Castelo de Ródão / Castelo do Rei Vamba

IPA.00005166
Portugal, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Vila Velha de Ródão
 
Castelo construído no final do séc. 12 / início do séc. 13, pela Ordem do Templo, após a doação da Herdade da Açafa, em 1999, num local de grande importância estratégica, sobre o rio Tejo e as denominadas Portas do Ródão, integrando-se na linha defensiva do vale do Tejo. Era composto por circuito muralhado, de planta trapezoidal irregular, com paramentos aprumados, de que conserva atualmente dois panos de muralha, já sem remate, e por torre de menagem no interior do recinto, sobre o local mais elevado, seguindo o esquema dos castelos românicos. A torre de menagem de planta retangular, com paramentos aprumados em alvenaria de pedra e cunhais ciclópicos, devia ter três pisos, ainda que hoje só conserve dois, pois o Tombo de 1505 refere ter dois pisos sobradados, o inferior cego, e acesso sobrelevado, virado ao rio, por portal em arco apontado, de provável feitura trecentista, com tímpano inscrito e siglado; as restantes fachadas são rasgadas por seteiras retilíneas muito pequenas. No interior, o pavimento do segundo piso apoiava-se na espessura do muro, que é mais grosso inferiormente, criando ressalto. Com o avanço da fronteira para sul, o castelo de Ródão perdeu importância e é abandonado, tendo no início do séc. 16 as muralhas já derribadas "per partes" e a torre sem pisos. Contudo, volta a adquirir valor estratégico na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) e na Guerra Peninsular (1807-1814), sendo reformado nessas épocas e construindo-se baterias no local e na encosta.
Número IPA Antigo: PT020511040004
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Recinto muralhado, de planta trapezoidal irregular, com paramentos aprumados em alvenaria de quartzito argamassada, sem remate e com alguns troços muito derruídos, conservando-se, no entanto, dois panos de muralhas justapostos. O pano exterior tem cerca de 1,85m de espessura e o pano interior tem 0,90m. No ângulo nordeste do recinto, implanta-se a torre, de planta retangular e volume paralelepipédico, atualmente sem cobertura. Apresenta paramentos aprumados, com cerca de 15m de altura, em alvenaria de pedra argamassada e cunhais ciclópicos, sem remate. A fachada principal surge virada a sul e ao Tejo, tendo no piso térreo amplo vão (com 2,80m de altura e 1,80m de largura) aberto recentemente, e o segundo rasgado por portal sobrelevado, em arco apontado sobre os pés direitos, com o tímpano inscrito e gravado por cruz da Ordem do Templo, criando verga reta; numa das aduelas do lado direito existe sigla de canteiro em "S" colocada horizontalmente. As restantes fachadas possuem o piso térreo cego e o superior rasgado por pequena seteira retilínea. INTERIOR acedido atualmente pelo vão térreo, com as paredes rebocadas que, no piso superior, são menos espessas, criando ressalto para sustentação do antigo pavimento de madeira daquele piso. Uma escada metálica moderna desenvolve-se à volta das paredes até ao segundo piso, aproveitando o ressalto na parede poente para circulação, protegido por guarda metálica. O portal sobrelevado, com barra em ferro formando guarda, tem abóbada de berço quebrado e conserva as caixas das coiceiras. As restantes faces da torre têm seteiras com nichos poligonais. Do lado ocidental, entre a torre e a muralha, existem vestígios de antigas construções, dada a grande acumulação de pequenos blocos quartzíticos. Junto da estrada que conduz à capela e ao castelo existe uma espessa muralha com alguns metros de extensão e disposição transversal em relação à cumeada, de modo a fechar o acesso mais fácil ao castelo. Na encosta nascente, subjacente ao castelo, e junto do morro norte das Portas de Ródão existem estruturas semelhantes, correspondendo a baterias.

