Mosteiro de Lorvão
| IPA.00001598 |
Portugal, Coimbra, Penacova, Lorvão |
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Mosteiro cisterciense feminino, resultante das reformas executadas nos séc.17 e 18. A igreja segue o programa joanino da Basílica de Mafra (v. PT031109090001), de grande monumentalidade e riqueza decorativa. O claustro aproxima-se dos modelos coimbrões maneiristas. Pórtico de inspiração gótica. Vasto conjunto arquitectónico do qual praticamente nada resta da grande obra medieval dos séc. 12 e 13. Ao contrário dos tradicionais cenóbios cistercienses, que denotam uma organização ordenada e regular, o Mosteiro apresenta uma disposição irregular, aproveitando as características do terreno. A torre da igreja apresenta, incrustada, uma pedra de mármore negro visigótica, datável do séc. 6. No domínio da talha, destaca-se o cadeiral, de madeira de jacarandá e nogueira, pela qualidade dos ornatos e imaginário presente, como também pelas suas dimensões, sendo um dos maiores do país. Salientam-se também o órgão setecentista neoclássico, a grade de separação do coro, exemplar raro de aplicações de bronze sobre ferro forjado, e os os túmulos da autoria do ourives portuense Manuel Carneiro da Silva. Na Sala do Capítulo sobressaem os azulejos de padrão policromados maneiristas, de produção eventualmente coimbrã. Refiram-se, por fim, as telas de grande dimensão, de Pasquale Parente, e os retábulos de pedra e talha dourada. |
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Número IPA Antigo: PT020613040001 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Convento / Mosteiro Mosteiro feminino Ordem de Cister - Cistercienses
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Descrição
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Planta composta pelos corpos da igreja de planta longitudinal, claustros, dormitórios e hospício a constituír volumetria movimentada com destaque para cúpula do zimbório. IGREJA: entrada principal no alçado E. através de portal em arco abatido entre fortes pilastras geminadas coroadas de bolas; sobre ele um nicho ladeado por duas janelas; pórtico de verga curva ladeada por dois pequenos óculos. INTERIOR: nártex, nave única de dois tramos, transepto inscrito e capela-mor; nave separada do coro por grade de ferro e bronze com um desenho losangular; coro com cadeiral esculpido com figuras de santos e mascarões; é composto por duas ordens de cadeiras, num total de 102, com alto espaldar dividido por pilastras misuladas; órgão de dupla fachada; nave abobadada, altares laterais com retábulos, abertos em arco de volta perfeita sobre os quias corre uma galeria com tribunas gradeadas; transepto de arcos frontais com altares; no cruzeiro desenvolve-se zimbório com cúpula; altar-mor ladeado por duas janelas e sobrepujado de frontão e altares laterais em camarins com urnas relicários das Santas Teresa e Sancha: bojudas e alongadas, forradas de veludo carmesim liso, inteiramente revestidas de prata recortada, com enrolamentos de acanto, ambas com emblemática real e religiosa. A sacristia, que comunica com a igreja do lado do Evangelho, tem tecto de madeira em composição estrelada. CLAUSTRO: quadrangular apresenta dois pisos com tramos irregulares definidos por colunas dóricas, alguns com capelas; na quadra ajardinada chafariz com um obelisco e pequeno tanque; várias campas dispersas. A E. a Sala do Capítulo com paredes revestidas a silhares de azulejos de padrão, polícromos, e tecto de madeira. De E. a O. o dormitório de três pisos, encontrando-se no primeiro as salas de apoio e nos restantes as celas; apresenta cobertura em abóbadas nos corredores e em tectos de madeira nas celas. |
Acessos
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A 7 Km. de Penacova. Rua de Evaristo Lopes Guimarâes, Rua da Quelha, Rua Professor Bissaya Barreto, Rua do Rio da Ponte *1 |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 269 de 18 novembro 1960 |
Enquadramento
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Urbano, em vale estreito de vegetação exuberante, destacado, frente a encosta coberta de casas entre ruas estreitas e turtuosas, separado da vila por pequena ribeira, a dominar o principal largo da vila. |
Descrição Complementar
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Na sacristia pinturas em tábua por Miguel Paiva; na Capela-mor os túmulos de prata de D. Sancha e D. Teresa. |
Utilização Inicial
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Religiosa: mosteiro feminino |
Utilização Actual
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Religiosa: igreja / Cultural e recreativa: museu / Saúde: hospital |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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DRCCentro, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163 de 24 agosto 2009 |
