrea Sacchi e Marcos da Cruz num raro acervo artístico
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Vítor Serrão
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Embora muito mal conhecido e quase sempre desapreciado pelos estudiosos, o conjunto decorativo da Capela do Santíssimo Sacramento da Sé de Faro constitui um dos mais interessantes acervos pictóricos que existem na cidade. Tal facto atesta a elevada cultura de um mercado artístico que no fim do século XVII incluía bispos prestigiados, como D. Francisco Barreto II e D. José de Mendonça, e de um Cabido catedralíceo mais ou menos informado sobre as correntes plásticas internacionais. Nessa capela, fundada em 1673 e decorada até c. 1685 situam-se as cinco telas seiscentistas, que pela primeira vez aqui se estudam, e que incluem pelo menos três peças de grande qualidade. As mais importantes das quais serão as duas telas do Milagre da Bilocação de Santo António (o Santo ressuscitando um morto para provar a inocência do pai condenado à forca) e da Visão de São Boaventura que, prova-se agora, replicam com máxima fidelidade as duas telas que o grande pintor Andrea Sacchi pintara, respectivamente em 1633 e em 1645, para dois altares da igreja capuchinha de Santa Maria della Concezione, em Roma.
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A Capela de São Domingos e o monumento funerário de Rui Valente na Sé de Faro
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José Custódio Vieira da Silva
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Notícia do achamento de um monumento funerário, com jacente, encontrado na capela gótica de São Domingos da Sé de Faro. Identificado através do seu testamento, datado de 1464, como sendo de Rui Valente, cavaleiro del-rei, alcança maior notoriedade por ser o primeiro moimento a ser encontrado no Algarve. A esta originalidade acrescenta-se outra: é também o primeiro monumento tumular conhecido em Portugal a usar, em lugar da pedra, o gesso.
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A Capela de Rui Valente na Sé: estudo para a salvaguarda do monumento funerário
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Fátima de Llera
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Na Capela de São Domingos da Sé de Faro foi descoberto, por trás de uma mesa de altar em madeira, um túmulo gótico, do século XV, constituído por dois elementos, a figura jacente de um cavaleiro (Rui Valente) e a sua arca tumular. Esta descoberta revelou um monumento funerário da máxima importância, não só por ser reveladora da qualidade artística do seu artífice, como pela técnica e materiais utilizados, que denotam influência mudéjar. O monumento foi executado em argamassa lavrada imitando pedra, a mesma técnica utilizada na rosácea da Igreja da Graça, em Santarém, expoente máximo do período gótico, são, no entanto, muito escassos os exemplos que chegaram aos nossos dias de elementos decorativos esculpidos em argamassa deste período. A arte dos fingidos encontra-se, assim, muito bem representada na Sé de Faro, quer através deste exemplo do século XV, quer nos revestimentos do século XVII, sendo merecedora de uma especial atenção para a salvaguarda da memória artística desta técnica.
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Tensões e roturas. O Teatro Municipal de Faro, o Solar da Horta do Ourives e a Casa das Figuras: intervenções em proximidade
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Rogério Paulo Vieira de Almeida
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Solicitam-me um artigo sobre o Teatro Municipal de Faro. Não podia, e não pôde, vir só. Ao mesmo tempo e no mesmo local — a antiga Horta do Ourives — em que surgia a nova obra, intervinha-se nos antigos Solar e Casa das Figuras, pelo que se esperou que este texto abordasse a relação destas diferentes. Os dois conjuntos de obras refletem diferentes posturas que se situam para lá de meras diferenças de projeto. O teatro, com projeto de Gonçalo Byrne, foi assumido como realização emblemática de prestígio, corolário da capital da cultura de 2005. Para a reabilitação do Solar e da Casa das Figuras, o procedimento adotado foi diferente. Desde há muitos anos em ruína, sucessivas tentativas de reabilitar o conjunto foram sendo adiadas, é já com a construção do teatro em andamento que é decidida a intervenção nas duas casas, tendo que se ajustar ao ritmo já estabelecido pela obra daquele. Mas, mais do que as diferenças de procedimento, importa assinalar a forma como a programação de cada uma das intervenções foi abordada de forma autónoma, ficando reservada aos arranjos exteriores a tarefa de "harmonizar o conjunto" ou de "unificar as intervenções".