Acessos

Vila Velha de Ródão, ao km 3 da EM 1373 para Vilas Ruivas, por caminho em terra batida, com direcção sudeste. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,647288; long.: -7,690115

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 45/93, DR n.º 280 de 30 novembro 1993 *1

Enquadramento

Rural, isolado, situado no extremo sul da Serra das Talhadas ou Serra do Perdigão, num cabeço de constituição quartzítica coberto por vegetação arbustiva e arbórea. Implanta-se numa plataforma a cerca de 300 m de altitude, sobranceira ao rio Tejo, no topo do morro norte do monumento geológico denominado por Portas do Ródão. A parte central do recinto é ocupada por afloramento quartzítico, sobre os quais se ergue a torre de menagem. Desta tem-se amplo panorama sobre a envolvente, o vale do Tejo e as províncias da Beira e do Alentejo. Junto à fortificação existe miradouro de construção recente sobre a paisagem. A norte do castelo, a cerca de 150 m, ergue-se a Capela de Nossa Senhora do Castelo (v. IPA.00009904), existindo entre os imóveis, caminho de ligação, bordejado por bancos de jardim.

Descrição Complementar

O tímpano do portal da torre, quase triangular, tem lavrado cinco linhas horizontais, paralelas, sobre as quais se desenvolve inscrição, atualmente muito delida, interrompidas no lado direito por círculo contendo a cruz da Ordem do Templo.

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 12 / 13 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUEÓLOGOS: Fernando Branco (2000-2001); Pilar Reis (2006).

