Bairro de Casas Económicas para Funcionários dos Caminhos-de-Ferro Portugueses / Bairro Camões

IPA.00007840
Portugal, Santarém, Entroncamento, Nossa Senhora de Fátima
 
Conjunto arquitetónico residencial unifamiliar. Habitação económica de promoção pública estatal (CP, Caminhos de Ferros Portugueses). Bairro de Casas Económicas de média dimensão, composto por casas geminadas unifamiliares térreas e de dois pisos, com logradouro no tardoz, e fachada principal orientada para a rua. Inclui edifícios de equipamento coletivo: escola primária.
Número IPA Antigo: PT031410020004
 
Registo visualizado 2227 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício  Residencial unifamiliar  Habitação económica  Promoção pública estatal  

Descrição

O Bairro define-se como uma unidade, perfeitamente autonomizada em relação à sua envolvente. A partir da EN3 acede-se diretamente a um edifício escolar e a um conjunto de sete casas; dois pilares assinalam a entrada para o bairro, e permitindo o seu encerramento ao trânsito viário. A Rua Direita desenvolve-se a partir daí, no sentido da maior extensão do terreno, cruzada pelos arruamentos secundários, a Rua Detrás da Escola e a Rua da Luz, numa estrutura em espinha. Todas as ruas terminam em impasses e são constituídas por uma faixa de rodagem central ladeada por passeios em calçada e alinhamentos de árvores plantadas dentro de caldeiras. Das parcelas assim definidas, aquela que se situa no extremo NO. é ocupada pela Escola Camões (v. IPA.00014294); as restantes são divididas em lotes destinados a casas de habitação. As casas são implantadas de modo a deixar uma faixa estreita de terreno livre entre as fachadas e os arruamentos; o logradouro, na retaguarda, é sempre mais vasto. Não existem alinhamentos rigorosos de fachadas nem uma regra absoluta para a orientação do fogo: nalguns casos as casas situadas em lotes de gaveto apresentam a fachada frontal, mais larga, para a rua principal; noutros a entrada volta-se para as ruas secundárias. O perímetro e a volumetria de cada casa variam dentro de um número alargado de tipos, sem uma ordem comum imediatamente reconhecível. O conjunto residencial é composto por 18 edifícios com um ou dois pisos (neste caso, em duplex). 14 são formados por 2 casas adossadas; 4 são casas isoladas (situadas em lotes de final de rua). Do total de 32 habitações, 18 tinham, originalmente, 4 compartimentos, 10 eram habitações com 5 compartimentos e apenas 4 tinham 6 compartimentos. A cozinha, incluída nesta contagem, era o único espaço diferenciado; todos os restantes eram semelhantes quanto a área, acabamentos e condições de acessibilidade e de relação com o exterior. As instalações sanitárias estavam equipadas apenas com lavatório e retrete, situando-se sempre no piso térreo, num volume adossado com acesso pelo interior da cozinha. Uma série de elementos caracterizadores, comum a todas as casas, assegura a unidade do conjunto. Todas as coberturas são em telhado de telha cerâmica "marselha" com beirado em telha de canudo. São predominantes os telhados com duas águas; nalgumas casas existem corpos com água única e/ ou águas-furtadas. As chaminés têm secção rectangular e um remate superior de recorte ornamental, separado com cinta em telha. A entrada de cada casa é assinalada e protegida por alpendre em telha sobre asnas de madeira. São sempre idênticas as portas exteriores e os vãos de janela: rectangulares regulares, verticais, à excepção das janelas de instalações sanitárias e de escadas e das ventilações dos sótãos sob os telhado (neste caso, óculos circulares com molduras em tijolo maciço e preenchimento em reixa). Uma mudança na cor do acabamento do paramento, sem mudança de plano, indicava o embasamento e prolongava-se nos ângulos, figurando pilastras rematadas superiormente por um elemento saliente em pedra, colocado à altura das vergas das janelas, um pouco abaixo do nível do beirado. Originalmente todos os lotes tinham uma vedação em grelhas de betão moldado sobre murete de alvenaria e cancela de entrada em madeira maciça (remate superior em volutas, reixa quadriculada nas áreas de preenchimento; ferragens em chapa metálica pintada fixadas com cravos), enquadrada por pilaretes coroados por esferas.