Época Construção
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Séc. 09 / 12 / 13 / 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Ourives Manuel Carneiro da Silva (1715), pintores Miguel de Paiva, Agostinho Masucci, Pascoal Parente, construtor de órgãos António Xavier Machado e Cerveira (1795); António José de Carvalho e Silva (ourives); Teodósio Hemberg (organeiro); Calisto Barros Pereira (organeiro). |
Cronologia
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878, a partir de - documentação histórica da existência de um Mosteiro masculino dedicado a São Mamede e São Pelágio *2, após a Reconquista de Coimbra pelo Conde Hermenegildo; o Conde Ovieco Garcia doa a terra de Pala, em Mortágua, ao mosteiro; séc.11 - segue, provavelmente, a partir desta data a Regra de São Bento; doações dos fiéis tornam próspero o Mosteiro, que alarga a sua esfera de influência; 966 - Abade Primo contribui para o seu prestígio; 1086 - 1118 - com o Abade Eusébio o Mosteiro torna-se importante centro religioso e cultural do reino; 1183 - aqui se copia e ilumina o Livro das Aves; 1189 - o Comentário do Apocalipse, à semelhança do livro anterior, também aqui é copiado e iluminado, constituindo obra ímpar da iluminura portuguesa; 1206 - 1206 - Mosteiro reformado por D. Sancha, filha de D. Sancho I e D. Teresa - ex-rainha de Aragão -, torna-se numa comunidade cisterciense feminina sob a abadessa D. Vierna; séc.14 - imagem da Senhora da Vida referida no Santuário Mariano; 1349 - período de crise com a Peste Negra; séc.15 - figura de Cristo em tamanho natural; séc. 16 - atinge grande esplendor com as abadessas D. Catarina d'Eça e D. Bernarda Alencastre; esculturas do período manuelino; séc. 17 - construção do claustro com algumas capelas devocionais; séc. 17 - 18 - reformas do edifício conduzem à construção de 3 dormitórios, noviciaria, hospício, igreja, coro, 2 claustros, refeitório, cartório, botica, oficinas e celeiro; mobiliário, peças de cerâmica; 1676 - execução de um órgão positivo; séc.18 - novo período de destaque com as abadessas D. Bernarda Teles de Meneses, D. Teresa Luzia de Carvalho e D. Madalena Maria Joana Caldeira; 1715 - feitura das urnas em prata de Santa Sancha e Teresa pelo ourives portuense Manuel Carneiro da Silva; 1722 - 1723 - execução de um órgão por Calisto Barros Pereira; 1742, 24 Dezembro - contrato para execução do órgão com Teodósio Hemberg, por 100$000 réis; 1747 - execução do cadeiral; 1748 - 1761 - construção da actual igreja, sagrada em 1761, datando desta fase as grandes telas dos altares sob o zimbório, representando São Bento e São Bernardo, de Pascoal Parente; 1790, 28 de Janeiro - contrato com o ourives António José de Carvalho e Silva para a execução de sete lampadários em prata; 1795 - feitura do órgão de 2 fachadas, com 61 registos, por António Xavier Machado Cerveira, o seu n.º 47; 1820, a partir de - extinção das ordens religiosas conduz à decadência do Mosteiro; adaptação do antigo dormitório a hospital psiquiátrico; 1959, 7 Abril - entrega do convento, depois de adaptado a Hospital de Alienados ao Ministério da Saúde e Assistência; 1970, 18 Maio - incêndio na igreja destroi 17 assentos do cadeiral; 1990, finais - o mosteiro passa a integrar a rede internacional de Mosteiros da Ordem de Cister, inserido no programa PACTE; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 2000 / 2006 - prevista a execução do plano de beneficiação pelo IPPAR, com financiamento do III Quadro Comunitário de Apoio destinado ao Património de Cister, integrando essencialmente a renovação de instalação eléctrica (30 mil contos), restauro de recheio artístico (50 mil contos), limpeza e conservação de paredes (20 mil contos), e ainda a consolidação da torre sineira, conservação e restauro do claustro, montagem do órgão e reestruturação do Museu do Lorvão; 2000, 21 Novembro - aberto concurso público para remodelação da instalação eléctrica, iluminação interna, redes de detecção de incêndio e de segurança contra intrusão (DR nº 259, IIISérie); 2007, 20 dezembro - o imóvel é afeto à Direção Regional da Cultura do Centro, pela Portaria n.º 1130/2007, DR, 2.ª série, n.º 245: 2014 - obras de requallificação com projeto de João Mendes Ribeiro; 2016, 28 dezembro - o edifício integra a lista de 30 imóveis a concessionar pelo Estado Português a privados, para instalação de unidades hoteleiras; 2023, julho - inauguração do centro interpretativo, projeto ainda previsto nas obras de 2014, sobre e em redor do primeiro piso do claustro, num plano recuado. |
Dados Técnicos
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Estrutura mista |
Materiais
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Calcários, pedra de Ançã e Portunhos ( pavimento da sacristia) ferro forjado, bronze, madeiras exóticas. |
