Monumentos 07: Palácio Fronteira, Lisboa
|
Dossiê: Palácio Fronteira, Lisboa
|
Setembro 1997, 24x32cm, 132 pp.
|
|
|
|
Palácio Fronteira: um percurso arquitetónico
|
Marieta Dá Mesquita
|
|
|
O Palácio Fronteira, situado em São Domingos de Benfica, foi mandado edificar pelo primeiro marquês de Fronteira, D. João de Mascarenhas, figura emblemática da Restauração. Constitui-se, relativamente às quintas de recreio seiscentistas portuguesas, como um objeto singular, pelas heranças maneiristas eruditas de base tratadística presentes na sua organização formal, pelo exuberante e complexo programa dos jardins sustentado em modelos barrocos franceses e italianizantes e pelo tratamento plástico e ornamental dos interiores. Projetado entre 1666 e 1672, sofreu até à contemporaneidade várias intervenções que, no entanto, não alteraram significativamente a traça original.
|
Intervenções no século XX
|
Pedro Mascarenhas Cassiano Neves
|
|
|
Tendo chegado até nós como o melhor exemplo da arquitetura seiscentista em Portugal, o palácio dos marqueses de Fronteira tem sido alvo, ao longo de todo o século XX, das mais diversas obras estruturais, que basicamente visaram a sua conservação, mas tiveram por vezes como objetivo a recuperação da traça primitiva e algumas inovações de qualidade. O aproveitamento de todo o andar térreo, a recuperação da loggia da fachada norte, a adaptação do piso inferior da ala do século XVIII para serviços administrativos e a procura constante de uma maior comodidade interior são as características mais marcantes das intervenções realizadas, que visam perpetuar, no futuro, este monumento do passado.
|
Recuperação e restauro das alas sul e nascente: Sala das Batalhas, escadaria nobre, biblioteca e Torrinha Sul
|
Victor Mestre
|
|
|
A recuperação e restauro da Sala das Batalhas, da biblioteca, da Torrinha Sul e da cobertura da escadaria principal resultaram de uma metodologia preestabelecida de abordagem global do conjunto edificado, que estabeleceu prioridades face à identificação e grau das patologias inventariadas. Foi proposto que as intervenções tivessem um caráter o mais globalista possível, mas simultaneamente reversível e respeitador das técnicas e materiais em presença. A recuperação e o restauro foram assim permanentemente “vigiados”, com o propósito de se manterem as características do lugar e do imóvel, aceitando inclusivamente o seu envelhecimento natural como um sinal maior da perenidade deste conjunto arquitetónico.
|
O Ninfeu de Mignard: um conjunto escultórico francês nos jardins
|
Teresa Leonor M. Vale
|
|
|
O Ninfeu, um conjunto escultórico constituído por onze estátuas de vulto em mármore branco, distribui-se pelo lago e pela balaustrada que serve de guarda ao terraço e escadarias de acesso à denominada Galeria dos Reis do Palácio Fronteira. De temática mitológica clássica, o conjunto compreende as figurações de nove ninfas (apenas parcialmente identificadas) de Pã e de Mársias, o que, em articulação com o ambiente no qual se integra, permite a designação classicizante de ninfeu, que elegemos. A assinatura PETRUS MINARIAE FECIT, ainda legível na face lateral da base de uma das estátuas, permite uma atribuição de todo o conjunto, com claras afinidades estilísticas, ao escultor francês Pierre Mignard (1640-1725).
|
O "Giardino Segreto": percorrendo um jardim virtual
|
Rodrigo Alves Dias
|
|
|
Com a interpretação de dois documentos do século XVII, respetivamente o Tombo de 1673 e a Visita de Alexis Collotes de Jantillet em 1678, e através da análise de elementos construídos que permaneceram, foi possível desenhar um jardim virtual, o antigo giardino segreto do Palácio Fronteira, onde a atual Fonte de Vénus, a Casa de Fresco, o Tanque dos Loureiros e o Labirinto nos surgiam envolvidos por deambulatórios e relacionados entre si por eixos iconográficos e simbólicos. Ao conhecermos o antigo giardino segreto e a carga simbólica de todo o conjunto dos jardins de Fronteira, abre-se um novo e rico espaço de compreensão dos jardins históricos portugueses e de como se idealizava a representação e a vivência do jardim feito paraíso entre nós.
|
Estuques ornamentais: da organização dos espaços à descrição de uma moldura
|
Fernando Mascarenhas
|
|
|
Este artigo é dividido em duas partes: na primeira, faz-se uma abordagem genérica de diversos aspetos relativos ao uso de estuques no Palácio Fronteira, enquanto elemento ornamental de paredes e tetos, bem como a análise das diferenças que presidem à respetiva ornamentação, com particular incidência no período rococó; na segunda parte, procura fazer-se uma descrição tão minuciosa quanto possível da moldura em estuque da pintura central da parede sul do quarto de aparato do século XVIII, igualmente rococó, procurando também integrá-la, embora de forma mais sintética, no conjunto ornamental de que faz parte. Faz-se ainda a tentativa de afinação de vocabulário necessário à descrição dos estuques e um quadro sintético dos aspetos considerados na primeira parte.
