Igreja Paroquial de Góis / Igreja de Santa Maria Maior

IPA.00002800
Portugal, Coimbra, Góis, Góis
 
Igreja paroquial gótica, manuelina e oitocentista. Pinturas quinhentistas do retábulo-mor.
Número IPA Antigo: PT020606040001
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal irregular, de volumes articulados dispostos na horizontal, composta por nave, capela-mor, 2 capelas laterais, sacristia e antiga sacristia; à esquerda, separada do corpo da igreja, encontra-se a torre sineira, de planta quadrada e volumes simples dispostos verticalmente. A cobertura é diferenciada: em telhados de 2 águas na nave, nas capelas laterais e na sacristia, de 5 águas na capela-mor, 1 água na antiga sacristia e em cúpula bolbosa na torre, com cruz no vértice. A fachada principal orientada a O. com embasamento de pedra, apresenta um pano de 2 registos, com cunhais apilastrados rematados por urnas de coroamento; aberto por portal axial, no 1º registo, em arco rebaixado composto por moldura em pedra com justaposição de pilastras, uma de cada lado, e franqueado por frontão triangular, encimado por janela com moldura pétrea e pilastras laterais com frontão curvo interrompido no 2º registo; remate em frontão contracurvado com mistilínio, assente sobre cornija, com nicho ao centro do tímpano, em forma de arco pleno com imagem esculpida. No lado direito, escadas de acesso exterior ao coro; Torre: pano com embasamento de pedra e cunhais apilastrados, aberto por porta encimada por 2 janelas sobrepostas, separado por cornija e friso, do volume superior que alberga os sinos, rasgado por ventanas, com remate em balaustrada coroada com urnas e gárgulas nos extremos. A fachada lateral esquerda apresenta 3 panos: o pano do corpo da igreja de 2 registos, com embasamento em pedra, é rematado por beirado sobre cornija, com porta axial no 1º registo e 2 janelas simétricas ao eixo no registo superior, de molduras em pedra; o pano da capela dos Barretos em empena cega apresenta cunhais com pilastras rematados por urnas em pedra; o pano da sacristia em empena de 2 pisos apresenta 1 porta e 1 janela rectangulares, com moldura pétrea por piso. A fachada lateral direita apresenta 4 panos: o pano do corpo da igreja à imagem da fachada oposta, a acrescentar-se apenas a presença das escadas em pedra de acesso ao coro no lado esquerdo e respectiva porta de madeira em arco rebaixado, com moldura em pedra; o pano da capela das almas apresenta-se em empena cega com cunhais parcialmente apilastrados; o pano da antiga sacristia também em empena, apresenta 1 janela central e 2 frestas rectangulares com moldura em pedra; o pano da capela-mor é cego com contrafortes, que marcam as arestas resultantes da forma do volume, com remate em beirado sobre cornija. A fachada posterior encontra-se semi-enterrada na encosta, dividindo-se em 4 panos: à capela-mor correspondem 3 panos cegos marcados pelos diferentes ângulos resultantes da forma do volume reforçados por botaréus coroados de gárgulas de canhão em pedra; o pano da sacristia é cego. INTERIOR: A nave é um espaço amplo, iluminado por janelas das fachadas laterais, com tecto de falsa abóbada de caixotões em madeira, antecedido por guarda-vento em madeira, sob o coro