Mosteiro de Santa Clara de Lisboa
| IPA.00026235 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, São Vicente |
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Arquitetura religiosa. Mosteiro feminino de Clarissas urbanistas da jurisdição do ordinário, composto por igreja, zona regral e cerca, a igreja virada ao Tejo e ao terreiro de acesso, formando uma frente, onde existem a igreja, capela-mor, sacristia de fora e os coros, a capela-mor com cobertura em cúpula, semelhante à solução seiscentista que existia no Mosteiro da Madre de Deus de Lisboa (v. PT031106410009). Interior com teto em falsa abóbada de berço com caixotões pintados, tendo oito capelas laterais e capela elevada com retábulo de talha barroca joanina. Possui amplo claustro quadrangular, de dois pisos, com tanque central e alas compostas por várias capelas. No claustro de baixo, surgem a portaria, roda, locutório, todos com acesso por um pátio, onde se situa a casa da veleira e que acede à casa do capelão, a casa de lavor, livraria, refeitório e cozinha. No piso superior, o ante-coro, coro-alto, com sacrário e acesso por tribuna, os dormitórios e a enfermaria. A cerca possui várias capelas. |
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Número IPA Antigo: PT031106511322 |
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Registo visualizado 3159 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Convento / Mosteiro Mosteiro feminino Ordem de Santa Clara - Clarissas (jurisdição do ordinário)
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Descrição
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Mosteiro de planta poligonal composto por igreja e zona regral com cerca, desenvolvidas a NO.. Igreja antecedida por amplo terreiro, onde se ergue um cruzeiro, sendo composta por nave, com eixo longitudinal interno e acesso lateral, e capela-mor, com sacristia exterior adossada à fachada posterior. Nave com portal em arco de volta perfeita, com tímpano liso, encimado por cartela; é iluminada por quatro janelas retilíneas. A capela-mor tem cobertura em cúpula facetada, com os ângulos definidos por pilastras e com janela retilínea em cada face, rematando em cruz latina; é iluminada por duas janelas retilíneas. A sacristia, mais baixa, possui três janelas retilíneas (Panorâmica Lisboa, MNAz). INTERIOR com a nave coberta em falsa abóbada de berço de caixotões pintados, formando 28 painéis com cenas do Apocalipse, envolvidos por molduras de talha dourada, com sanca do mesmo material. As capelas laterais têm acesso por arcos, encimados por painéis pintados e janelas de cada lado (Mosteiros..., p. 235). As capelas são dedicadas, no lado da Epístola à Trindade, Madalena e a Santo António; no lado do Evangelho, a São João Baptista, São João Evangelista, Nossa Senhora da Conceição e a Ascensão de Cristo (COSTA, p. 381). Presbitério elevado, ladeado por duas capelas confrontantes. Arco triunfal de volta perfeita, bastante amplo e revestido a talha dourada. Capela-mor com pavimento em lajeado de várias tonalidades, com supedâneo em pedraria com os maciços laterais almofadados, com as paredes revestidas a cantaria, encimado por painel envolvido por talha dourada e janela. Teto revestido a talha dourada. Retábulo-mor de talha dourada, de três eixos formados por colunas coríntias, o central com tribuna com boca ornada por meninos de vulto e castiçais de prata, contendo trono e sacrário de prata, decorado por colunas, mísulas, frisos, molduras, serafins e pináculos. Os eixos laterais possuem nichos, o do Evangelho com a imagem de São Francisco de Assis, estofada, surgindo, no lado oposto, Santa Clara com uma custódia de prata dourada na mão direita, tendo, na esquerda, um báculo de prata dourada. Altar com banqueta de embutidos com seis tocheiros. Tem frontal de prata batida. A capela-mor está iluminada por duas lâmpadas de prata (Mosteiros..., pp. 234-237). ZONA REGRAL com amplo claustro, e com a zona dos coros viradas ao terreiro principal, rasgados por cinco eixos de vãos correspondentes (Panorâmica Lisboa, MNAz). Claustro quadrado com quatro varandas assentes em pilares de pedra e arcadas, com a quadra dividida em quatro ruas ladrilhadas com assentos e canteiros de pedraria, tendo, em cada ângulo nichos de embrechados com santos penitentes e fontes de pedra, abastecidos por água proveniente da cerca; ao centro, chafariz em cantaria, rodeado por assentos de pedra (Mosteiros..., pp. 242-243). Em torno do claustro, as oficinas capelas de talha dourada, com os Sete Passos da Paixão, uma delas com um Senhor dos Passos de grandes dimensões, tão imponente como o do Mosteiro da Graça; tem a capela do Menino do Presépio, de jaspe negro e branco (COSTA, p. 380), com a imagem do Menino, em prata, protegido por vidraça de cristal (Mosteiros..., p. 243), a de Nossa Senhora de Belém com capela de embutidos de pedraria, na base, encimada por talha em branco, com nichos onde surgem 46 bustos-relicários, oito nichos grandes com santo de vulto, surtindo, na tribuna, a imagem da Virgem com trono em prata dourada; acede à capela uma saleta com pinturas e caixilharias de talha dourada, encimada por uma lápide com a inscrição "SOLI DEO HONOR ET GLORIA" (Mosteiros..., pp. 243-245). A imagem é de pedra pintada, com palmo e meio, representando a Virgem do Leite, com coroa, a qual foi removida para a colocação de cabelos e coroa de prata (MARIA, pp. 169-171). No mesmo lado, a capela de São Francisco, de embrechados, recebendo as Chagas, tendo dois penhascos por onde corre água para dois tanques de pedra. Surge, ainda, a Capela de São João Evangelista, toda em pedra e o santo num grande nicho de mármore negro guarnecido com figuras do Apocalipse, em prata, com vários nichos, onde surgem representadas as virtudes do Santo (Mosteiros..., p. 242) e a de Nossa Senhora da Conceição (COSTA, p. 380). No cruzeiro do claustro, uma capela com a imagem do Senhor Crucificado. No segundo piso do claustro, quatro capelas de talha dourada (Mosteiros..., p. 243), uma delas de Nossa Senhora da Graça, com as paredes vazadas por edículas, a de Nossa Senhora da Penha de França e vários nichos e painéis (COSTA, p. 381). Coro-baixo com oito capelas, com imagens doadas pela fundadora e um Crucificado de tamanho natural, e uma capela dedicada a São Francisco (Mosteiros..., p. 242) e a dos Reis (COSTA, p. 381); todas as capelas têm lâmpadas de prata. No local, a sepultura da fundadora, de pedraria lavrada. Esta dependência liga, por escadas, ao coro-alto de teto apainelado com painéis pintados e molduras de talha, com seis janelas para o lado do rio. Cadeiral com duas ordens de cadeiras de madeira de angelim, com sete capelas, destacando-se as de Nossa Senhora da Conceição e a de São João Baptista, ambas de embutidos de pedra, com vidraças de cristal, a segunda com relíquia do Santo Lenho e uma cabeça das Onze Mil Virgens; têm estrutura e frontais de prata; na segunda, a imagem de São João Baptista, sobre peanha de prata com figuras relevadas, e um Menino Jesus a que chamam o Menino do Natal. Possui sacrário, numa tribuna que assenta sobre o meio da grade do coro, que ocupa toda a sua largura; tem acesso pela igreja, por umas escadas de pedra, para o sacerdote poder colocar, num cofre, a sagrada partícula, visível do coro através de uma vidraça de cristal. Possui uma Capela de Nossa Senhora da Piedade de talha dourada, com vários nichos e imagens. No ante-coro, duas capelas, uma consagrada a São José e outra a Santo António, ambas douradas e com ornato de prata. As paredes estão revestidas a azulejo da Holanda e o teto com boas pinturas. Possui, ainda a Capela do Senhor Morto, envolvidas pelas figuras que acompanharam a descida da cruz, formando uma Lamentação. Casa do Capítulo