Bibliografia
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BRITO, Bernardo de, A Chronica de Cister, Lisboa, 1602; VASCONCELOS, Joaquim de, Lorvão in Arte e Natureza em Portugal, Vol. I, Porto, 1902; GONÇALVES, A. Nogueira, As Urnas Sepulcrais das Santas Teresa e Sancha em Lorvão na Ourivesaria Portuguesa, Coimbra, 1952; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1956, Lisboa, 1957; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos anos de 1957 e 1958, 1º Volume, Lisboa, 1959; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos Anos de 1959, 1º Volume, Lisboa, 1960, p. 372; O Mosteiro do Lorvão, Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nº 99, Lisboa, 1960; COCHERIL, Maur, Routier des Abbayes Cisterciennes du Portugal, Paris, 1978; BORGES, Nelson Correia, Monumentos de Interesse Histórico e Turístico no Concelho de Penacova, Penacova, 1980; Idem, Coimbra e Região, Lisboa, 1987; VALENÇA, Manuel, A Arte Organística em Portugal, vols. I e II, Braga, 1990; ALVES, Joaquim Jaime B. Ferreira, A ourivesaria portuense nos séculos XVII e XVIII, análise de alguns contratos, in Actas do I Congresso Internacional do Barroco, vol. I, Porto, 1991, pp. 335-354; "Mosteiro de Lorvão vai ser restaurado", in Jornal Diário de Coimbra, Coimbra, 26 Fevereiro, 2000, p.14; "Recuperação avança no Mosteiro do Lorvão", in Jornal Diário das Beiras, 15 Março, 2000, p.4; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70694 [consultado em 23 agosto 2016]; "Mosteiro do Lorvão em Penacova tem novo centro interpretativo", Público, 17 julho 2023, https://www.publico.pt/2023/07/17/fugas/noticia/mosteiro-lorvao-penacova-novo-centro-interpretativo-2057110. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID
IHRU: DGEMN/CAM 0138/07; DGEMN/CAM 0232/01; DGEMN/CAM 0508/26; DGEMN/CAM 0120/01; DGEMN/CAM 0120/02; DGEMN/CAM 0120/03; DGEMN/CAM 0120/04
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Intervenção Realizada
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DGEMN: 1933 - rebaixamento do pavimento do claustro e outras depêndencias; construção de gigantes em alvenaria e cantaria; 1934 - 1936 - reconstrução telhados; construção pavimento em betão armado no exterior da capela-mor e na torre; substituição caixilhos; rebaixamento pavimento Sala do Capítulo; construção de gigantes em contraforte para reforço exterior capela-mor; 1936 - 1945 - obras de adaptação de dependências do convento a residência Paroquial; obras de conservação e restauro na igreja e convento; 1948 - obras de reconstrução telhados e obras de consolidação; 1949 - obras de restauro e consolidação cúpula; 1950 - 1953 - obras de restauro e consolidação; restauro do órgão; 1951 - 1971 - obras de adaptação a Hospital Psiquiátrico; 1956 - reparação de lanternas; obras de grande vulto, pelos Serviços dos Monumentos Nacionais; 1957 / 1958 - continuação das obras de adaptação a Colónia agrícola psiquiátrica pelos Serviços dos Monumentos Nacionais; 1959 - instalação eléctrica; restauro portal da cerca; continuação das obras de adaptação, pelos Serviços do Monumentos Nacionais; 1960 - 1964 - obras de reparação; caiações; reparação telhados; 1967 - reparação do acesso à igreja; 1971 - obras de restauro do órgão; 1972 - 1980 - obras de recuperação e beneficiação; 1980 - beneficiação da instalação eléctrica; 1986 - 1988 - obras de recuperação e beneficiação; IPPAR: 1994 - intervenção na zona do orgão, na cobertura, no fosso, no corpo da igreja e na instalação eléctrica; 1995 - restauro do cadeiral; limpeza de cantarias e caiação interiores e restauro da escadaria de acesso ao mosteiro; 1996 - restauro da caixa de órgãos e varandins; 1997 - recuperação do portal da Capela de São João Baptista e do claustro; 2000 - início de obras de beneficiação e restauro do Mosteiro; 2001 - remodelação da instalação eléctrica interna, redes de detecção de incêndios e de segurança contra intrusos; 2004, Outubro - início das obras de conservação e reparação, do telhado e de algumas cantarias (está prevista também a conservação e reparação da pedra na torre sineira e no claustro). |
Observações
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*1 - DOF: Mosteiro de Lorvão compreendendo os túmulos de Santa Teresa e Santa Sancha. *2 - a lendária fundação do mosteiro remonta-o ao Séc. 6, quando o abade Lucêncio assiste ao concílio de Braga em 561. |
Autor e Data
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João Cravo e Horácio Bonifácio 1992 |
Actualização
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Sandra Azevedo 2004 / Margarida Elias (Centro de Investigação em Arquitectura, Urbanismo e Design (CIAUD-FA/UTL)) 2013 |
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