alto de balaustrada também em madeira. Nas paredes laterais abrem-se 2 portas simétricas e 2 oratórios de cada lado, em arco pleno de moldura e forro de pedra, albergando imagens. No lado epístolo, junto à entrada, situa-se o baptistério de planta quadrada, com pia baptismal, ao centro, sobre base circular, de taça canelada, ostentando as armas dos Goes; na parede lateral esquerda abre-se um pequeno nicho e apresenta um registo azulejar na parede fronteira; a entrada faz-se por arco pleno, separado por portadas de madeira. O púlpito assenta em mísula lavrada com base em pedra e guarda em madeira trabalhada de dourado com acesso feito através de escadas que se encontram na capela das almas. A nave separa-se da capela-mor pelo arco cruzeiro em ogiva, ladeado por imagens de N. Sra. do Rosário e N. Sra. das Dores, imediatamente antecedido pelas capelas laterais, em frente uma da outra. A capela-mor apresenta planta composta por 2 tramos desiguais: 1 quadrado e 1 trapezoidal; cobertura em abóbada de ogivas, cujas nervuras são em pedra granulosa e avermelhada, com as intersecções assinaladas por chaves discóides, lavradas com florões, medalhas e brasões. No lado evangelho, encontra-se o túmulo renascentista de D. Luís da Silveira, conde de Sortelha, em arco embutido na parede, com modelo de estátua orante e janela lavrada no topo, e no lado epístolo encontram-se mais 2 túmulos, em arcos inseridos em moldura, sabendo-se que um deles é de Gomes Martins de Lemos, trisavô de D. Luís. Os cinco capitéis em que assentam os arcos da abóbada são feitos em pedra de ançã, com lavores idênticos aos do túmulo. A parede de fundo recebe o altar-mor dourado com colunas salomónicas, encimado por retábulo-mor barroco nacional, de talha dourada, em arco de volta plena, preenchido com pinturas quinhentistas de motivos religiosos; ao centro camarim com trono e imagem. A capela-mor comunica por portas abertas junto ao arco principal, com a sacristia no lado evangelho e com a antiga sacristia, no lado oposto, transformada em pequeno museu sacro. A sacristia, de planta rectangular e tecto plano em madeira, apresenta um arcaz simples encimado por pintura parietal, representando a Virgem e S. José em pose de adoração, criando um jogo de composição com a imagem de Cristo crucificado colocada sobre o arcaz. Na parede adjacente recebe um lavabo em pedra com pequena pia e moldura com mascarão. A capela dos Barretos, no lado evangelho, tem planta rectangular e cobertura em abóbada de quartelas; com altar-mor maneirista, é iluminada por uma janela lateral e tem única entrada pela igreja, em arco inserido entre pilastras que suportam arquitrave com o brasão dos Barretos Perdigões, separada por grade de ferro com inscrição. A capela das Almas, no lado espístolo, de planta rectangular, é coberta por abóbada de quartelas assente sobre cornija; é iluminada por 2 óculos laterais e a entrada faz-se por um arco de volta perfeita; o altar é em madeira policromo, com retábulo de 3 corpos em arco alterado em talha dourada, separados por colunas salomónicas com decoração de motivos de vegetação; ao centro, grupo escultórico com Cristo carregando a cruz; à direita encontram-se as escadas de acesso ao púlpito.