|
Intervenções de conservação e restauro no interior do Palácio Fronteira
|
Carmen Almada e Luís Tovar Figueira
|
|
|
Na sala de entrada, no medalhão central do teto, com pintura sobre estuque, representando um dos trabalhos de Hércules, consolidou-se a estrutura e o suporte, fixou-se a camada cromática, removeu-se o verniz, levantaram-se grandes repintes e reintegrou-se cromaticamente. Quanto aos ornatos em estuque e à pintura decorativa de ambas as salas, aqueles foram fixados e limpos, foram avivadas fissuras, refeitos pequenos pormenores, consolidadas “bolsas” existentes na parede e retocadas todas as cores de fundo igualando as já existentes, embora não fossem as originais.
|
Os embrechados
|
José Meco
|
|
|
Vários recintos deste palácio, como o nártex do oratório, a abóbada da Casa de Fresco, a frente e as três grutas da Galeria dos Reis e a Fonte da Carranquinha, apresentam decorações coevas da construção, formadas por cacos de porcelana, conchas, pedras e contas de vidro, vulgarmente designadas por “embrechado”, utilizadas em Portugal nos séculos XVII e XVIII, tanto em edifícios civis (Paço dos Henriques, em Alcáçovas), como em religiosos (Conventinho da Arrábida). Explorando os contrastes das cores e dos materiais, que permitem efeitos decorativos invulgares, os embrechados inspiram-se no artificialismo de algumas grutas e salas de palácios italianos da época maneirista, mas refletem também, nos materiais utilizados, em especial, os fragmentos de porcelana chinesa e as conchas nacaradas, as intensas relações da arte portuguesa com as culturas do Extremo Oriente.
|
A azulejaria
|
José Meco
|
|
|
O Palácio Fronteira ostenta o melhor e mais diversificado conjunto de azulejos da segunda metade do século XVII conservado em Portugal. Os azulejos, destacados pela sua interligação com a arquitetura e pela originalidade das soluções decorativas, em especial nos espaços exteriores, como a Galeria das Artes e a Galeria dos Reis, anunciam o movimento barroco. Realizados cerca de 1670, estes azulejos são inovadores na escolha da temática profana (como as cenas caricaturais, alegóricas, mitológicas, ou as Batalhas da Guerra da Restauração) e na evolução pictórica, pela afirmação da bicromia (azuis e roxos) que antecedeu a moda barroca do “azul e branco”. Destacam-se ainda neste palácio, o precioso conjunto de painéis holandeses de uma sala, atribuíveis a Jan van Oort, da mesma época, e algumas composições rococó da segunda metade do século XVIII, no corpo pombalino.
|
As fontes de inspiração dos azulejos da Galeria das Artes
|
Ana Paula Rebelo Correia-Arnould
|
|
|
Os milhares de azulejos que decoram o Palácio Fronteira, que formam um conjunto deslumbrante, são na realidade realizados a partir de gravuras flamengas que na época da construção do palácio já circulavam há cerca de um século. Para a decoração da Galeria das Artes, D. João de Mascarenhas não recorreu a artistas portugueses. Os artistas ceramistas copiaram gravuras de Johannes Sadeler I, feitas a partir de desenhos de Martin De Vos e transformaram-nas nos gigantescos painéis que ornam o terraço. Talvez a magia da decoração azulejar do palácio se encontre, em parte, na confrontação de uma escolha de modelos, de certo modo banal e algo arcaica, com a ousadia e força plástica com que o azulejo, dinâmico, colorido, brilhante, cobrindo todos os espaços, cantos e recantos, transforma esse modelo aplicando-o à escala monumental da arquitetura.
|
O teatro da Guerra da Restauração portuguesa: a Sala das Batalhas, uma leitura estético-simbólica
|
Lilian Pestre d'Almeida
|
|
|
A Sala das Batalhas constituiu um espaço heróico frequente em palácios de reis ou nobres, da Renascença ao final do século XVIII, em toda a Europa. Numerosos exemplos encontram-se em diferentes cidades italianas, em França ou em Espanha. O salão apresenta oito painéis de azulejo, de tamanhos diversos, descrevendo os diferentes episódios ocorridos nas batalhas da Restauração portuguesa. O enfoque irá para a leitura do conjunto das cartelas, destacando as suas características comuns e as suas diferenças. Finalmente o texto refere dois painéis de azulejos (Elvas e Ameixial) em diferentes perspetivas, distinguindo-os entre modelo maneirista e barroco.