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A Horta do Ourives
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Tânia Pereira
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No século XVIII as hortas existentes no perímetro urbano ou semi-urbano assumiam uma particular importância na cidade pelo papel que desempenhavam no abastecimento dos mercados urbanos. Os seus proprietários eram normalmente gente com um papel social de alguma relevância que lhe advinha da posse da terra. A importância para a cidade de Faro da Horta do Ourives prende-se, ainda, com as características particulares do solar, ao reunir na sua composição os dois espaços mais importantes da época barroca: o religioso (corresponde ao espaço semi-público) e o civil (que corresponde ao privado). A capela, com acesso pelo exterior, assume características pouco comuns no Sul do país (capelas exteriores são mais comuns a norte), particularidades acrescidas pela existência de local para a sepultura do seu encomendante.
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A Torre da Horta dos Cães
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José Eduardo Horta Correia
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Situado no Bairro de São Francisco, o edifício octogonal conhecido por “Celeiro de São Francisco”, tem despertado a atenção sobretudo pela sua decoração em “trabalhos de massa”, sistematicamente associada a outros núcleos farenses executados com o mesmo material, como a Horta dos Macacos ou a Casa das Figuras. No entanto, só recentemente o Celeiro de São Francisco passou a ser olhado, também, como objeto arquitetónico, procurando-se entender o seu significado histórico-artístico. Francisco Lameira, pioneiro no seu estudo, relaciona-o com o mecenato do desembargador Veríssimo de Mendonça Manuel e invoca o nome do mestre-canteiro Diogo Tavares e Ataíde como sendo o seu autor. Seduzido há muitos anos pela figura de Diogo Tavares, escrevi ultimamente dois textos onde, ao lado de outras obras suas, refiro, igualmente, o chamado “Celeiro de São Francisco”. É o que volto a fazer agora, tentando delinear uma proposta de leitura iconológica deste enigmático objeto arquitetónico.
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A igreja da venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo
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Susana Carrusca
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Fruto do mecenato episcopal de D. António Pereira da Silva, a Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, cuja fundação na cidade-capital do Reino do Algarve remonta ao ano de 1712, principiou, em 1713, a edificação do seu templo próprio em terrenos adquiridos pelo referido bispo, fundador, protetor e primeiro prior da irmandade. O padre-arquiteto do Carmo, Frei Manuel da Conceição foi, tudo leva a crer, o autor do risco do templo carmelita erguido de raiz segundo o partido arquitetónico do designado “estilo chão”. Na década de quarenta do século XVIII, durante o priorado de Francisco Pereira da Silva iniciou-se, a partir do risco de Diogo Tavares e Ataíde, o mais notável mestre-pedreiro do Algarve setecentista, uma enormíssima campanha de obra de acrescentamento da igreja, cujo epílogo somente se verificou em 1878, ano da conclusão da torre ocidental do edifício. O esplendor da sua decoração interior leva a que o templo seja unanimemente considerado pelos farenses como a mais bela igreja da capital do Algarve.
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Arquitetura doméstica em Faro na segunda metade do século XIX: normas e práticas
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Alexandre Arménio Maia Tojal
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O estudo do poder normativo e regulador na cidade de Faro, em Oitocentos, dá a conhecer a evolução assistida nas questões urbanísticas e de arquitetura. Se no dobrar do século as disposições legais são parcas e de âmbito restrito, no último quartel de Oitocentos a extensão, complexidade e exigência do articulado revelam uma cidade em crescimento e em grande renovação. A arquitetura doméstica concretizada, de desenho mais erudito, ainda hoje marcante na imagem da cidade, produz efeitos nas suas principais artérias. Se o efeito mimético confirma um gosto médio generalizado, essencialmente apoiado na repetição de modelos estéticos preexistentes, com algumas reinterpretações, não deixa de revelar atualizadas linguagens de arquitetura — revivalistas, ecléticas ou exóticas — consagradas em Oitocentos.