com paredes revestidas a azulejo figurativo representando cenas da vida de São Francisco e teto pintado, iluminado por quatro janelas. Refeitório com as paredes revestidas a azulejo e num dos lados, púlpito em cantaria; mesas grandes e iluminado por seis grandes janelas. Portaria antecedida por pátio. Existência de dez dormitórios encostados às varandas do claustro e uma enfermaria. As noviças e molas dormem em dormitórios separados, iluminados por 46 lâmpadas. (Mosteiros..., pp. 234-247). A CASA DOS PADRES é ampla com um dormitório de 10 celas e um refeitório (COSTA, p. 380). |
Acessos
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Largo Dr. Bernardino António Gomes (Pai) |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Urbano, isolado, implantado a meia-encosta, a que se adapta, ocupando grande parte do Campo de Santa Clara, onde se implantam edifícios pertencentes ao Exército Português, as Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento (OGFE), zona industrial e zona social (v. PT031106511321). |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Religiosa: mosteiro feminino |
Utilização Actual
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Demolido |
Propriedade
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Não aplicável |
Afectação
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Não aplicável |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETO: Pedro Nunes Tinoco (séc. 17). |
Cronologia
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1288 - fundação do Mosteiro por D. Inês Fernandes, asturiana e viúva do mercador genovês, D. Vivaldo de Pandulfo, por Maria Martins, Maria Domingues e Clara Eanes; 24 agosto - autorização do Papa Nicolau IV para a fundação do cenóbio; início da construção do edifício no atual Largo da Trindade, junto ao Convento de São Francisco da Cidade; 1290 - transferência do edifício para o Campo de Santa Clara; 1292, 01 fevereiro - é entregue pela fundadora às primeiras monjas, ficando Inês Fernandes a habitar uma casa junto ao edifício; 1294, 07 setembro - lançamento da primeira pedra da igreja pelo bispo D. João Martins de Soalhães; séc. 13, final - é sepultado na capela-mor D. Vivaldo Pandulfo; 1404 - uma religiosa ordena a feitura de um sacrário no coro, iluminado por lâmpada, para cujo azeite deixou uma fazenda; 1463, 17 junho - falecimento da Infanta D. Catarina, que se recolhera ao Mosteiro após a morte do príncipe de Navarra, D. Carlos, tendo os seus restos mortais sido trasladados para o Convento de Santo Elói; 1475 - é sepultada na Casa do Capítulo D. Joana de Portugal, rainha de Castela (1439-1475); séc. 16 - construção da Capela de Nossa Senhora de Belém, no claustro; 1503 - o convento de clarissas urbanistas passa a ser sujeito ao Provincial da Observância; construção da Capela de Nossa Senhora de Belém, no claustro; 1508, 08 agosto - licença para aquisição de todo o sabão necessário (Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 17v); 1529 - reforma do Mosteiro, que passa a integrar a Observância; colocação de uma imagem de Nossa Senhora de Belém na ala S. do claustro, onde está o cemitério das religiosas (MARIA, pp. 169-170); 1530 - falecimento de D. Joana no Mosteiro; 1551 - o mosteiro tem 100 freiras, duas capelas e uma confraria; 1558, 18 fevereiro - carta da rainha D. Catarina, referindo que a princesa D. Joana de Castela, sua tia, se achava sepultada no Mosteiro, onde manda rezar seis missas cantadas por ano; o corpo encontra-se num túmulo sem epitáfio; séc. 16, final -s egundo Cristóvão Rodrigues de Oliveira o Mosteiro tem 100 freiras, tendo duas capelas com missa quotidiana e uma confraria da Ascenção, administrada pelas freiras e por leigos, com 80 cruzados de rendimento anual; a renda do mosteiro é de cerca de 250 cruzados e tem 25 servidores; 1631 - licença do Núncio para se receber no Mosteiro D. Maria de Portugal, filha de D. António de Almeida e D. Madalena de Ataíde (BPÉvora, Mosteiro de Santa Clara, Cód. Cx/2-1, n.