Cronologia

Séc. 07 - segundo a lenda, o monarca visigodo Vamba (672-680) aqui manda edificar um castelo *2, o que é inviabilizado pelas sondagens arqueológicas realizadas e pelos vestígios materiais visíveis; 1186 - D. Sancho I concede foral à Covilhã, que tem como limite sul do concelho a região das Portas de Ródão, referindo-se a necessidade de estabilizar as fronteiras e desenvolver a área tão escassamente povoada; 1190 - 1191 - depois da ofensiva do califa almóada al-Mansur, a fronteira mantém-se no rio Tejo; 1199, 05 julho - D. Sancho I (1188-1211) faz escambo com o mestre D. Lopo Fernandes e a Ordem do Templo, doando-lhe a Herdade da Açafa, em troca das igrejas de Mogadouro e Penas Róias; a Herdade da Açafa abrange grande parte da antiga Beira Baixa, com a atual Vila Velha de Ródão, e uma extensa zona do Alto Alentejo, confrontando a norte do Tejo com o termo da Idanha, na época já na posse dos Templários; séc. 12 - séc. 13 - época provável da construção do castelo, por iniciativa da Ordem do Templo; 1217, 10 fevereiro - o papa Honório III, pela bula "Cum a nobis petitur", dirigida ao mestre e freires da Ordem do Templo, toma sob a sua proteção os castelos fundados pela Ordem no Ródão e em Castelo Branco, as igrejas e os demais bens, com a obrigação do censo anual de uma onça de ouro, evidenciando a sua tutela sobre a Ordem; 1272 - segundo registado em Monarquia Lusitana (Livro XV, tit. IV), sendo mestre D. Beltrão de Valverde, a Ordem do Templo cede por escritura pública Vila Velha de Ródão a D. Sancha Pires e a sua filha D. Berengaria para usufruto da vila enquanto fossem vivas, tendo a D. Sancha doado muitas fazendas à Ordem; séc. 14 - época provável da reforma do castelo e da feitura do atual portal sobrelevado, da torre, com arco apontado; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrassem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e, pela via judicial, incorpora-o na Coroa, alegando que as doações haviam sido da responsabilidade régia e que obrigavam à prestação de serviços ao rei e ao reino; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1321, 11 junho - divisão em comendas dos antigos bens pertencentes aos Templários e integrados na Ordem de Cristo; para moradia do mestre da Ordem, manda-se reter Castelo Branco, com todas as coisas que a Ordem tivesse, no termo desta vila, bem como nos termos das comendas de Ródão, Nisa e Alpalhão; 1505, 11 dezembro - data do Tombo da comenda de Vila Velha de Ródão, da Ordem de Cristo, elaborado pelo capelão frei Francisco, fazendo-se uma breve descrição do castelo, então já em mau estado *3: 1537 - demarcação dos termos dos lugares que estão ao longo da raia, desde Vila Velha de Ródão até Castelo Rodrigo; séc. 17 - 18 - a comenda de Vila Velha de Ródão mantém-se na posse dos condes de Atouguia; 1756 - 1763 - durante a Guerra dos Sete Anos, o castelo é utilizado como base de artilharia para controle e proteção da passagem do Tejo, integrada na estrada Castelo Branco-Nisa, e procede-se à construção de baterias na encosta virada ao Tejo, no local denominado Batarias, sobranceiro à atual ponte sobre o Tejo; a defesa do castelo e dos cimos de Vila Velha (serra da Vila) fica a cargo de 500 homens do Regimento de Aveiras, comandados pelo Tenente-Coronel Silva; a tática do comando aliado consistia em induzir o inimigo a tentar a invasão na direção de Abrantes, através do território situado entre o Tejo e o Zêzere, por uma das passagens naturais do sistema montanhoso do Perdigão, do Ocreza, em Alvito, ou mais a norte, o que provocaria grande desgaste e a desistência das tropas inimigas; após a conquista das posições no castelo de Vila Velha, mas na impossibilidade de atravessar o Tejo, as tropas inimigas passam a cadeia montanhosa em Porto Cabrão, hoje Foz do Cobrão, ou seja na passagem do rio Ocresa, avançam no território mas, acabam por retroceder até Castelo Branco e a abandonar a estratégia de invasão pela Beira Baixa; 1758 - segundo o vigário fr. João Batista nas Memórias Paroquiais, a freguesia pertence ao bispado da Guarda, comarca de Castelo Branco e é do rei; tem 172 fogos e 438 pessoas; junto à ermida da Senhora do Castelo acha-se uma fortificação e dentro um castelo "Coiza Muito Antígua Com alguma damnificaçam por causa do temporal"; junto ao lugar dos Perais, numa charneca sobre as ladeiras do Tejo existe um reduto ou atalaia arruinada e fronteira ao castelo, onde assistem guardas em tempo de guerras; do castelo avista-se a vila de Montalvão; 1776 - Tombo da comenda de Nossa Senhora da Conceição de Vila Velha de Ródão; séc. 19, início - reconstrução do castelo e preparativos para a 1ª Invasão Francesa, por iniciativa do Marquês de Alorna; 1807 - 1814 - devido à sua importância estratégica, durante a Guerra Peninsular, o castelo é ocupado pelo exército anglo-luso; segundo Pinho Leal, sabendo-se que os franceses avançavam sobre Portugal por Castelo Branco, as tropas inglesas aqui colocadas fogem precipitadamente e, não podendo levar consigo o depósito de munições, lançam-lhe fogo; 1808 - uma gravura de William Bradford, capelão de brigada que acompanha as tropas inglesas em Portugal, representa a passagem de tropas frente às Portas de Ródão vendo-se, no canto superior direito, a torre do castelo de Ródão, referindo que, "uma torre e algumas ruínas de muralhas, sobre uma eminência que domina a margem direita da ribeira, são os únicos vestígios que deram antigamente alguma importância à aldeia de Vila Velha"; Georges Landeman, oficial inglês, desenha uma panorâmica das Portas de Ródão e da passagem do Tejo por contingentes militares numa ponte volante, vendo-se no canto superior direito a torre de Ródão, referindo que" do cimo do rochedo a norte, a montanha continua a subir até atingir uma altura que excede os mil pés, e no cume erguem-se as ruínas de um velho castelo"; petição do conde de Bobadela e comendador da comenda de Nossa Senhora de Vila Velha de Ródão para levantamento do sequestro da referida comenda; 1811 - o Major Thomas Saint Clair desenha panorâmica da travessia do Tejo em Vila Velha pelas tropas aliadas, tendo como fundo, muito fantasiada, uma vista das Portas de Ródão e respectivo maciço rochoso e da torre do castelo, que se confunde com os rochedos e o arvoredo; 1830, década - abolição das comendas da Ordem de Cristo; 1886 - segundo Pinho Leal, a fachada sul da torre era rasgada "por uma porta e uma janela sem lavores" e foi cercada por um fosso e grossas muralhas; refere ainda alicerces e outros vestígios de fortificações, nomeadamente onde chamam Torre Velha, que faz o autor depreender a existência de uma outra torre antiquíssima no local, uma "estrada" na encosta da serra, por onde rodou a artilharia, e, em plano inferior, baterias que estiveram artilhadas durante a guerra peninsular (1807-1814); 1896 - extinção do concelho; 1898, 13 janeiro - restauração do concelho de Vila Velha de Ródão; 1990 - a Associação de Estudos do Alto Tejo / Núcleo Regional de Investigação Arqueológica elabora, a pedido do então Presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, Inspetor Baptista Martins, uma proposta de classificação do castelo de Ródão e da capela da Senhora do Castelo.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura da torre em alvenaria mista argamassada; portal e cunhais em cantaria de granito *4, os silhares mais recentes de diferente grão; escada e guarda do portal em metal; muralhas em alvenaria de granito e xisto argamassada.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID (DGEMN:DSID-001/005-005-0460/7), DGEMN:DSARH (DGEMN:DSARH-010/296-1); GLAB: Memórias paroquiais, vol. 40, nº 264, p. 1623 a 1626, Feitos Findos: Diversos (Documentação Diversa, mç. 34, n.º 46)