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De Jorge Oliveira a Gomes da Costa: dois autores e duas conceções da arquitetura no século XX em Faro
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José Manuel Fernandes
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Também o Algarve foi palco para a aplicação de duas correntes contraditórias entre si, mas nitidamente contemporâneas, que marcaram a prática arquitetónica dos anos de 1940, 1950 e 1960, a Arquitetura Moderna e a neotradicional, aqui com a afirmação de dois autores importantes, representativos de cada uma delas, e ativos em Faro, onde edificaram notáveis obras de sinais estéticos, programáticos e funcionais bem diferenciados: Jorge de Oliveira e Gomes da Costa. Jorge de Oliveira, ao serviço do Estado, vai promover uma arquitetura de cariz “oficial”, ou institucional, enquanto Gomes da Costa vai dedicar-se a temas mais do foro privado ou empresarial, como moradias, prédios e equipamentos de iniciativa particular. Do primeiro destaque-se o Antigo Mercado Municipal de Faro, imponente construção, claramente definidora de um lugar urbano. Do segundo, mencionemos um equipamento, o anexo do Colégio de Nossa Senhora do Alto, junto ao Palacete Fialho, com uma boa integração de espaços e uma estrutura em betão de grande transparência e leveza (obra em 1961).
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Fábrica da Cerveja Portugália e Convento das Freiras: estudo dos edifícios e projeto de adaptação a museu
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Dália Paulo
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Uma equipa multidisciplinar levou a cabo um estudo de dois edifícios emblemáticos na cidade de Faro — a antiga Fábrica da Cerveja Portugália e o antigo Convento de Nossa Senhora da Assunção — com vista à sua adaptação a Museu Municipal. Com base na investigação apresentam-se as linhas condutoras para a recuperação do edificado e da sua envolvente, definindo critérios de intervenção, bem como o respetivo programa museológico. A criação de dois núcleos — do convento, sobre a história da cidade e do castelo/fábrica para a Arte Contemporânea — que constituíssem um equipamento cultural influente na região e valorizassem a identidade da comunidade foi o grande objetivo.
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Arquitetura recente em Faro: dois exemplos qualificados
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José Manuel Fernandes
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Nos primeiros anos do século XXI, o Algarve vem-se afirmando como uma região onde as infraestruturas e os equipamentos públicos têm recebido uma ampla ação de implantação, recuperação ou renovação. Já nos finais da década de 1990, algumas obras arquitetónicas mostravam esta tendência para a recuperação dos espaços urbanos e materiais, com atenção especial para os valores do património construído. Como exemplo de obras implantadas em Faro, é de referir a recuperação do Convento de São Francisco, para Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve e para Estalagem de São Francisco, no largo homónimo. Esta obra foi realizada numa construção dos séculos XVIII e XIX, com projeto de recuperação e de adaptação elaborado pelo arquiteto João Luís Carrilho da Graça. Também se deve citar a obra do Teatro Municipal de Faro, na Horta do Ourives, executada pelo arquiteto Gonçalo Byrne, concluída em 2005, para servir com o principal equipamento para o evento de Faro Capital Nacional da Cultura, e realizada em articulação com o restauro e adaptação das antigas Casa das Figuras e do Solar do Desembargador
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A intervenção da DGEMN na Sé de Faro
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José Filipe Cardoso Ramalho
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Ao longo dos anos a Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais tem vindo a intervir na Sé Catedral de Faro com o objetivo de conferir ao imóvel capacidade de adequação às funções a que se encontra acometido e garantido a capacidade de resistir ao passar dos anos com dignidade. Foi neste sentido que se propôs-se promover, a pedido e em colaboração com o Cabido da Sé de Faro, a partir de 1996, uma intervenção global no edifício, com o intuito de o equipar com algumas valências que se vinham a revelar necessárias face ao número crescente de visitas e às condições em que estas se processavam e, também, de proceder à necessária conservação geral do imóvel decorrente da regular prática litúrgica. Os trabalhos desenvolveram-se de acordo com uma programação conjunta, que procurou manter a atividade litúrgica e a visita turística durante a fase de execução dos trabalhos de conservação, por forma a que a sua visualização constituísse mais um motivo de interesse e, simultaneamente, fosse uma fonte de sensibilização.