º 133); séc. 17 - remodelação da igreja, por iniciativa da Abadessa Maria de Jesus, conforme traça do arquiteto Pedro Nunes Tinoco; séc. 17 - 18 - reconstrução da capela-mor; 1701 - início da reforma da Capela de Nossa Senhora de Belém, no claustro, por 15 mil cruzados; 1703, agosto - colocação da imagem de Nossa Senhora de Belém na sua nova capela; 1707 - os retábulos das capelas da nave estão a ser feitos; 1713 - segundo o Padre Carvalho da Costa, o Mosteiro foi fundado por D. Inês Fernandes, asturiana, D. Maria Martins, D. Maria Domingas, mulher de Durão Martins de Parada, mordomo-mor de D. Dinis, e Clara Anes, filha de João Soares; tem quatro padres, dois confessores, um capelão e um feitor, e quatro donatos, três que assistem aos padres e um à sacristia; a Capela de São João Baptista pertence a João Luís e tem um capelão, sendo a de São João Evangelista de Francisco Botelho Chacão e com capelão; a Capela da Ascensão de Cristo tem uma Irmandade e quatro capelães; as religiosas têm bens em Penela, Sarilhos e possuem muitos foros e juros; tem 230 religiosas, trinta pupilas e noviças, 10 seculares, 30 criadas e 140 pessoas particulares e meninas; no pátio vivem 46 pessoas; 1755, 01 novembro - o mosteiro é afetado pelo terramoto, especialmente na zona regral, o que obriga as religiosas a refugiarem-se no Convento da Esperança; nesta data tem 223 religiosas, que vivem com a quantia de 14 mil cruzados; da igreja, apenas ficou de pé a parede N., desapareceu o coro-alto e arruinaram-se os dormitórios, casas e o lanço do claustro onde se encontrava a Capela de Nossa Senhora de Belém; 1758, 22 julho - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco Luís da Costa de Barbuda, é referido que a igreja tinha oito altares, o mor, quatro no lado do Evangelho e três no lado da Epístola; tem as irmandades da Ascensão do Senhor, a do Santíssimo Coração de Jesus; no claustro, nove capelas, entre as quais se conta a de Nossa Senhora de Belém; no coro-alto, existem cinco capelas, e um sacrário; tem um claustro, uma grande portaria, dormitórios com muitas casas nobres, que as religiosas particulares mandaram fazer; 1763 - segundo João Batista de Castro, o terramoto de 1755 abalou e arruinou toda a igreja, só ficando a capela-mor e as dependências anexas, bem como o coro-alto, matando várias religiosas; 1786, 24 fevereiro - Breve de Pio VI a conceder indulgências a quem rezasse junto ao Santíssimo Exposto às quintas-feiras; 1828 - extinção do Mosteiro. |
Dados Técnicos
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Não aplicável |
Materiais
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Não aplicável |
Bibliografia
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CASTRO, João Baptista de - Mappa de Portugal. Lisboa: Officina Patriarcal de Francisco Luis Ameno, 1763, tomo III; COSTA, António Carvalho da (Padre) - Corografia Portuguesa. Lisboa: Valentim da Costa Deslandes, 1712, vol. III; História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1972, vol. II; MARIA, Agostinho de Santa (Frei) - Santuario Mariano... 2.ª ed. Lisboa:, Imprensa Libanio da Silva, 1933, tomo I; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando - Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1974; OLIVEIRA, Cristóvão Rodrigues de - Sumario..., 2.ª ed., Lisboa: Casa do Livro, 1939. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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Museu Nacional do Azulejo |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Não aplicável |
Observações
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Autor e Data
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Paula Figueiredo 2012 |
Actualização
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