Intervenção Realizada

CMVVRódão / Associação de Altos Estudos do Tejo: 2000 / 2001 - realização de sondagens arqueológicas no castelo, dirigidas pelo Dr. Fernando Branco, da Universidade de Évora; DGEMN: 2004 / 2005 / 2006 - obras de recuperação da torre e das muralhas que incluíram a construção de escada interior e piso no interior da torre, para adaptação a miradouro; consolidação das muralhas; arranjo dos exteriores; 2006 - acompanhamento e escavação arqueológica na torre e interior do recinto muralhado, dirigida pelo Dr. Pilar Reis.

Observações

*1 - O castelo tem classificação conjunta com a Capela de Nossa Senhora do Castelo (v. IPA.00009904). *2 - Existem várias lendas associadas ao Castelo de vila Velha de Ródão, estando a mais conhecida relacionada com o rei Vamba ou Maldição de Ródão. A lenda alude ao amor entre uma rainha cristã, por vezes identificada como mulher do rei Vamba, outras como princesa Urraca, residente no castelo, com um rei mouro, que vivia no outro lado do rio, nos Castelinhos da Senhora da Graça, a norte de Nisa. Os amantes namoravam sentados em cadeiras de pedra situadas em cada um dos lados das Portas do Ródão, enquanto o rei cristão andava na caça ou na guerra. Com o tempo, o rei mouro decidiu raptar a rainha cristã e, para isso, escavou um túnel, com início no Buraco da Faíopa (mina antiga situada na encosta ocidental da serra de São Miguel), para passar por baixo do rio. Contudo, falhou o seu propósito e o túnel terminou a grande altitude, no morro sul das Portas de Ródão, onde existe uma cavidade denominada Buraca da Moura. O rei mouro acabou por fugir com a amante, que atravessou o rio sobre uma teia de linho, mas o rei Vamba conseguiu recuperar a mulher, a qual é julgada em tribunal familiar e condenada à morte por despenhamento, presa a uma mó. Durante a queda, a rainha lançou a seguinte maldição sobre Ródão: "nesta terra não haverá cavalos de regalo, nem padres se ordenarão e putas não faltarão". Por onde a rainha passou, arrastada pela mó, nunca mais nasceu mato. *3 - Segundo o Tombo elaborado em 1505, a comenda de Vila Velha de Ródão tem "huu castello junto do Rio do Tejo em huua serra alta e chama sse ho castello de santa maria e tem huua torre de canto laurado.e sohia teer dous sobrados e ora nem tem nenhuu e tem huua çerca de pedra e barro derribada per partes". *4 - Segundo a tradição local, o granito utilizado na construção do castelo veio do sítio do Castelejo de Gardete, onde existe um imponente afloramento granítico, único no concelho de Vila Velha de Ródão.

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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