Acessos

EN3; Rua Direita

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Implantado numa planície, no limite do aglomerado urbano do Entroncamento. Ocupa um terreno de perímetro triangular, delimitado a N. pela estrada nacional para Torres Novas, a SE. por uma zona de apoio a funções ferroviárias da Estação do Entroncamento, e a SO. por terrenos agrícolas.

Descrição Complementar

Para além das placas em azulejo com os nomes das ruas e os números de cada casa, o projecto incluía um conjunto de outros elementos que contribuíam para a definição do carácter do bairro, num verdadeiro exercício de desenho total. Um lampião e uma fonte colocados nos dois cruzamentos de ruas e os pilares que marcavam a entrada do conjunto (reproduzindo em grande escala um carril de caminho de ferro, em betão armado) eram pontuações monumentais, populares e exuberantes, símbolos de um ambiente que procurava situar-se entre o urbano e o rural. Num dos tramos do muro alto que envolve o lote ocupado pela Escola Camões existe um painel em azulejo cerâmico vidrado com a inscrição "C.ª dos Caminhos de Ferro Portugueses. Divisão de Construção. projectou e construiu. 1926. Arquitectos: Luis da Cunha e Cottinelli Telmo".

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: José Ângelo Cottinelli Telmo, Luís Cunha.

Cronologia

1859 - fundação do Entroncamento, quando as linhas de caminho de ferro do Norte e do Leste começaram a ser prolongadas para além da Ponte da Asseca: o ponto de divergência dos dois traçados foi situado num território completamente despovoado; 1890 - o aglomerado tinha ainda apenas uma escassa dezena de casas; séc. 20, primeiras décadas - com o gradual desenvolvimento da rede de caminhos de ferro, o Entroncamento viria a transformar-se num dos principais centros ferroviários do país, e portanto a localização mais adequada para a instalação de oficinas e depósitos de material circulante, aqui se verificando as maiores concentrações de funcionários residentes ou em deslocação, ocupados nas tarefas de construção e manutenção da rede: por este motivo, a Companhia faria construir aqui habitações (permanentes ou temporárias) destinadas ao seu pessoal e os equipamentos para a sua assistência e apoio (armazém de víveres, cantina, escola, posto médico e dispensatório), procurando a CP assegurar aos ferroviários e às suas famílias as condições mínimas de subsistência, o acesso aos cuidados básicos de saúde e uma educação elementar; 1919 - inauguração do bairro de " Vila Verde ", o primeiro promovido pela CP para os seus funcionários e construído no Entroncamento: comporta, nessa primeira fase, habitações para vinte famílias; 1924 / 1925 - inicia-se o plano de construção do Bairro Camões; 1925 - 1927 - elaboração dos projetos para as casas de habitação; 1926, fevereiro - data do projecto da fonte; 1926, julho e setembro - são projectados os pilares da entrada; 1927, janeiro - projeto do pilar lampião; 1927 - conclusão do bairro.

Dados Técnicos

Paredes exteriores autoportantes

Materiais

Pedra; reboco; cerâmica: tijolo, telha de canudo, telha marselha; betão moldado; madeira pintada, sinalização (nomes de rua e números de casa) em azulejo cerâmico vidrado; passeios laterais em calçada à portuguesa; faixa de rodagem com rega asfáltica

Bibliografia

TELMO, Cottinelli, CUNHA, Luís da - Escola e Bairro Camões no Entroncamento, Arquitectura, n.º 4, Abril 1927, pp. 50-56; Entroncamento. Pilar-Lampeão no cruzamento de duas ruas, Arquitectura, nº 5, Maio 1927, pp. 75-76; [ TELMO, Cottinelli ] Divisão de Via e Obras, Memória Descritiva e Justificativa [do Bairro Camões], 25.06.1927, A Obra Moderna da C.P., O Notícias Ilustrado, IIª série, nº 52, 09.06.1929, pp. 20-21; MARTINS, Jaime, Dos Bairros para o Pessoal da C.P., Boletim da C.P., 3º ano, nº 24, Junho 1931, pp. 97-100; MARTINS, João Paulo, Cottinelli Telmo. A Obra do Arquitecto (1897-1948). Dissertação de mestrado em História da Arte, Lisboa: FCSH, UNL, 1995. 2 vol.

Documentação Gráfica

C.P.: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID; Espólio Cottinelli Telmo (na posse da família)

Documentação Administrativa

C.P.: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

JPaulo Martins 2002

Actualização

 
 
 
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