Acessos

Rua António Francisco Barata

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 *1

Enquadramento

Urbano, isolado; localiza-se no extremo S. da vila, em encosta que forma um largo já fora do conjunto habitacional, no culminar do que foi o principal eixo de distribuição do núcleo. Com cemitério confinante a S., é antecedida pelo adro que se desenvolve em espaço aberto, sobre plataforma semi-circular, avistando o aglomerado e a capela do castelo (v.PT020606040022), sita em morro de cota mais elevada, na outra margem do rio Ceira; na sua proximidade encontram-se várias casas abastadas como a casa do Povo (v.PT020606040035) e a casa da Praça (v.PT020606040007). No largo mais próximo destacam-se a igreja da misericórdia (v.PT020606040009), a cisterna do pombal (v.PT020606040010), o fontanário do pombal (v.PT020606040023). Enquadra-se em zona florestal, pelo que a paisagem envolvente é dominada pelo pinheiro e eucalipto, entre outras espécies, salientando-se uma espada de Santiago esculpida na vegetação da serra.

Descrição Complementar

Altar-mor, com colunas salomónicas, dourado ao estilo da época, é encimado pela imagem de Sta. Maria Maior, padroeira da freguesia de Góis. O altar-mor é ladeado por 4 pinturas do séc. 16: do lado direito está S. Pedro em seu martírio e a Assunção de N. Sra., do lado esquerdo está S. Paulo em seu martírio e a adoração dos Reis magos. Pedra sepulcral: No centro da capela-mor está o túmulo de D. Nuno Martins da Silveira e sua esposa D. Filipa de Vilhena, pais de D. Luís da Silveira, que teria a seguinte inscrição: "AQVI IAZ*D*N*MARTIZ*DA SILVEIRA*ESCRIVAO*DA PORIDADE DELREI*DONAFONSO QVINTO E MORDOMO MOR*DA RAINHA DONA*CATIRINA SNOR DO MORGADO DE GOES E VILLA DE OLIVEIRA DO CONDE O Q VAL FALECEO EM VINTE E OVTO DE MAIO DE 1528" (NEVES, J. Afonso Baeta, Notícia histórica e topográphica da villa de Goes e seu termo, Lisboa, 1897, p.28). Pia baptismal: em pedra de ançã, tem o bojo canelado e ostenta as armas dos Goes. Túmulo do conde de Sortelha: no lado evangelho da capela-mor, consta de 1 arco embutido na parede abrigando decoração com modelo de estátua orante de D. Luís da Silveira, bastante raro na altura. Podem considerar-se 4 secções. A 1ª correspondem as bases e a caixa tumular, em cuja frente figuram dois meninos nus e alados que apoiam uma das mãos sobre o alto de uma cartela anepígrafa e com a outra seguram cornucópias estilizadas, onde assentam caveiras. A armação do arco parte de 1 grupo de 3 pilastras largas, encimadas por 2 pilastras mais estreitas intercaladas por coluna balaustre, já na 2ª secção, que serve de pedestal ao nicho que se lhe sobrepõe entre 2 colunetas. Os 2 pares de pilastras da 2ª secção mostram um delicado lavor renascentista, onde se encontram 2 pequenas cartelas inscritas com "I.N.R.I. ", à esquerda e "A.B." à direita. O banco em que está pousada a estátua ostenta, entre ramagens e grotescos, 2 escudos esquartelados em que se juntam as cadernas dos Lemos e dos Goes e as faixas dos Silveiras. A estátua representa o varão armado em guerra de cabeça descoberta e mãos postas com o elmo, olhando para um missal aberto sobre uma estante baixa. Na 3ª secção, a volta do arco abriga uma Assunção da Virgem que se eleva entre anjos suspensos. Nos lados do arco abrem-se 2 óculos de onde se projectam os bustos de 1 homem e de 1 mulher. Sobre o entablamento ergue-se 1 janela lavrada. A estabelecer ligação entre a fresta e o resto do moimento, existem 2 figuras de sereias cujos membros inferiores se transformaram em grifos alados que abrigam estatuetas desnudadas. Túmulos no lado epístolo da capela-mor: 2 túmulos em arcos inseridos em moldura, por cima dos quais estão 5 bustos-relicários com os nomes de: S. Fortunato; S. Constantino, bispo; S. Vicente, levita; S. Candido e S. Timóteo e ainda 4 braços-relicários. Capela dos Barretos: no retábulo de 2 corpos estão representadas cenas da vida da Virgem Maria (ao centro: os esponsais / à esq. A Família de Nazaré com S. José a trabalhar / à dir. a fuga para o Egipto). No altar encontram-se 3 imagens muito antigas em madeira: ao centro, S. José; no lado esquerdo, N. Sra. da Conceição e no lado direito, Sr. dos Aflitos a que falta a coluna. Em cima de uma coluna do lado esquerdo 1 imagem antiga em madeira de Sto. António.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Pública: estatal / Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 16 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Diogo de Castilho (atr.): capela-mor; Diogo de Castilho e Diogo de Torralva (atr.): túmulo de D. Luis da Silveira, Conde da Sortelha e embaixador de D. João III na corte de Carlos V; PINTOR: Mateus Fernandes (atr.): tábuas pintadas no altar-mor.