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Igreja de Cabeça Santa: obras de conservação e valorização geral do imóvel
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Miguel Malheiro
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Situada em ambiente rural, junto à estrada, num pequeno adro definido por muros baixos e pela casa do pároco, a Casa da Torre e a torre sineira, a Igreja de Cabeça Santa é um pequeno templo do século XIII, que apresenta afinidades de conceção e de linguagem arquitetónica com a Igreja de São Gens de Boelhe e com a Igreja Matriz de Meinedo, enquadrando-se, assim, no românico da bacia do Sousa e do Baixo Tâmega, razão pela qual se encontra integrada na Rota do Românico no Vale do Sousa. A intervenção de que se dá notícia pretendeu conservar o imóvel, procedendo à remoção de elementos descaracterizadores, à manutenção de elementos fragilizados pela ação do tempo e à introdução de novos elementos contextualizados com uma linguagem contemporânea, portadores de uma mobilidade que permita a sua remoção na altura em que deixem de ser imprescindíveis para o regular funcionamento das atividades exercidas no monumento.
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Fonte do Ídolo, Braga
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Francisco Sande Lemos, Carlos A. S. Alves e Paula Araújo da Silva
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A Fonte do Ídolo, também conhecida pelo Tanque do Quintal do Ídolo, está classificada como Monumento Nacional desde 1910. Situa-se no centro da cidade de Braga, na Rua do Raio, constitui um testemunho importante da presença romana da cidade de Bracara Augusta e é também um dos mais conhecidos monumentos da epigrafia romana da Península Ibérica. A musealização agora realizada permite que este monumento passe a fazer parte de um itinerário de visita, incluído num conjunto de outros vestígios do passado romano da cidade. Numa altura em que o turismo cultural é considerado como uma alternativa de desenvolvimento económico sustentado do nosso país, este edifício constitui um contributo para que tal possa vir a acontecer na cidade de Braga.
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Capela de São Sebastião, Cidadelhe: trabalhos de conservação e restauro no teto e no retábulo
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Ivo Vicente e Graça Barros de Abreu
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A Capela de São Sebastião encontra-se situada na aldeia de Cidadelhe no conselho de Pinhel, distrito da Guarda. Esta região é caracterizada por grandes amplitudes térmicas, verões muito quentes e secos, invernos muito frios e húmidos, a inospitalidade do seu clima contribui, também, para uma maior degradação do seu património. Assim, a todo o processo de recuperação dos interiores da capela, antecedeu uma inspeção prévia do local, com o objetivo de diagnosticar a degradação interior do imóvel e definir a intervenção posteriormente realizada pela STAP — Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, SA. No decurso deste processo executou-se, no ateliê, o restauro e a conservação do teto — constituído por caixotões de madeira pintados com o ciclo da vida da Virgem e da Paixão de Cristo, enquadrados por marcenaria (molduras) marmoreada — e do retábulo — composto por cinco painéis de madeira de castanho, policromos, sendo dois deles figurativos.
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A aldeia de Estoi: formação e transformação
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Patrícia Malobbia
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Os estudos existentes até ao momento sobre este território permitem-nos reconhecer dois momentos particularmente importantes da sua história. O primeiro prende-se com a ocupação romana, prolongando-se até à Reconquista Cristã, encontrando-se geograficamente relacionado com o lugar de Milreu; o segundo correspondente ao aglomerado de Estoi propriamente dito, implantado a cerca de um quilómetro a este, a partir do século XVI, data das primeiras referências ao núcleo. O presente artigo incide numa análise do núcleo de Estoi no seu processo de evolução e de transformação desde a sua formação até à atualidade. A referência ao território e à ocupação de Milreu vem no sentido de perceber quais as mutações e preexistências que poderão estar na base deste assentamento.
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Brás de Almeida (1649-c. 1707): sete desenhos inéditos e algumas notícias sobre a família do artista
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Isabel Mayer Godinho de Mendonça
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Encontrámos no Museu Victoria & Albert, em Londres, onde até hoje permaneciam ignorados, sete desenhos coloridos a aguarela, datados e assinados por Brás de Almeida entre 1697 e 1705. São projetos para tetos, que revelam uma faceta da obra deste artista praticamente desconhecida, regularmente associado a seu irmão Félix da Costa Meesen, o famoso autor do tratado A Antiguidade da Arte da Pintura, escrito em 1696. Simultaneamente, localizámos no Instituto dos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, em Lisboa, um documento inédito que lança uma nova luz sobre esta família de artistas e de escritores a que pertenciam os dois irmãos: a habilitação de genere de Brás de Almeida, quando, ainda adolescente, pretendeu tomar ordens e para isso teve de provar que não tinha (…) rassa de mouro nem judeu, nem de outra outra infecta nassão (…).
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