|
Batalhas da Restauração
|
Francisco Sousa Lobo
|
|
|
Os painéis de azulejo da Sala das Batalhas do Palácio Fronteira constituem o melhor repositório iconográfico da Guerra da Restauração que chegou aos nossos dias. A informação é mais elaborada nos grandes painéis e muito simplificada nos pequenos. Foram utilizados desenhos que serviram de modelo, garantidamente, nos painéis das batalhas das Linhas de Elvas e do Ameixial e, com toda a probabilidade, no da Batalha de São Miguel. De forma improvável nos restantes painéis. Há uma sensibilidade que percorre todo o conjunto de imagens, talvez resultante de alguém com experiência militar. A riqueza dos pormenores leva-nos a pensar na hipótese do artista ter sido, ele próprio, combatente.
|
Um concurso para o provimento do lugar de arquiteto das ordens militares: a propósito de um "curriculum" do padre Francisco Tinoco da Silva
|
Teresa Campos Coelho
|
|
|
Desde a Idade Média que as famílias de arquitetos assumem um papel fundamental na transmissão do saber teórico e prático da arte de construir. À semelhança do que aconteceu com os Arruda e os Castilho no século XVI, e com os Frias, os Turriano e os Couto no século XVII, também os Tinoco desenvolveriam uma profícua atividade, numa dinastia que se extinguiria, no final do século XVIII, com a enigmática figura de Francisco Tinoco da Silva, o padre Tinoco. A documentação aqui apresentada, para além de fornecer importantes dados sobre outros arquitetos, vem juntar, também, alguns esclarecimentos sobre a sua atividade e sobre uma possível rivalidade com o seu discípulo João Antunes.
|
Antiga Fábrica de Tabaco, Lisboa: reconversão do edifício em Centro de Acolhimento para os Sem-Abrigo
|
Teresa Poole da Costa
|
|
|
A antiga Fábrica do Tabaco localiza-se na zona oriental de Lisboa, num gaveto delimitado pelas ruas de Xabregas (norte) e da Manutenção (sul). A construção, de tipo industrial, assinala fortes indícios de se reportar já aos princípios deste século. A fim de ser instalado o Centro de Acolhimento para os Sem-Abrigo, foi solicitado à DGEMN uma intervenção que não só abrangesse a elaboração de um projeto de execução, bem como da fiscalização da respetiva empreitada. Exteriormente a intervenção foi efetuada ao nível das fachadas. No interior, a compartimentação proposta distribui-se essencialmente por três zonas, bem distintas, que constituem, respetivamente, o núcleo dos homens (nascente); o acolhimento, instalações e gabinetes do pessoal, constituindo tudo um núcleo que se distribui pela nave central do edifício, e, finalmente, o núcleo das mulheres (poente).
|
A Cadeia Penitenciária de Lisboa
|
Olga Moreira da Silva
|
|
|
O Estabelecimento Prisional de Lisboa, cuja construção se iniciou em 1867, é um exemplo típico do modelo arquitetónico “radial” e, de acordo como regime prisional da época, foi constituído por seis alas com 568 celas, irradiando do hall central de vigilância e para onde convergiam os serviços administrativos e de economato. As obras de remodelação do estabelecimento vêm sendo executadas há já alguns anos, segundo projetos elaboradas pela Direção-Geral dos Serviços Prisionais. Todas as intervenções levadas a cabo tiveram como metodologia respeitar as características do imóvel, procurando, no entanto, melhorar as suas condições de habitabilidade e adaptá-lo às atuais realidades da estrutura prisional.
|
Paula Rego no palácio
|
João Pinharanda
|
|
|
O Palácio Fronteira oferece uma das mais importantes coleções de azulejos existentes em Portugal. No grande jardim da Casa Fronteira há uma série de bancos dedicados aos Quatro Elementos, mas falta, porém, por destruição em tempo indeterminado, a representação do Fogo. Para colmatar esta ausência, foi encomendado, a Paula Rego, um novo painel. Este insere uma obra de arte contemporânea num palácio que sempre viveu da integração de várias épocas e linguagens (do século XVII ao XIX). A imagem segue o esquema de composição tradicional, mas subverte-a, complexificando-a com a substituição da figura alegórica, supostamente masculina, por uma imagem feminina. O paganismo, a crueldade física, a imagem da impossível regeneração, o regresso ao diálogo entre homens e bichos, percorre este trabalho, que em breve integrará a arte azulejar de uma das obras-primas dos programas decorativos portugueses.
|
Igreja de Santa Leocádia: diagnóstico do estado de conservação de pinturas murais
|
Augusto Costa, José Nunes e Pilar Pinto Hespanhol
|
|
|
A Igreja de Santa Leocádia, fundada no século XII, situa-se na aldeia serrana com o mesmo nome, de onde se avista, a poucos quilómetros, a bela cidade flaviense. O trabalho de diagnóstico realizado nas pinturas murais (que se encontravam completamente caiadas) teve como principais objetivos a identificação das técnicas e materiais empregues na sua execução, bem como da área onde se desenvolviam. O estudo permitiu identificar pigmentos e aglutinantes, assim como a composição e granulometria das argamassas. Para que fosse possível conhecer os limites desta manifestação artística foram abertas janelas de amostragem na cal, que revelaram uma iconografia bastante diversa. Foi este estudo que serviu de base à elaboração de uma proposta de intervenção.
|
| |