Cronologia

séc. 15 - construção; 1415, 10 de Abril - a igreja de Santa Maria Maior foi instituída sede colegiada, por compromisso entre o prior Fernão Gil e o Senhor da Vila Estêvão Vasques de Pedra Alçada; 1452 - documento do reinado de D. Afonso V, que se refere ao claustro; 1528,28 de Maio - faleceu D. Nuno Martins da Silveira; 1529, 2 de Janeiro - procuração de Diogo de Castilho nomeando Diogo de Torralva, em Coimbra / 10 de Abril - contrato de execução, firmado em Lisboa, referente à reconstrução da capela-mor feito entre D. Luís da Silveira e Diogo de Torralva, com procuração de Diogo de Castilho, prevendo conclusão para 2 anos e meio depois; séc. 16 - capela-mor reconstruída por iniciativa de D. Luís da Silveira, Conde de Sortelha e morgado de Góis (a pedido de seu pai D. Nuno Martins da Silveira); 1531 - túmulo do Conde da Sortelha, principal ex-libris da vila; pia baptismal; (data gravada num dos lados da fresta do túmulo); 1533 - faleceu D. Luís da Silveira, benfeitor da vila; 1557, 28 de Junho - a igreja foi apropriada e anexada ao hospital, por morte do prior João Pires; 1640, por volta de - foi mandada construir a capela dos Barretos por António Rodrigues Barreto, capitão-mor de Góis e sua mulher Filicita Duarte Figueiredo, que deixaram testamento e bens para a sua manutenção; 1642 - foi criada a confraria das almas; 1748 - data marcada num dos sinos; 1751 - restauro da pintura do retábulo da capela-mor; 1755, depois de - consequência do terramoto desta data, reconstrução da torre da igreja; 1829 - obras na cobertura da capela-mor; 1835, 21 de Setembro - decreto proibiu os enterramentos nas igrejas / 18 de Novembro - demarcação do cemitério; 1837, 24 de Dezembro - Câmara oficia à Junta contra o abuso de continuar a enterrar na igreja, o cemitério foi benzido e vedado com ripado de madeira; 1840, 24 de Junho - a igreja foi roubada; 1848 - as colegiadas foram extintas por decreto; 1849, cerca de - por motivo do estado de ruína, pensa-se em apear a igreja e reconstrui-la a partir dos alicerces; a capela-mor sobrevive à ruína; 1852, 17 de Outubro, a partir de - demolição e reconstrução do actual corpo da igreja, com remodelação da frontaria (até cerca de 1860); 1854 - data de um dos sinos; 1856 - primeira sepultura com pedra tumular no cemitério, pertencente a Manuel Ferreira Neves; 1859 - o adro da igreja foi aumentado a sul; 1863 - data na grade de ferro da capela dos Barretos; 1863, 25 de Março - foi mandada construir a sacristia e o muro do adro / 17 de Abril - pintura do púlpito por António Augusto Sá e José Ferreira de Carvalho; 1866 - reconstrução da parte superior da torre sineira; 1870 - o cemitério foi aumentado; 1875 - a sacristia foi acabada; 1878 - começaram outras famílias a requerer a concessão de jazigos; 1879 - foi feito o guarda-vento; 1930 - capela-mor ameaça ruína, tendo caído parte da cimalha interior que destruiu altar e imagens, a igreja chegou a ser encerrada para culto/ pedem-se providências (obras); 1937 - pedido de obras necessárias na torre por motivo dos temporais, que não foi atendido; 1962 - o pároco pede atenção ao altar, considerado em resposta peça artística que merece protecção; 1969, Fevereiro - sismo, possível causador de várias fendas na igreja, algumas na capela-mor, e outros danos, que deixam entrar água das chuvas a ponto de dificultar os actos do culto; 1974 - remoção de 2 altares encostados na parede cruzeira; 2000 - o cemitério foi acrescentado.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Madeira, ttijolo, tellha, cantaria de pedra, ferro

Bibliografia

NEVES, J. Afonso Baeta, Notícia histórica e topográphica da villa de Goes e seu termo, Lisboa, 1897; CORREIA, Virgílio, Um Túmulo Renascença, Coimbra, 1921; CORREIA, Vergílio, GONÇALVES, A. Nogueira, Inventário Artístico de Portugal - distrito de Coimbra, Lisboa, 1952; AZEVEDO, José Correia de, Inventário Artístico da Região de Coimbra, Lisboa, 1953; RAMOS, dir. e ed. Mário Paredes, Arquivo histórico de Góis, Torres Vedras, 1956 - 1971; Tesouros artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; AMARAL, Ana Filomena Leite, Góis: entre o rio e a montanha, Góis, 1997; Jornal Correio da Manhã, 2 Julho 2000, p.62; CRUZ, José de Matos, Igreja de Góis, 2001; SILVA, João Castro, O Túmulo de Góis [texto policopiado], Lisboa, 2001; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70290 [consultado em 18 agosto 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID/DREMC; GTL-Góis

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID/DREMC

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID/DREMC

Intervenção Realizada

DGEMN: 1932 - reparação do telhado; 1948 - reparação de coberturas, rebocos, portas e janelas; 1972 - reparação de coberturas e abóbada da capela-mor; rebocos, lajedo e assentamento de vitral, reparação do pavimento da sacristia; 1974 - reconstrução de rebocos, pavimentos e tecto da sacristia e instalação eléctrica; 1997 - obras de restauro na capela dos Barretos; 1998 - obras de beneficiação de coberturas. Família Barreto; 1998 / 1999 - obras de beneficiação de coberturas.

Observações

*1 - DOF: Igreja de Góis, compreendendo o túmulo do Conde de Sortelha / Igreja Matriz, compreendendo o túmulo do Conde de Sortelha.

Autor e Data

Margarida Alçada 1984 / João Cravo 1993

Actualização

Berta Mota e Cecília Matias 2004
 
 
 
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